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O medo de uma guerra supera as esperanças de uma solução pacífica

O Pentágono assegura que aviões russos violaram o espaço aéreo ucraniano Dirigentes do leste da Ucrânia pedem moderação às forças do Kremlin, paradas a um quilômetro da fronteira, e ao Governo do Kiev, temeroso de uma ‘III Guerra Mundial’

Aumenta a tensão na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.Foto: atlas
Pilar Bonet

As progressivas tensões entre a Rússia e Governos ocidentais afastam as esperanças de uma solução pacífica para o conflito entre as autoridades provisórias da Ucrânia e os federalistas e separatistas pró-russos do leste do país.

As vozes cada vez mais irritadas e taxativas dos protagonistas da fracassada conferência de 17 de abril em Genebra – Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Ucrânia – foram ouvidas em fóruns internacionais, aos quais praticamente não chegam as posições das províncias orientais da Ucrânia, como Donetsk, Lugansk e Carcóvia, cujos políticos, os antigos pesos-pesados do Partido das Regiões (PR), estão ainda traumatizados pelo abandono em que foram deixados pelo seu líder, o ex-presidente Viktor Yanukovich, oriundo de Donetsk.

“O essencial é impedir um conflito armado no coração da Europa. Se Kiev não pode encontrar uma linguagem comum com a Rússia, a UE deve encontrá-la e dialogar com Moscou”, afirma Serguei Bogachov, secretário da prefeitura de Donetsk e chefe do grupo do PR na Câmara Municipal. “Não se trata de fazer concessões, mas sim de evitar um conflito armado em que todos nós – a Ucrânia, a Rússia e a UE –sairemos perdendo e nos debilitaremos, caso ocorra”, diz o político.

Bogachov, que é também economista, acredita que um conflito armado na Europa tornará o continente “menos competitivo” e “beneficiará só os que estão no outro lado do Oceano, nos EUA, e também a China e os países asiáticos”.

A Ucrânia considerará como “invasão” qualquer tentativa russa de penetrar em seu território

“A Europa não é inocente, mas este não é o momento de procurar culpados, e sim soluções. É preciso ter o desejo de entrar num acordo”, adiciona o funcionário municipal, que mantém um diálogo com os dirigentes da autodenominada República Popular de Donetsk (RPD). Esse canal de comunicação, diz ele, vem evitando enfrentamentos entre os federalistas e independentistas pró-russos e os partidários de uma Ucrânia como Estado unitário, que também se manifestaram na cidade. Além disso, os manifestantes que ocupam a sede da Administração provincial concordaram em entregar dois andares do edifício para que seus serviços administrativos possam voltar a funcionar, afirmou Bogachov.

Ao contrário da Administração provincial, a prefeitura de Donetsk funciona sem problemas, mas milicianos da OPLOT, uma das organizações pró-russas em que a RPD se apoia, reforçaram o policiamento em torno do prédio.

A localidade de Slaviansk, 117 quilômetros ao norte de Donetsk, continua sendo o principal foco de tensão entre os federalistas e separatistas, de um lado, e as forças leais a Kiev, participantes da chamada “operação antiterrorista”, cuja realização já foi criticada pela Anistia Internacional. Kiev anunciou na sexta-feira sua intenção de não invadir, mas sim de cercar totalmente Slaviansk para impedir que os amotinados recebam reforços, segundo o chefe interino da Administração Presidencial, Serguei Pashinski. Por sua vez, o diretor do centro antiterrorista, subordinado do Conselho de Segurança e Defesa da Ucrânia, Vasili Krutov, queixou-se das condições de trabalho dos participantes da operação, citando especificamente a presença de “simpatizantes” e policiais que se bandearam para os amotinados.

As mortes da quinta-feira em Slaviansk, uma cidade de 120.000 habitantes, incluem um jovem com 18 anos recém-completados, em incidentes que motivaram uma onda de solidariedade na região, segundo fontes da OPLOT. Pessoas de todas as províncias agora se dirigem a Slaviansk, movidas por pulsões mais viscerais do que as discussões de salão sobre a forma do Estado e o caráter co-oficial da língua russa, segundo relato de fontes da OPLOT a esta correspondente.

“Não é possível fazer uma operação limpeza em Slaviansk com poucas vítimas”, afirma Bogachov, recomendando ao Governo central “que não impeça o referendo de 11 de maio, porque uma coisa é fazer uma consulta, e outra é colocar seus resultados em prática. O mais importante é que não haja vítimas”, diz.

Kiev cerca Slaviansk para impedir que os amotinados recebam reforços

Distantes do epicentro da tensão, os políticos ocidentais debatem sobre a possibilidade de impor novas sanções à Rússia. França, Alemanha, EUA, Reino Unido e Itália acusaram Moscou de não cumprir o compromisso, firmado em Genebra, de desarmar os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, segundo a BBC.

Em Kiev, a Ucrânia advertiu que considerará como uma “invasão militar” qualquer tentativa de penetrar em seu território. A Rússia iniciou exercícios militares ao longo da sua fronteira com a Ucrânia e, segundo os chefes de Defesa do país, as tropas russas se aproximaram a um quilômetro do território ucraniano. O premiê interino da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, acusou por sua vez Moscou de querer “começar a Terceira Guerra Mundial” mediante a ocupação “militar e política” da Ucrânia, num conflito que se estenderia por toda a Europa.

Na sexta-feira à noite, um porta-voz do Pentágono assegurou que aviões russos haviam penetrado “várias vezes” no espaço aéreo ucraniano nas 24 horas anteriores. “Posso confirmar que várias vezes nas últimas 24 horas aviões russos entraram no espaço aéreo da Ucrânia”, disse o coronel Steven Warren, citado pela Reuters e France Presse. O porta-voz reiterou o apelo para que a Rússia “dê passos imediatos para reduzir a escalada da situação”.

Capturados sete membros da OSCE e cinco militares ucranianos

Sete membros da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) foram capturados, supostamente por milicianos pró-russos, na cidade de Slaviansk, no leste da Ucrânia, informou o ministério ucraniano do Exterior nesta sexta-feira.

“Na entrada para Slaviansk (...), desconhecidos detiveram um ônibus com 13 passageiros. Entre eles se encontravam 7 representantes da OSCE, 5 militares das Forças Armadas de Ucrânia e o condutor", afirmou o Ministério em nota.

O representante da Ucrânia no Conselho de Segurança da ONU, Yuri Sergueiev, relatou que nos veículos russos concentrados na fronteira está escrita a frase “missão pacificadora”. “Do sudoeste observamos uma grande concentração de artilharia, tanques e efetivos humanos dos distritos do Centro e Norte, e também tanques, artilharia e equipamentos ‘Grad’ [um tipo de míssil terra-ar], uma arma muito perigosa que eles utilizaram na Chechênia”, disse Sergueiev, segundo o serviço ucraniano da BBC. “A Ucrânia, incluídos seus cidadãos russófonos, não precisa de uma ingerência dos supostos ‘pacificadores da Federação Russa’”, disse o porta-voz do ministério de Relações Exteriores em Kiev, Alexandr Perebiinis.

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