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Os EUA criaram o ‘Twitter cubano’ na Costa Rica sem conhecimento do Governo

Autoridades locais advertiram sobre a inconveniência de impulsionar a rede social batizada como ‘ZunZuneo’ na ilha

Uma casa próxima ao Estádio Nacional de futebol na capital da Costa Rica, no setor conhecido como La Sabana, foi o refúgio que usaram os Estados Unidos para o lançamento do sistema, considerado agora clandestino, de mensagens telefônicos que o país manteve ativo durante dois anos entre a população cubana para influir contra o Governo da Ilha. Isto não era sabido pelo Executivo da Costa Rica, que reagiu um tanto irritado através de seu ministro de Relações Exteriores, Enrique Castillo.

As autoridades da Costa Rica alegaram que a operação da sociedade Creade Costa Rica S. A., filial dela consultora Creative Associates Inc., foi ocultada. Com sede em Washington D. C., a Creade foi subcontratada pela agência de cooperação dos Estados Unidos (USAID) para executar o plano chamado Zunzuneo, como revelou nesta terça-feira uma reportagem do diário local La Nación.

A publicação mostra três documentos prévios a 2010 nos quais autoridades do Ministério de Relações Exteriores costarriquenho recusam os procedimentos propostos pela Embaixada dos Estados Unidos. “Poderia gerar uma situação politicamente inconveniente, já que caberia a interpretação de que se estaria violentando o princípio de não intervenção nos assuntos de outros países”, se lê em uma das respostas do ano de 2009, meses antes de que começassem as operações do chamado "twitter cubano" em 2010.

O "twitter cubano" é um sistema cuj desenvolvimento foi revelado pela agência Associated Press(AP). Promovido pela Agência Internacional dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID), esta rede de mensagens atingiu mais de 40.000 usuários entre 2010 e 2012, com a intenção de driblar os controles informativos e a Internet, e assim gerar dissidência no Governo de Raúl Castro, segundo a publicação de AP deste 4 de abril.

O que o chanceler Enrique Castillo não sabia era que esta rede de mensagens era operada no seu território. “Não podemos aprovar isso em nenhum caso. Isto não está bem” respondeu o ministro, que procurou não dizer que a Embaixada tenha ocultado a informação da Costa Rica. “Não usaria esse qualificativo. A Embaixada não tinha a obrigação de revelar o conteúdo do programa. Não é função do Ministério supervisionar o que fazem as embaixadas”, respondeu ao diário La Nación. Assim se referiu ao Programa de Intercâmbio Latinoamericano (PILHA), cujo objetivo oficial era aumentar a comunicação entre a sociedade cubana e a de outras nações da região.

A sede diplomática norte-americana nega ter ocultado informação e diz não conhecer as objeções emitidas na época pelo Ministério de Relações Exteriores da Costa Rica. “Temos comunicações internas que demonstram que membros da Embaixada informaram o Ministério sobre o programa”, rebateu um servidor público da sede diplomática, sem entrar em mais detalhes nem mostrar esses documentos.

A Costa Rica cobrou uma explicação à Embaixada, mas fontes diplomáticas em San José informam que agora, a duas semanas da transição do Governo costarriquenho, há poucas possibilidades de ir muito além na queixa contra os Estados Unidos, país com o qual possui uma velha tradição de cooperação política.

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