O pêndulo de Jimmy Savile
Depois das graves acusações contra o falecido apresentador britânico, tem início uma onda de denúncias de abusos sexuais contra famosos O político conservador Nigel Evans e o ator Bill Roache são alguns dos que estiveram na mira, embora tenham sido absolvidos posteriormente
No outono local de 2012, justo um ano após a sua morte, os britânicos descobriram que Jimmy Savile não era o legendário herói da rádio e da TV que haviam venerado durante décadas e a cujo funeral em Leeds compareceram centenas de pessoas. Inteiraram-se de que o homem que tinha feito eles rirem e sonharem desde os anos 70 na BBC era, na verdade, um pervertido que abusava sexualmente de centenas de crianças aproveitando-se de sua fama e de seu dinheiro.
O caso Savile não só trouxe à tona a memória das centenas de mulheres que sofreram seus abusos ainda crianças, como também provocou uma onda de acusações contra outros famosos, com frequência envolvendo a denúncia de abusos que ocorreram trinta ou quarenta anos atrás. O pêndulo se moveu da impunidade às denúncias em série.
Mas vários desses famosos denunciados acabaram sendo absolvidos, o que provocou um ácido debate público. Por um lado estão aqueles que acham que, pressionada pela inação que derivou no caso Savile, a polícia e a promotoria britânicas receberam denúncias de abusos que não se sustentaram. Os que estão desse lado exigem que se acabe com o direito ao anonimato dos denunciantes de abusos que acabam perdendo as suas causas nos tribunais. Mas as associações que defendem as vítimas de abusos sexuais temem que isso iniba muitas mulheres e menores e ajude a manter a impunidade dos que cometem os abusos. Temem, concretamente, que o pêndulo de Savile volte a mudar de direção.
Entre os denunciados que acabaram sendo absolvidos está o deputado conservador Nigel Evans. Então vice-presidente da Câmara dos Comuns, Evans revelou ser homossexual em dezembro de 2010 e era conhecido no Parlamento pelo seu gosto pela bebida e pelos mais jovens. Mas muitos ficaram boquiabertos ao saber que era acusado de estupro e vários outros delitos de violência sexual. O deputado, que sempre se disse inocente, pediu demissão do cargo e deixou o grupo parlamentar conservador.
Embora tenha sido declarado inocente posteriormente, sua vida privada se converteu no grande assunto das rodas de fofoca da classe política e ele perdeu todas as suas economias para pagar a sua defesa, que custou 130.000 libras (cerca de 490 mil reais). Paradoxalmente, isso é culpa de seu próprio partido, que aprovou uma lei que impede que os acusados que foram declarados inocentes possam exigir que o Estado reembolse o dinheiro que gastaram para comprovar sua inocência.
O caso de Evans desatou um grande debate porque, apesar de ele não ter cometido delitos sexuais na gravidade de que foi acusado, soube-se que alguns de seus comportamentos quando bebia um copo a mais foram de duvidosa aceitação no recinto parlamentar. A deputada conservadora Sarah Wollaston, que incentivou dois dos rapazes a denunciar o seu colega, disse depois que estava sendo vítima de uma caça às bruxas e reafirmou que fez o certo.
Outro caso polêmico foi o do ator Bill Roache, protagonista da telenovela Coronation Street desde o seu início, em 1960. Roache, que está prestes a completar 82 anos, foi acusado no ano passado de ter abusado de uma adolescente de 15 anos em 1967 e de cinco crimes sexuais contra outros com idade entre 12 e 16 anos. Ele sempre negou com grande veemência todos as acusações e finalmente foi absolvido em 6 de fevereiro último. Ao sair nesse dia dos tribunais, Roache declarou: “Nestes casos, nunca há ganhadores e acho que todos deveríamos ser bem mais compreensivos”.
O mesmo ocorreu dias depois com o apresentador Dave Lee Travis, de 69 anos, que foi declarado inocente de 14 acusações de abusos sexuais, embora ainda esteja pendente da resolução de outras duas acusações.
O também ator Michael Le Vell, de 50 anos, foi declarado inocente em fevereiro de 2013 de 19 acusações de abusos sexuais. A promotoria renunciou a processá-lo em 2012, mas depois mudou de opinião.
Outra personagem famosa, o publisher Max Clifford, de 71 anos, acaba de ser julgado por 11 acusações de abusos sexuais e o júri já se reuniu várias vezes para decidir qual é o veredicto. Clifford sustenta que as acusações contra ele só têm um objetivo: conseguir dinheiro.
O chefe da Policía Metropolitana, Bernard Hogan-Howe, prometeu que a corporação tratará “com mais rigor” as acusações históricas de abusos sexuais.
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