A Espanha suspende a venda de material antidistúrbios ao Governo venezuelano
Trata-se de uma medida unilateral tomada por tempo indefinido Do início de fevereiro, o país vive uma espiral de violência que deixou 39 mortos
O Governo espanhol suspendeu cautelarmente e por tempo indefinido a exportação de material antidistúrbios à Venezuela, diante a espiral de violência que vive o país do começo fevereiro e que já deixou 39 mortos, 550 feridos e mais de 2.000 presos, segundo dados de Anistia Internacional.
A decisão foi adotada pela Junta Interministerial Reguladora do Comércio Exterior de Material de Defesa e Duplo Uso (JIMDDU) –na qual estão representados os departamentos de Assuntos Exteriores, Defesa, Interior, Comércio ou Fazenda– no dia 6 de março passado, mas havia se tornado pública.
Trata-se de uma medida unilateral, reconhecem fontes diplomáticas, já que até agora não existe nenhum embargo internacional à Venezuela. No entanto, a JIMDUU avalia uma série de critérios na hora de autorizar as vendas de material militar, policial ou de duplo uso e um deles trata de situações de instabilidade interna e da possibilidade de que possa ser usada para a repressão.
A Venezuela é um dos primeiros clientes das empresas espanholas que fabricam material antidistúrbios. No primeiro semestre do ano passado, último período com estatísticas oficiais, comprou “colorantes para a fabricação de artifícios pirotécnicos não letais” por cerca de 49.000 reais; mas os contratos aprovados e pendentes de execução no primeiro de julho chegavam a oito milhões, mais de 50% do total autorizado destes equipamentos para todo o mundo.
Em 2012, o regime de Caracas comprou material policial de fabricação espanhola por 1,38 milhão de reais, correspondentes a “cortes inertes para fabricar artifícios pirotécnicos não letais, aerossóis de defesa”. As operações autorizadas somaram 5,19 milhões de euros. Os compradores foram as Forças de de Segurança.
A diplomacia espanhola está atuando com soma discrição na crise venezuelana, consciente das delicadas relações entre os dois governos e dos importantes interesses da Espanha no país.
Além das relações econômicas (mais de 100 empresas espanholas estão estabelecidas ali), quase 200.000 espanhóis vivem na Venezuela. Desde que começaram os protestos, cerca de 30 espanhóis foram presos, a maioria com dupla nacionalidade, e um hispano-venezuelano, Wilder Carballo Amaya, morreu no último dia 24 de fevereiro após ser atingido por um disparo na cabeça durante uma manifestação. Fontes de Exteriores asseguram que Caracas não colocou obstáculos para que os presos possam receber assistência consular e que estão aguardando o resultado da investigação sobre a morte de Carballo. A Espanha advoga por uma saída dialogada à crise entre o Governo e oposição.
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