O Real Madrid vai do trivial ao requintado
Um gol de Illarra ativa a equipe do técnico Ancelotti e mantém os merengues vivos na luta pelo título
Há um território inóspito em que as equipes com máximas aspirações se movem como sardinhas no campo. É o território do trivial, que transforma os jogadores de futebol em seres anônimos que perambulam pelo gramado como ônibus na segunda-feira de manhã, com o motorista sonolento e os passageiros dormindo. Esse era o território do Real Madrid, jogando ao ritmo de Xabi Alonso e deixando que Modric desenhasse, pintasse, limpasse e assinasse todo o quadro ofensivo. Um território que oferecia à Real Sociedad as melhores condições para pintar sua casa a seu gosto. Com Canales de falso nove e com Vela e Griezmann como facas ansiosas para cortas manteiga, se enfrentavam dois olhares muito distintos da partida. Do Madrid se via as sobrancelhas, sinal de um olhar maligno, e da Sociedade se notava a alegria no rosto de quem olha o horizonte no mar. Ao final da partida, o olhar do Madrid era limpo e o da Sociedad escuro como uma noite de inverno. Entre eles, quatro gols que tiraram um do trivial e colocaram o outro no túnel do tempo.
REAL SOCIEDAD, 0; REAL MADRID, 4
Real Sociedad: Bravo; Carlos Martínez, Mikel González (Rubén Pardo, min. 74), Iñigo Martínez, José Ángel (Ansotegi, min. 17); Zurutuza (Agirretxe, min. 62), Markel Bergara, Elustondo, Canales; Vela e Griezmann. Não utilizados: Zubikarai; Ros, Castro e Seferovic.
Real Madrid: Diego López; Carvajal, Pepe, Sergio Ramos, Nacho; Modric, Xabi Alonso (Casemiro, min. 87), Illarramendi; Bale (Morata, min. 86), Isco (Di María, min. 81) e Benzema. Não utilizados: Casillas; Varane, Coentrão e Willian José.
Gols: 0 x 1, min. 44, Illarramendi; 0 x 2, min. 65, Bale; 0 x 3, min. 85, Pepe; 0 x 4, min. 88, Morata.
Árbitro: Hernández-Hernández. Mostrou cartão amarelo para Xabi Alonso, Mikel González, Illarramendi e Iñigo Martínez.
Cerca de 30.000 espectadores no Anoeta.
O tráfego era fluente, mas sem graça, como se houvesse sinais de trânsito em campo. O da Sociedad era colocado no vermelho por Markel Bergara, puro trabalhador, sabedoria para evitar que Modric pudesse cavalgar, pensar, atuar. O croata tinha um décimo de segundo para fazer tudo ao mesmo tempo. O vermelho do Real Madrid era acesso por Illarramendi, mais preocupado com a garagem de sua equipe do que com o portão de saída. Ainda assim, Vela circulava com piloto automático, porque poucos jogadores são capazes de circular com sua velocidade olhando o jogo e com a bola costurada nos pés. Por isso, a Sociedade assustou quando o Madrid cochilava em estado demasiado de autocomplacência parecido à indiferença.
Mas qualquer pedra fura um sapato. Quando o Madrid ainda bocejava, o lateral-esquerdo da Real Sociedad José Ángel arrancou no dois contra um pelo lado do campo. Coisas do tráfego. Podia parecer lanternagem e pintura, mas o dano era maior. Arrasate colocou em campo outro zagueiro, Ansotegi, e improvisou Mikel González, experiência pura, no lado esquerdo, com vários danos colaterais: González é zagueiro e ainda mais destro, o que reduzia o poder defensivo da Sociedad e o ofensivo passava a inexistir por esse setor do campo. Automaticamente Bale trocou de lado para combater as subidas de Carlos Martínez ou para jogar nas suas costas. O que parecia uma anedota se converteu em um argumento, porque rapidamente o Madrid descobriu que havia vias de serviço na autoestrada do Anoeta.
A Sociedad havia vivido alguns momentos de glória por uma jogada de Vela (anulada por impedimento mas defendida por Diego López) e por uma cabeçada de Griezmann. Parecia pouca gasolina para seu passeio de luxo e um prêmio pequeno para sua ambição. Mas a lesão de José Angel, sem reserva no banco, deixou o carro sem copiloto. Quase no intervalo, quando parecia que tudo estava em espera, Benzema caiu pela ponta, quebrou a defesa, chutou, Bravo defendeu e apareceu... Illarramendi, que era vaiado insistentemente por uma parte do Anoeta desde o princípio até o fim. Castigo duplo para a Sociedad, que entendia como injusta a ultrapassagem e que acima tinha um nome próprio muito conhecido.
Um acidente, o de José Ángel, havia mudado a partida e o volante deu ao Madrid o controle do carro. Ninguém entendeu o que aconteceu, mas o gol tirou o Madrid do trivial. Estava preso numa nuvem, quando de repente viu-se sujeito a um gol de Illarramendi, ainda vivo na Liga, apesar das vitórias de Atlético e Barcelona, e com uma partida a desfrutar em vez de uma partida por sofrer. Ancelotti viu seus planos se cumprirem: manter o pulso da Liga e descansar os jogadores em que mais confia para Dortmund, uma vez que os alemães são sempre imprevisíveis. Nacho, Illarramendi e Isco deram um alívio ao treinador. Ainda mais quando Claudio Bravo concedeu um presente a Bale para que marcasse após seu tiro de meta descuidado. Antes, o Madrid já havia tropeçado duas vezes com a trave quando já estava resolvido na partida. E Pepe marcou em um escanteio e Morata fez mais um em seu único toque na bola. O trivial, ao final, ficou só no princípio.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.