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O regime venezuelano isola os três oficiais acusados de conspirar contra Maduro

O alto comando militar, que respaldou Maduro pela segunda vez em quase seis semanas de distúrbios, anunciou em nota que os conspiradores estão à disposição da procuradoria militar

O presidente Nicolás Maduro.
O presidente Nicolás Maduro.Fernando Llano (AP)

Os três oficiais graduados da Aviação Bolivariana acusados de conspirarem para derrubar o presidente Nicolás Maduro permanecem isolados desde segunda-feira na sede da Direção de Inteligência Militar, em Caracas. As múltiplas versões sobre os verdadeiros motivos da sua detenção se espalharam nesta terça-feira à velocidade da luz, sem um critério único. Há um fato, entretanto, em torno do qual coincidem todos os conhecedores do mundinho militar: sem a colaboração do Exército, a Aviação não tem capacidade nem poder de fogo para liderar um movimento para depor o Governo.

Veja-se o caso do golpe de Estado de abril de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez. Os generais e almirantes que assumiram a liderança das Forças Armadas naquela ocasião não tinham cargo nem comando de tropa. O movimento foi esmagado horas depois de Pedro Carmona Estanga, o empresário a quem foi entregue a presidência, dissolver todos os poderes públicos mediante um decreto ditatorial. Chávez voltou ao poder apoiado pelos militares com comando de tropa.

O oficial de maior patente à frente da conspiração é, segundo o diário chavista Últimas Notícias, um general-de-divisão chamado Oswaldo Hernández Sánchez. Do movimento também fazem parte os generais-de-brigada Carlos Alberto Millán Yaguaracuto e José Daniel Machillanda Díaz, ambos detidos. A advogada Rocío San Miguel, diretora da ONG Controle Cidadão, tentou visitá-los na noite da segunda-feira, mas foi barrada após quarenta minutos de espera.

San Miguel pôde comprovar nesse local que não é totalmente correto o que disse Maduro durante a recepção aos chanceleres da missão da UNASUL. Os oficiais permaneciam detidos, mas até o final da manhã de ontem não haviam sido transferidos para os tribunais militares, conforme anunciara o presidente. Se o Governo quer preservar as formalidades, deveria iniciar um julgamento preliminar de mérito, conforme prevê o artigo 266 da Constituição Bolivariana, com o que o Tribunal Supremo de Justiça poderia, pela patente que ostentam, declarar se há ou não base para processá-los. Na noite da segunda-feira, possivelmente alertado sobre seu erro, Maduro corrigiu-se e disse que os generais estavam submetidos a um conselho de investigação, um procedimento próprio do foro militar, que qualificará as supostas infrações ao regulamento militar que os oficiais possam ter cometido.

Um comunicado divulgado na manhã da terça-feira pela cúpula militar apontou na mesma direção, manifestando respaldo a Maduro pela segunda vez em pouco menos de seis semanas. Os comandantes disseram que a Procuradoria Militar está a par do movimento e determinou que os envolvidos permaneçam presos. “Frente a estes fatos, a Força Armada Nacional Bolivariana se mantém monolítica, e em nada se reduz a nossa convicção democrática.”

Hernández Sánchez chegou a ser vice-ministro da Educação. San Miguel disse não entender sua detenção, já que ele foi sucessivamente promovido sempre que chegava o seu momento. O mesmo se aplica a Machillanda Díaz e Millán Yaguaracuto, que também foram promovidos rapidamente e eram vistos como oficiais chavistas. Essas promoções eram decididas por Hugo Chávez após ouvir recomendações de seus assessores.

Nem o canal do Estado nem a imprensa oficial revelaram os nomes dos envolvidos. A abortada conspiração é apenas uma menção menor em meio ao júbilo que hoje embarga o chavismo. Nesta quarta-feira completam-se 20 anos da saída de Hugo Chávez da prisão, onde esteve por causa da intentona golpista de 4 de fevereiro de 1992, fato que lhe deu grande exposição perante a opinião pública mundial. A emissora Venezuelana de Televisão transmitia todo tipo de propaganda para exaltar o culto à personalidade do seu líder: uma menina de seis anos declamando poemas, manifestantes declarando amor eterno ao caudilho e entrevistas com populares recordando o momento da sua saída da prisão, vestindo um traje típico venezuelano. “Viva Chávez para sempre”, gritavam os entrevistados.

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