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A “guerra” entre Ronaldo e Romário agita a polêmica pela organização da Copa

A novela de críticas e insultos entre os dois ex-centroavantes gira em torno da organização do evento

Romário e Ronaldo quando eram amigos em 2011.
Romário e Ronaldo quando eram amigos em 2011.AFP

O ambiente de recriminações que cerca a preparação para a Copa do Mundo no Brasil, muito distante da imagem alegre e festiva que o país exportava para o exterior até recentemente, tem um novo sintoma no amargo enfrentamento público mantido nos últimos dias por dois dos seus mais bem-sucedidos e queridos ex-jogadores: Romário de Souza Faria e Ronaldo Luís Nazário de Lima. Artilheiros decisivos nas duas últimas Copas conquistadas pela seleção (1994 e 2002, respectivamente), amigos no passado, representam agora dois papéis bem diferenciados dentro da opinião pública brasileira, uma metáfora da lacuna ideológica que divide um povo para o qual, nas ruas, já nem sequer é unânime o desejo de que seu país erga pela sexta-feira a Copa no próximo mês de julho.

A novela de críticas e insultos entre os dois ex-centroavantes gira em torno da organização do evento e da polêmica distribuição de verbas públicas, o que no último ano motivou uma longa série de manifestações, supostamente ainda não encerradas, nas principais cidades do país. Ronaldo, maior artilheiro da história das Copas, ocupa desde 2011 um lugar de destaque no Comitê Organizador (sem salário oficial), ao passo que Romário é deputado federal desde aquele mesmo ano e, nos últimos tempos, se tornou em feroz crítico da organização do torneio. “Como cidadãos brasileiros, especificamente em relação à Copa do Mundo, estamos em lados opostos”, disse Romário em nota divulgada nesta semana, na qual criticava muito duramente, por exemplo, que fossem gastos “um bilhão de reais na reforma de um estádio como o Maracanã, enquanto se enxerga ao redor deste mesmo estádio hospitais sucateados, escolas precárias e transporte público de má qualidade”.

Embora o hoje deputado (apelidado de Baixinho, por sua estatura) não tenha dedicado ao seu ex-amigo Ronaldo os duríssimo insultos que reservou aos dirigentes da FIFA há duas semanas (“Blatter é um ladrão, corrupto e filho de puta”, afirmou), ele se voltou diretamente contra o Fenômeno ao acusá-lo de descumprir sua promessa de doar 32.000 ingressos da Copa para pessoas com deficiências. Romário tem uma filha com síndrome de Down, e uma das suas principais causas no Congresso tem sido a melhora das condições para os brasileiros com problemas similares.

“É lamentável ver o Romário, mais uma vez, ir a público me responsabilizar por coisas que vão além da minha alçada”, respondeu Ronaldo horas depois, numa extensa mensagem publicada no Facebook. “Se precisar do meu apoio, seja ao menos mais educado da próxima vez”, escreveu, após garantir que não foi ele o autor da promessa, e sim a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ronaldo declarou que, em 2011, fez o que pôde para que a CBF aceitasse doar esses ingressos e, como porta-voz do comitê organizador, divulgou a notícia junto com Romário, mas sem que tivesse sido o responsável pela promessa descumprida. Para o Fenômeno, Romário age guiado por “oportunismo em cima da minha imagem ou ignorância mesmo, não sei”. Ronaldo concluiu sugerindo a Romário que procure no site da CBF os nomes dos dirigentes de quem “você pode (e deve) cobrar”.

Este jornal não conseguiu, ontem, obter comentários da CBF sobre o assunto. Romário, rompido com a FIFA e também com o legendário e governista Pelé, há meses critica os gastos da organização do Copa (cujo orçamento inicial, de 10,2 bilhões de dólares, já aumentou em 10%, segundo o deputado, sem que quantias definitivas sejam conhecidas). Em junho do ano passado, durante a Copa das Confederações, quase um milhão de pessoas saíram às ruas brasileiras para exigir melhoras nos transportes, na saúde e na educação, além de rechaçar os “gastos excessivos” que o país realiza para receber aquela que o Governo chama de “a Copa das Copas”.

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