O clássico deixou o Madrid muito abalado
A equipe branca leva outra virada e cai frente a um Sevilla firme e liderado por Bacca (2x1)
A onda expansiva do clássico afetou o Madrid no Sánchez Pizjuán, onde acabou atrás de Atlético e Barça. Uma reviravolta para uma equipe que no domingo passado amanheceu líder. Agora está a três pontos dos alvirrubros e a dois dos azuisgrená. E com ambos perde no critério de desempate. Em Sevilha começou bem, se desestruturou com o empate de um rival muito defensivo e terminou na lona quando se passou o segundo ato. Bacca, o jogador da noite, se pagou com o dom da oportunidade. Dois bingos nas poucas vezes em que sua equipe se esticou, que manteve sua postura primeiro grudado ao goleiro Beto e logo com ordem e firmeza. O Sevilla já mira alto.
O Real Madrid notou a sacudida da derrota contra o Barça e depois de um início em combustão, com o domínio absoluto, se complicou além da conta depois do empate do Sevilla, que parecia ocasional, porque não havia sinais de fumaça em uma equipe, a andaluza, muito contida na área de Beto. O gol de Bacca, que penalizou uma bola perdida de Alonso que pegou a defensa de calças na mão, disparou a ansiedade. Faltava um mundo pela frente, mas se afobou antes do tempo. Nada a ver com sua encenação de pulso firme.
Sevilla 2 x 1 Real Madrid
Sevilla: Beto; Coke, Nico Pareja, Fazio, Alberto Moreno; Iborra, Mbia, Reyes (Fernando Navarro, m. 75), Rakitic, Marin (Vitolo, m. 71); e Bacca (Gameiro, m. 83). Não utilizados: Javi Varas; Jairo, Cicinho e Trochowski.
Real Madrid: Diego López; Carvajal, Pepe, Varane, Marcelo; Illarramendi (Isco, m. 67), Xabi Alonso, Modric (Morata, m. 90); Bale, Benzema e Cristiano. Não utilizados: Iker Casillas; Nacho, Coentrão, Casemiro e Lucas Vázquez.
Gols: 0-1. M. 14. Cristiano. 1-1. M. 18. Bacca. 2-1. M. 72. Bacca.
Árbitro: José Luis González. Amarelou a Iborra, Marin, Nico Pareja e Bale.
Público: 45.500 espectadores no estádio Ramón Sánchez Pizjuán.
O conjunto de Ancelotti começou adiantado, com Benzema na cara do gol uma e outra vez. O Madrid tinha a partida na sua aba. Percutiam Cristiano e Bale, governava Illarramendi, substituto de Di Maria. O Sevilla estava na sua, com o cobertor até as sobrancelhas, com Reyes e Marin embutidos junto a seus respectivos laterais para bloquear a seu adversário nas pontas. Fechados os lados, Cristiano foi para o eixo central do ataque, tirou o foco de Benzema e o Madrid perdeu o seu astro. Pela passagem central, Ronaldo provocou a falta que deu origem ao gol inicial. O golpe do português ia para o lado direito de Beto, mas Bacca, enfiado na barreira, meteu a mão e desviou a bola para o lado contrário.
O Madrid se impunha em tudo, mastigava o duelo a seu capricho, com Illarramendi ativo e preciso, com Modric mais animado que no clássico. Até o erro de Xabi Alonso. Reyes acelerou e Bacca superou a Diego López, que parou na metade do caminho, em terra de ninguém. De imediato, o colombiano, futebolista vivo e traiçoeiro, combinou outra vez com Reyes e o sevilhano esteve perto da virada. Aí se disparou o pulso do Madrid, que teve mais nervos do que ordem. Com tudo, ao toque de corneta de Cristiano os madridistas encadearam um punhado de ocasiões. Beto, o infortúnio em um chute de CR na trave e a cabeça baixa de Bale – que se esqueceu de Benzema em uma jogada que o francês pedia o passe, não o disparo ao gol em um buraco com pouco espaço – deixaram o Madrid com só um tempo para o remédio. Com muito pouco, o Sevilla tinha meio caminho andado. O plano de Emery era cristalino: ordem defensiva, com uma dupla barragem a frente da área, e confiar em que a roleta giraria a favor de Reyes, Bacca ou Rakitic. Foi precioso.
De volta do intervalo, os locais se importaram ainda menos em ter a bola, uma concessão ao Madrid, que só teve que jogar em direção a Beto. Se mexeu com pouco êxito Marcelo, Bale desapareceu e Benezema não retornou. O Madrid foi mais ortodoxo e minguou sua produção ofensiva. Cristiano queria remar sempre pelo funil central, e Bale se obcecou em disparar sim ou sim, fosse como fosse a jogada. Ancelotti reagiu e aumentou a artilharia com Isco, no lugar de Illarra, o melhor dos meio-campistas. A decisão de Ancelotti é compreensível. Em partidas tão duras, parece lógico que o treinador italiano se decida por manter Xabi Alonso, com mil cicatrizes em duelos duros, ainda que não estivesse em sua melhor noite.
Sem tempo para que Isco se soltasse, apareceu Rakitic, muito contido até então, e tirou as algemas de seus colegas. O croata, jogador de alta categoria, recebeu no meio do campo com Pepe à perseguição em sua nuca. Com uma beleza, de sola, deu um chapéu no português e se conectou com Bacca. O colombiano se desmarcou perfeitamente e Rakitic o deixou frente a Diego López. No foi o melhor golpe de Bacca, mas a bola abriu passagem entre as pernas do desafortunado goleiro. Pelo lado em que se iniciou a jogada não estava Bale, que estava trocando as chuteiras. Quem esteve presente foi Bacca, futebolista sempre substancial em suas intervenções, daqueles que não estão de passagem pelas jogadas. Já contabilizava 14 gols com o Sevilla. A equipe de Nervión sempre teve olho clínico para importar atacantes: Luís Fabiano, Kanouté, Negredo...e agora Bacca, na veia ao que parece. Ele deixou sem alento o Madrid, já no retrovisor do Atlético e do Barça. Depois de 31 rodadas sem arranhões, a passagem dos barcelonistas por Chamartín deixou tão atordoado que em quatro dias está contra as cordas na Liga.
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