Air Canada e DHL suspendem seus serviços aéreos na Venezuela
O governo venezuelano deve 3.700 milhões de dólares às companhias aéreas, que ameaçam com abandonar o país
A Air Canada, a linha aérea canadense, e o serviço de transportadoras expresso DHL anunciaram nesta segunda-feira em dois comunicados separados que deixarão de cobrir rotas que saem e que chegam para a Venezuela.
A linha aérea canadense alegou, desde sua sede corporativa em Toronto, os “distúrbios na Venezuela” como uma circunstância que lhe impede garantir “a segurança de suas operações”. Até o anúncio, a Air Canada fazia três voos semanais entre Caracas e Toronto.
Por sua vez, DHL —integrante do grupo alemão de serviços postais, Deutsche Post— informou através de um boletim de seu operador local, que suspendeu “todas aquelas operações de envios entre terceiros países [cuja origem, destino e demais pagamentos correspondam a países diferentes a Venezuela]”. A franquia local poderá fazer envios dentro da Venezuela.
Há dois meses tenta negociar com as companhias aéreas que ameaçam deixar o país
Ambas decisões correspondem ao apogeu de uma crise que, há meses, ameaça com deixar isolada a Venezuela por via aérea. O governo venezuelano deve 3,7 bilhões de dólares às companhias aéreas e agora, com poucos recursos, trata de negociar um desconto com as empresas internacionais, que já sentem o peso dessa dívida em seus estados financeiros.
Alguns dos principais credores, como o grupo Avianca —produto da fusão entre a colombiana Avianca e a centroamericana Taca— e o grupo Latam, já reduziram suas frequências. Sabe-se que empresas europeias, como a alemã Lufthansa, atribuíram aeronaves menores que de costume para servir a rota a Caracas.
Esta crise iniciou pelo regime de controle de mudança implantado por Hugo Chávez desde 2003 e vigente até a data atual. As linhas aéreas internacionais vendem suas passagens em bolívares, a moeda venezuelana, e para repatriar esses rendimentos e ganhos a seus quartéis gerais, devem mudar os bolívares obtidos por divisas, ao valor da mudança oficial. No entanto, esse gerenciamento não é livre. Deve contar com o visto bom das autoridades do Estado, quem além disso entregam as divisas.
Os problemas no fluxo de caixa dificultaram para o governo honrar a dívida. Há dois meses tenta negociar com as companhias aéreas que ameaçam deixar o país. A primeira oferta oficial de pagar o devido mediante fornecimentos de combustível para aviões, foi recusada por ser impraticável e pouco atraente. Depois, o governo venezuelano somou a possibilidade de fazer um pagamento parcial.
As linhas aéreas, agrupadas na IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), pedem a definição de um cronograma estrito de pagamentos. “Se as linhas aéreas internacionais não têm garantido o pagamento de suas operações na Venezuela, não poderão seguir operando”, advertiu de Genebra, Suíça, Tony Tyler, diretor geral de IATA, entrevistado pela rede CNN em espanhol.
As autoridades venezuelanas —como o ministro de Turismo, Andrés Izarra— expressaram sua confiança em que a ameaça não se concretizará, pelo tamanho e rentabilidade do mercado local de viajantes e pela localização do Aeroporto Internacional de Maiquetía, que atende Caracas, que se presta para conexões intercontinentais.
Na terça-feira se reuniram no Círculo Militar de Caracas os representantes de 21 linhas aéreas e o ministro de Transporte Aquático e Aéreo, general Hebert García Plaza. Não houve acordos após o encontro.
Antes da reunião, o ministro García Plaza declarou que a Venezuela cortará vínculos comerciais com Air Canada. “Não acompanhamos esse tipo de comunicados, foi uma antecipação”, disse, em referência ao anúncio da linha aérea.
O próprio presidente, Nicolás Maduro, afirmou durante um encontro político no sábado, que qualquer linha aérea que abandonasse a Venezuela durante a atual conjuntura “não poderá voltar”. Também disse que não tinha razões para que alguma companhia reduzisse suas frequências para destinos venezuelanos.
Tyler, de IATA, assegurou que as ameaças de Maduro “não ajudam a resolver a situação” e reiterou que “ninguém voará em um país onde a evidência diz que não se pagará por suas operações”.
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