Uma contraofensiva do governo toma o principal ponto de protestos em Caracas
Mil agentes da Guarda Nacional e da Polícia retomam a praça Altamira, bastião da oposição desde 2002
Na manhã desta segunda-feira os meios de comunicação do Estado venezuelano celebravam a “libertação” da praça Altamira, verdadeira “zona zero” dos protestos em Caracas. No sábado, o próprio presidente Nicolás Maduro lançou no local um ultimato aos manifestantes, protagonistas durante mais de um mês de confrontos diários contra forças antidistúrbios.
“Dou algumas horas como prazo para que vocês voltem para suas casas”, advertiu Maduro, ao falar em um evento em apoio às forças militares. "Se não for assim, então irei eu mesmo libertar Altamira”, completou.
O presidente venezuelano não compareceu à retomada da praça. Mas foram necessários 1.000 agentes armados –tanto da Guarda Nacional como da Polícia Nacional- para assumir o controle de um bastião da oposição, condição que remonta às revoltas de 2002 contra o então presidente Hugo Chávez.
O município de Chacao, na região de Caracas e onde está localizada a praça, e outras regiões no leste da capital venezuelana amanheceram militarizados. Os corpos de segurança aproveitaram a madrugada da segunda-feira para assegurar posições ao redor da Altamira. Mediante o uso de gás lacrimogêneo, as forças do Estado conseguiram reduzir os pequenos grupos de manifestantes que estavam nas ruas. Houve 30 detenções na área. Nesta segunda-feira, os soldados revistavam qualquer pessoa que passasse.
A polícia política também realizou buscas em residências e estabelecimentos comerciais no bairro Prados del Este, no sudeste de Caracas e onde, segundo a versão oficial, foram encontrados centros de elaboração de coquetéis molotov e outros artifícios para a montagem de barricadas.
“Derrotamos os protestos”, comemorou o ministro do Interior, o general Miguel Rodríguez Torres. Ao amanhecer, diversos membros do Governo, incluindo os ministros do Transporte e da Comunicação e Informação, se instalaram na praça Altamira. Além da mera repressão, a administração de Maduro propôs-se a ocupar espaços mediante atividades culturais e espetáculos de rua. O propósito é dificultar qualquer concentração no local.
A ofensiva do governo contra os protestos também se desenvolveu em outros locais, mas com resultados mistos. Na zona de Calicanto, na cidade de Maracay, capital do estado de Aragua (centro-norte), enfrentaram-se os corpos de segurança e manifestantes durante a noite de domingo. Um oficial da Guarda Nacional ficou ferido a tiros e faleceu horas mais tarde.
Em Ciudad Guayana (estado de Bolívar, centro-leste), Mérida (estado de Mérida, oeste) e Maracaibo (estado de Zulia, noroeste), militares e policiais lutavam de forma infrutífera para desmontar barricadas em diversos pontos dessas cidades.
Em Valencia, capital do estado de Carabobo (centro) e terceira maior cidade do país, informava-se a respeito do grave estado de saúde de Mariana Ceballos, uma auxiliar de odontologia de 32 anos de idade. Ceballos foi atropelada por um veículo quando fazia parte de um protesto que fechava a passagem em uma rua da cidade. Os moradores denunciavam com o bloqueio a invasão indiscriminada que nesse momento realizavam a Guarda Nacional e a polícia política em um edifício da região. O motorista do veículo, Kenneth Martínez, tentou romper o cerco. Teme-se pela vida de Ceballos.
O saldo oficial dos 33 dias de distúrbios na Venezuela é de 29 mortos, mais de 300 feridos e cerca de 160 detidos. Segundo a organização não governamental Fórum Penal Venezuelano, três em cada dez detenções ocorreram na região metropolitana de Caracas.
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