Sem futebol, sem destaques e sem vergonha
O Barcelona, rígido e cadavérico, é superado pela desatenção coletiva dos seus jogadores e pela permanente intensidade de um Valladolid que se agarra à Liga com a vitória


O Barça vai caindo em câmara lenta na Liga. Um dia deixou de marcar gols, no outro perdeu a elegância e depois o estilo, mais tarde se esqueceu de jogar bola e deixou definitivamente de ser uma equipe, para desabar de maneira estrondosa em Valladolid. Os azuis-grenás ficaram rígidos depois de mil e uma rotações, que era a desculpa para explicar que não eram necessárias contratações nem tampouco mudanças estruturais, depois do saco de gols sofrido no ano passado frente ao Bayern. O aspecto do Barça piorou tanto com o tempo que desta vez foi um time cadavérico no Nuevo Zorilla. Estático, nunca teve respostas numa tarde primaveril naquele que é conhecido como o “estádio da pneumonia”. A esperada ida ao Bernabéu poderá ser para o Barça uma viagem a parte alguma, pois o time já foi enquadrado pelo Valencia, pela Real Sociedad e pelo Valladolid, esgotando-se assim a margem de erro que tinha na Liga.
VALLADOLID, 1- BARÇA, 0
Valladolid: Mariño; Rukavina, Rueda, Mitrovic, Peña; Rossi, Valiente (Alfaiate, m. 58), Álvaro Rubio, Bergdich (Ramo, m. 71); Javi Guerra e Manucho (Óscar, m. 65). Não utilizados: Jaime; Osorio, Baraja e Larsson.
Barcelona: Valdés; Alves, Piqué (Sergi Roberto, m. 71), Mascherano, Adriano; Xavi, Busquets, Cesc (Alexis, m. 60); Pedro, Messi e Neymar (Tello, m.73). Não utilizados: Oier; Montoya, Bartra e Afellay.
Goles: 1-0. M. 17. Rossi aproveita um rebote no interior da área.
Árbitro: Hernández Hernández. Mostrou cartão amarelo para Bergdich, Rossi, Piqué, Peña, Álvaro Rubio e Sastre.
Zorilla. 22.921 espectadores.
O Barcelona é consumido pelo descuido, e já está a quatro pontos do Real Madrid. Não tem conserto, por enquanto, nem com a autogestão nem com a intervenção do técnico, que briga a cada rodada com os assistentes da arbitragem e, ao mesmo tempo, se mostra desconcertante com seus rapazes, confusos com seus posicionamentos táticos e também com as mudanças. Nem o vírus FIFA nem o rosário de fatalidades que rodeia o grupo justificam sua horrorosa partida em Valladolid, um feudo carregado de história do ponto de vista azul-grená – algumas vezes pelas defesas de Urruti, outras pelos gols de Xavi e Iniesta ou pela estreia de Puyol. Ontem, evocou a época em que Lucendo estreou. Naquela tarde, no entanto, o Barcelona era uma equipe em ascensão, ao passo que agora está em baixa no campeonato, impotente, extraviado, transformado em um pebolim.
O Barça quis ganhar a partida com a escalação, pela intimidação se fosse possível, mas já se sabe que seu jogo é descontínuo e desconcertante, muito frágil em suas sete últimas atuações fora de casa, e também no Zorilla. Às vezes, sobretudo nos momentos de instabilidade, aonde o futebol não chega basta a aparição dos seus destaques, e os barcelonistas contam com Messi e Neymar. Só que deixou escapar o confronto desde a saída, convencido de que logo chegaria o seu momento, despreocupado futebolisticamente, entregue exclusivamente aos piques e disparos do 10. Não chegou a tempo. O confronto esteve sempre à mercê do Valladolid, mais concentrado e intenso, muito bem organizado a partir de um trio defensivo comandado pelo ex-azul-grená Marc Valiente, muito poucas vezes exigido pelo Barça. Os melhores foram garotos como Manucho e Guerra, e sobretudo Bergdich, mas não Neymar nem Messi.
Nem o rosário de fatalidades que rodeia a equipe justifica seu jogo em Valladolid
Mais bem orientada, a equipe pucelana teve um maior controle da partida e da bola, inclusive na área de Valdés. O gol de Rossi, que estreava como centroavante e goleador, simbolizou o dinamismo do Valladolid frente à quietude do Barça. O Valladolid teve até três chances de arremate antes de chegar à rede, após erros no desarme dos azuis-grenás, desnorteados, reiterativos em suas concessões defensivas, sobretudo nos escanteios, sem uma linha de passe que não fossem os piques e arremates de Messi, neutralizado pelo bom senso de posicionamento de Mariño. O contragolpe foi durante um período o único recuso de uma equipe barcelonista frouxa, sem capacidade de elaborar o futebol, amarrada pelo Valladolid.

Ausente Iniesta e com Busquets surpreendentemente sumido, de nada serviu ao Barcelona se valer de recursos convencionais, como o jogo direto, para entrar na partida e continuar vivo na Liga. Tentando na marra, os barcelonistas nada conseguiram contra a temperança do Valladolid. Não funcionou porque os azuis-grenás contavam com apenas uma jogada, que Mariño resolveu. As várias alterações também não serviram para modificar a palidez do Barça. Com quatro atacantes em campo, mal contou um chute a gol. A entrada de Alexis não resolveu nada, nem a saída de Neymar, nem as subidas de Alves, irreconhecível como está a equipe de Martino.
Uma tempestade ameaça se abater no Camp Nou caso o Barça não supere o City
As melhores ocasiões foram sempre do Valladolid, que se agarra à Liga após encarar essa partida como um jogo de vida ou morte, pois contava com uma só vitória nos dez últimos confrontos. A queda azul-grená foi escandalosa, em nível coletivo e individual, porque não apresentou oportunidades de gol nem elaborou o jogo, superado ao se recolher e ao se abrir, no jogo limpo e nas bolas divididas, sem futebol e sem nervos, carente de surpresas, previsível frente a um excelente Valladolid.
O Barcelona se desfez da ideia que tinha do jogo e a cada partida se entrega a um calvário, especialmente no campo alheio, perdendo pontos a cada rodada: somou 14 dos últimos 27. Não funciona a mistura Neymar-Messi, e a produtividade futebolística da equipe secou de forma escandalosa. Nem gols nem jogo, nem mobilidade nem profundidade, afastado de sua natureza, aquela que assegurava a posição, a posse e a pressão. O mínimo erro lhe tira de prumo de forma irremediável, diante de qualquer adversário: nesta ocasião foi um gol na calorosa Pucela – o outro nome pela qual é conhecida Valladolid. O Barça vai perdendo atributos, e não só ninguém mais se pergunta se emociona mais ou menos, como também perde partidas imperdoáveis, como em Valladolid.
Uma tempestade ameaça se abater sobre o Camp Nou se na quarta-feira o Barça superar a visita do Manchester City. Já não só por perder mais pontos, mas porque a partir de agora não terá nem o perdão de Deus.