Kerry procura em Pequim o apoio chinês para reduzir as tensões na Ásia
O programa de armas atômicas de Pyongyang e as tensões com o Japão marcam a agenda As duas Coroias pactuam continuar com as reuniões das famílias separadas
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, reuniu-se nesta sexta-feira com o presidente chinês, Xi Jinping, e pediu a ele para que pressione a Coréia do Norte para que desmantele seu programa de armas nucleares, lembrando a necessidade de reduzir as tensões nos mares da Ásia, onde a China mantém disputas territoriais com o Japão e as Filipinas, entre outros. Depois, conversou com o ministro de Relações Exteriores, Wang Yi. Dentro da extensa agenda de Kerry, estava também a questão das mudanças climáticas e a situação na Síria e no Irã.
Kerry classificou o encontro com Xi de “muito construtivo” e “muito positivo”. “Estou contente de ter tido a oportunidade de aprofundar em detalhes alguns dos desafios relacionados à Coréia do Norte”, disse, segundo informou a France Press. Wang destacou que a China está disposta a trabalhar com os EUA e “poder refletir verdadeiramente o princípio do não confronto, não conflito, respeito mútuo e cooperação, no qual ambas as partes ganham em todos os aspectos da relação mútua”.
A viagem do secretário de Estado ocorre num momento em que a região vive intensos conflitos. Pequim e Tóquio estão em confronto por um arquipélago desabitado – chamado Senkaku pelo Japão e de Diaoyu pela China – no mar da China Oriental, o que colocou a relação entre os dois países no nível mais baixo dos últimos anos.
Os temores de um choque armado aéreo ou marítimo no entorno dos ilhotes se multiplicaram desde que a China declarou em novembro passado uma zona de identificação de defesa aérea sobre as Senkaku/Diaoyu. Ao mesmo tempo, o governo de Pequim se mostrou cada vez mais reivindicativo no mar do Sul da China, que reclama quase que na totalidade.
Kerry chegou à capital chinesa para uma visita de 24 horas procedente de Seul, primeira etapa da viagem asiática que o levará também à Indonésia. Na quinta-feira, ele reafirmou na capital sul-coreana que as ilhas disputadas entre o Japão e a China estão incluídas dentro do tratado de segurança que obriga os Estados Unidos a defender o Japão se este for atacado.
Pequim desdenhou as críticas norte-americanas sobre seus movimentos nos mares da Ásia. E assim seguiu nesta sexta-feira a agência oficial Xinhua num editorial no qual garante que Washington deve pressionar Tóquio para que pare com seus “movimentos provocadores” ou se arrisca que se repitam “ataques sangrentos semelhantes ao de Pearl Harbor há mais de 70 anos atrás”.
“Os EUA têm que saber que, embora Pequim tenha tentado sempre enfrentar as disputas territoriais com alguns países pela via pacífica, não vacilará em dar passos que garantam seus interesses chave de segurança nacional de acordo com os direitos de soberania da China”, adverte também o editorial.
“Em Seul, Kerry referiu-se à situação na Coréia do Norte e disse que Washington quer relançar as negociações de seis lados sobre o desmantelamento do programa de armas nucleares norte-coreano, mas insistiu que não aceitará o Norte como nação dotada de armas atômicas e não participará de conversações enquanto Pyongyang não deixe clara sua intensão de renunciar a elas. Nas negociações, que estão paralisadas desde 2008, participam, além da Coréia do Norte e dos EUA, a Coréia do Sul, o Japão, a Rússia e a China. E a China é, segundo Kerry, o país com maior poder de influência sobre Pyongyang, dadas as suas relações comerciais e históricas. “A China pode jogar um papel único e fundamental”, declarou, segundo informa Associated Press. A porta-voz de Relações Exteriores Hua Chunying rejeitou hoje as pretensões relativas à Coréia do Norte e replicou que Pequim trabalhou duro para que volte à mesa de negociações.
O secretário de Estado também disse em Seul que as manobras militares conjuntas que os Estados Unidos e a Coréia do Sul pretendem realizar entre 24 de fevereiro e 18 de abril serão parecidas às que fazem todos os anos e que, portanto, Pyongyang não deve relacioná-las com as reuniões das famílias separadas pela guerra da Coréia (1950-1953), previstas para ocorrer de 20 a 25 de fevereiro em Monte Kumgang, um centro turístico no lado norte-coreano.
Pyongyang pediu, numa reunião realizada quarta-feira com representantes sul-coreanos na localidade fronteiriça de Panmunjom, que os exercícios militares fossem adiados para não se sobrepusessem aos encontros familiares. “Os EUA acreditam que não é apropriado relacionar os assuntos humanitários como as reuniões (familiares) com outras questões”, respondeu Kerry na Coréia do Sul. Seul já havia rejeitado na quinta-feira o pedido de adiar as manobras.
Num segundo encontro hoje em Panmunjom, as duas Coreias concordaram em celebrar as reuniões familiares tal como estava programado e se comprometeram a realizar esforços para melhorar suas relações, garantiu Kim Kyou-hyun, chefe da delegação sul-coreana, de acordo com a agência do sul Yonhap.
Apesar do peso político e econômico da China sobre a Coréia do Norte, não está claro qual é o poder real de influência que possui ou até que ponto está disposta a exercê-lo, particularmente depois do expurgo promovido pelo jovem líder norte-coreano, Kim Jong-un, que em dezembro ordenou prender e executar seu tio Jang Song-thaek, considerado o número dois no país, homem chave nas relações com a China e árduo defensor das zonas de livre comércio estabelecidas ao longo da fronteira sino-norte-coreana. O Norte levou a cabo o teste de um míssil em dezembro de 2012 e um teste nuclear – o terceiro de sua história – em fevereiro de 2013, contrariando os desejos de Pequim. Uma delegação chinesa do Ministério de Relações Exteriores da China viajou na semana passada a Pyongyang num gesto que foi interpretado como uma tentativa de reforçar o diálogo com o governo de Kim.
A visita de Kerry faz parte da virada da política externa norte-americana em direção à Ásia, iniciada em 2012. O presidente Barack Obama anunciou na quarta-feira que em abril visitará o Japão, a Coreia do Sul, a Malásia e as Filipinas. Em outubro passado, ele cancelou uma viagem a vários países da região devido à paralisação da administração norte-americana, o que projetou a imagem de uns EUA voláteis do ponto de vista político e econômico, que cede protagonismo para a China no cenário internacional. Washington quer estreitar as relações econômicas e militares com os países da região e responder aos poder e influência crescentes de Pequim.
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