No ano da Copa do Mundo, times brasileiros se enfraquecem
Número de contratações de jogadores é inferior a de outros anos; especialistas dizem que há uma ressaca antecipada diante dos jogos
Entre 2009 e 2013 os principais times brasileiros contrataram uma constelação de craques, nacionais ou estrangeiros, que certamente, pela fase em que viviam, jogariam em boa parte dos clubes de ponta do futebol mundial. Ronaldo, Roberto Carlos, Zé Roberto, Robinho, Valdívia, Luis Fabiano, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Adriano, Juninho Pernambucano, Alexandre Pato, Seedorf, Forlán, Júlio Baptista, Lúcio e Renato Augusto. Todos eles com passagem por suas seleções nacionais e que dispensam apresentações.
A era das contratações midiáticas contava com apresentações em estádios lotados e até transportando o jogador em um carro-forte. Agora, ela parece estar chegando ao fim. Analisando as negociações dos 12 mais rentáveis clubes do Brasil, constata-se que não foi só a quantidade de novos contratados que caiu, mas também a da qualidade deles. OK, o ano mal começou e muita água ainda vai passar por debaixo da imensa ponte dos negócios futebolísticos, mas numa análise rápida sobre os contratos firmados ao longo mês de janeiro, que costuma ser o mais quente no mercado, chega-se aos seguinte número: dos 45 atletas contratados pelos principais clubes do Brasil, 14 já tiveram passagem em seleções nacionais. No ano passado, foram 170 contratados com 34 jogadores de seleção, o maior número de jogadores negociados com essas equipes em cinco anos.
A proporção de selecionáveis neste ano parece ser mais equilibrada, mas é preciso olhar caso a caso. Dos 14 jogadores selecionáveis contratados no início deste ano, apenas seis têm chances reais de jogar a Copa do Mundo. Três deles certamente não estarão, porque a seleção que defendem, o Paraguai, não se classificou (caso de Miguel Samudio, do time mineiro Cruzeiro, Eduardo Aranda, do Vasco da Gama, e Pedro Zeballos, do Botafogo, ambos times do Rio de Janeiro).
As contratações dos 12 maiores
Contratos firmados ano a ano
Os 12 clubes analisados e os reforços em 2014
Ano | Contratações |
2009 | 90 |
2010 | 166 |
2011 | 161 |
2012 | 126 |
2013 | 170 |
2014 | 45 |
Time | Contratados |
Palmeiras | 8 |
Botafogo | 8 |
Vasco | 5 |
Flamengo | 5 |
Internacional | 3 |
Cruzeiro | 3 |
Fluminense | 3 |
São Paulo | 3 |
Atlético Mineiro | 2 |
Corinthians | 2 |
Grêmio | 2 |
Santos | 1 |
Outros três, brasileiros, não foram convocados nos últimos anos (Elano, do Flamengo, Bruno César e Lúcio, do Palmeiras) e possivelmente não estarão na lista do treinador Luis Felipe Scolari, o Felipão. Há ainda os gringos que têm poucas chances porque a concorrência em suas equipes está acirrada (entre eles está o argentino Mario Bolatti, do Botafogo, e o uruguaio Victorino, do Palmeiras).
Se já não bastassem as poucas contratações, os times brasileiros ainda estão perdendo, como de costume, seus melhores atletas para equipes estrangeiras. O Palmeiras vendeu na semana passada seu único atleta com boas chances de disputar a Copa, o zagueiro Henrique. O São Paulo se desfez de seu atacante Aloísio. O Botafogo já não conta com o meia holandês Seedorf. O Grêmio não conseguiu renovar o empréstimo do meia chileno Vargas. E o Internacional, que já vendeu o argentino Scocco e o uruguaio Forlán, está perto de perder o meia argentino D'Alessandro para o futebol chinês.
Uma das explicações pelo reduzido número de reforços contratados é a realização da Copa do Mundo. As empresas que costumam ser parceiras dos clubes decidiram investir mais em patrocínios e ações publicitárias durante os 31 dias da realização do evento. Com isso, os caixas dos clubes não estão tão cheios.
O mestre em comunicação e professor de marketing esportivo Anderson Gurgel diz que era esperado que o país vivesse uma ressaca após os grandes eventos, mas, aparentemente ela foi antecipada. "O que vivemos é um período em que os clubes estão endividados, completamente dependentes das receitas antecipadas pela TV Globo, que detém os direitos de transmissão, e com gestões que não conseguem balancear essa equação", afirmou. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revela que o Banco Central brasileiro tenta recuperar créditos devidos por times como Santos, Corinthians, Vasco da Gama e Fluminense.
Segundo Gurgel, há ainda outra questão que os jogadores pesam antes de vir ao Brasil: a financeira. Com a Europa dando mostras que pode sair de sua crise e com os países emergentes sinalizando que podem ter problemas no futuro, o jogador pensa nisso antes de vir ao país do futebol e da Copa.
“Tem que valer muito a pena. Hoje, somos um mercado bom para países menores que o nosso na América do Sul. Um atleta europeu dificilmente jogará um torneio brasileiro. Nossa moeda vale quase quatro vezes menos que a deles", disse Gurgel, autor do livro Futebol S/A - A economia em campo.
Em anos de Copa, os clubes europeus costumam ir às compras no meio do ano, após o torneio internacional. Talvez de olho no mercado pró-Copa alguns dos brasileiros tentam angariar os lucros com alguns desses gringos selecionáveis que atuam no país. Esse seria um dos poucos legados do torneio, o de abastecer os cofres dos times brasileiros, já que as atrasadas obras de infraestrutura e alguns dos 12 estádios pouco devem servir aos cidadãos.
Os selecionáveis contratados
Os que têm chances de jogar a Copa
Os com chance mínimas de participar da Copa
Os que não vão jogar a Copa
- Leandro Damião. Atacante. Santos. Brasil.
- Charles Aránguiz. Volante. Internacional. Chile
- Martin Silva. Goleiro. Vasco da Gama. Uruguai.
- Frickson Erazo. Zagueiro. Flamengo. Equador.
- Dorlan Pabón. Meio-atacante. São Paulo. Colômbia.
- Álvaro Pereira. Lateral. São Paulo. Uruguai.
- Bruno César. Meio-campista. Palmeiras. Brasil.
- Victorino. Zagueiro. Palmeiras. Uruguai.
- Lúcio. Zagueiro. Palmeiras. Brasil.
- Mario Bolatti. Volante. Botafogo. Argentina.
- Elano. Meio-campista. Flamengo. Brasil.
- Miguel Samudio. Meio-campista. Cruzeiro. Paraguai.
- Eduardo Aranda. Volante. Vasco da Gama. Paraguai.
- Pablo Zeballos. Volante. Botafogo. Paraguai.
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