_
_
_
_
_

Um Zurbarán inédito surge em Bruxelas 350 anos depois

'Los desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría' foi uma de suas últimas obras A tela apareceu há dois anos nas mãos de um colecionador privado na Suíça

Luis Doncel
'Los desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría', de Zurbarán.
'Los desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría', de Zurbarán.

27 de agosto de 1664. Francisco de Zurbarán morre em Madri depois de ter deixado uma profunda impressão religiosa na pintura espanhola do Século de Ouro. No inventário pós morte feito em sua casa, além do habitual –lençóis, camas, cadeiras…-, aparece um quadro de nome sugestivo: Los desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría. Depois de ir mudando de proprietário através dos séculos, esta obra desapareceu sem deixar rastro. Até agora. Os visitantes do Palácio de Belas Artes de Bruxelas serão os primeiros que poderão apreciar a esta jovem Virgem Maria segurando o menino Jesús que coloca uma aliança na santa do título.

Zurbarán pintou esta cena nos últimos anos de sua vida, em uma etapa que os críticos têm apreciado cada vez mais. “Seu valor artístico responde a um especial interesse pela produção tardia do pintor, há anos se considerava na decadência. Vemos aí uma paleta mais clara, um Zurbarán mais íntimo”, diz Gabriele Finaldi, diretor-adjunto de Conservação do Museu do Prado e assessor da exposição na capital belga.

Depois de perder de vista, os especialistas têm notícias de Los desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría pela primeira vez em dois anos, quando aparece na Suíça, pelas mãos de um colecionador francês. Mas durante esse tempo, não foi exposta em nenhum lugar, nem sequer na exposição, que até o último 6 de janeiro estava em Ferrara (Itália), antes de seguir para Bruxelas.

O pintor da Extremadura se mudou para Sevilha muito jovem. Mas o declive econômico desta cidade na segunda metade do século XVII o obrigou a mudar para a capital do reino. A peste bubônica de 1649, a crise da rota comercial com o Novo Mundo e as guerras europeias castigaram a economia da até então próspera Sevilha. E como se não bastasse, um jovem chamado Murillo começa a despuntar e se sobrepõe a um Zurbarán já na casa dos cinquenta, lhe roubando as poucas glórias que tinha.

É nesse momento que ele decide ir viver em Madri e começa a reduzir o tamanho dos quadros diante de uma época de esplendor sevilhana, na qual pintava para as religiosas ordens flutuantes. “Os artistas que tiveram sucesso costumam ser bons homens de negócios. Têm habilidade para se adaptar às situações econômicas. Nesta etapa madrilenha, ele trabalha para nobres e pessoas com alto poder econômico, mas não para a Coroa. Produz um grande número de obras graças à manutenção de um ateliê de aprendizes”, explica Finaldi. É nesse momento, já bem perto do final de sua vida, que ele pinta o casal místico que agora pode ser visto, até o dia 25 de maio, pelos que vão à capital belga, justo agora que se lembra o 350 aniversário de morte do mestre.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_