_
_
_
_
_

Mexicana fica presa durante um mês e meio depois de denunciar um estupro

A jovem de 20 anos foi acusada de matar seu suposto agressor na Cidade do México

Paula Chouza
Mulheres protestam em frente ao Tribunal Superior de Justiça da Cidade do México antes da audiência com Yakiri.
Mulheres protestam em frente ao Tribunal Superior de Justiça da Cidade do México antes da audiência com Yakiri.Saúl Ruiz

Yakiri, de 20 anos, Está há um mês e meio na prisão. Na segunda-feira 9 de dezembro, ela entrou em uma delegacia de polícia na capital mexicana para denunciar dois homens que haviam sequestrado, violado e espancado ela. Segundo sua versão, ela lutou com um deles, o que ficou mais tempo no quarto do hotel onde a abusaram. Miguel, de 37 anos, 1,80m e 90 quilos, saiu com hemorragia do quarto e morreu na porta de sua casa. Quem o recebeu foi Omar, seu irmão menor, o outro envolvido nos feitos, segundo a denúncia de Yakiri. O jovem, de 33 anos, foi à mesma delegacia para informar do homicídio de seu irmão e a viu e a reconheceu. Yakiri já não voltou a pisar na rua. Das celas dos escritórios, passou à prisão feminina de Santa Martha Acatitla, e daí, ao presídio de Tepepan, onde em vez de 14, são quatro presidiárias por quarto.

Nesta segunda-feira, a quinta sala do distrito da Cidade do México convocou Yakiri para uma audiência para escutar sua versão. “Até agora nenhum magistrado pediu para falar com ela, e é incomum que na audiência, na qual se entregam as apelações, se peça a presença do julgado”, explica Edith López, membro do Comitê Cidadão pela Liberdade de Yakiri. “O juiz que mandou prende-la nunca a escutou e nem motivou suas denúncias”.

Neste sentido, as alegações da defesa, representada pela advogada Ana Katiria Suárez, “buscam desvirtuar a detenção, que consideramos ilegal, porque não se trata de um delito em flagrante, e essa é a primeira denúncia”, diz López. “Houve uma violação do processo”, repetiu uma infinidade de vezes a jurista.

Naquele dia, segundo o depoimento, Yakiri chegou à delegacia com múltiplas  contusões. O exame ginecológico não conclui se há ou não lesões -”é insuficiente”, assegura Suárez. “O juiz inventa uma história de convivência entre Yakiri e Miguel , fala de traição, acusações que não se sustentam com as provas do Ministério Público”, valoriza Edith López. No documento, de 108 páginas, recolhem-se os depoimentos da parceira de Yakiri, uma mulher que declara que naquela tarde haviam combinado de se encontrar nas redondezas de onde ocorreram os fatos, a não mais de seis ruas do bairro de Roma, um dos bairros da moda da capital mexicana. Outro depoimento é o do jovem chamado Miguel, como o falecido, mas quase vinte anos mais novo. No bolso de Yakiri tinham três cartas de amor, escritas com linguagem inocente e assinadas com seu nome que se reproduzem na resolução do juiz. Ele admite ser o autor das mesmas, era vizinho da jovem e gostava dela. O juiz ignorou as duas declarações quando ordenou que Yakiri fosse presa.

“A nova juíza [Celia Marín Sasaki] nos disse que vai julgar sob a perspectiva de gênero”, diz o pai de Yakiri, José Luis. A omissão de qualquer protocolo de defesa de vítimas de agressão sexual ou dos tratados internacionais contra a violência machista foi uma das causas que casou a indignação nas organizações e redes sociais, onde o apoio a Yakiri foi em massa. Representantes das Nações Unidas, do Senado, da Assembleia legislativa da capital e do Instituto das Mulheres têm estado presentes em todo o processo.

Laura Aragão, porta-voz da organização de direitos humanos Mukira, explica além disso que a acusação -Omar- não se apresentou para se declarar em nenhuma das ocasiões em que foi citado. “foram várias e supõe-se que é o depoimento mais importante contra ela”. O gerente do hotel, que chegou a declarar que viu os dois entrando como um casal normal, também não se apresentou. Yakiri relata que ele apontava para ela com uma pistola nas costas e que não o conhecia. Na imprensa local, publicou-se que a Procuradoria da Justiça do Distrito Federal acredita em uma relação anterior pelos telefonemas registrados no telefone do falecido. “Não houve uma investigação sobre isso”, diz a porta-voz do Comitê Cidadão pela liberdade de Yakiri.

Marina, a mãe de Yaki -como a chamam carinhosamente- e seu pai, José Luis, seguem na batalha. Ao outro lado do telefone, a mulher confessa que sua filha “está mais tranquila, embora esteja desesperada há dias, por passar tanto tempo encarcerada”. Até que o juiz decida, pode passar um mês, “talvez seja menos”, termina esperançada sua mãe.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_