O Governo egípcio muda sua direção e adianta as eleições presidenciais
O Governo interino anuncia o novo calendário sem precisar datas
O presidente interino do Egito, Adli Mansur, anunciou neste domingo em uma mensagem televisionada à nação que as eleições presidenciais precederão às legislativas, o que representa uma significativa alteração do roteiro promulgado pelas autoridades pouco depois do golpe de Estado que depôs em julho Mohamed Morsi, primeiro presidente eleito nas urnas. A decisão de Mansur, líder de umas autoridades civis tuteladas pelos militares, chega depois de uma das jornadas mais sangrentas dos últimos meses. A repressão policial das manifestações opositoras resultou na morte de ao menos 49 pessoas, centenas de feridos e mais de mil detenções de “agitadores”, segundo informaram fontes governamentais.
A imprensa local informava nos dias anteriores que nas rodas de contatos de Mansur com os líderes políticos e sociais do país -excluída a oposição- houve um amplo consenso para modificar a ordem prevista das eleições presidenciais e legislativas. Por enquanto, ainda não se fixou uma data concreta, mas está previsto que ambos se celebrem como máximo em um prazo de meio ano. Depois de aprovar a nova Constituição, estes processos eleitorais deveriam pôr fim à transição. Segundo os especialistas, a mudança de ordem favorecerá uma presidência mais forte, pois permitirá ao novo presidente forjar um Parlamento dócil, dominado por seus aliados.
Após três anos de distúrbios nas ruas, os jornais e a sociedade egípcia parecem não ter se sensibilizado ante as matanças de civis, como a de sábado no terceiro aniversário do início da revolução que destronou o ex-ditador Hosni Mubarak. No dia seguinte do massacre, a notícia ocupava um local marginal nos meios de comunicação egípcios, tanto nos públicos como nos privados.
No jornal oficialista a al-Ahram, tinha que ir até a quarta página para encontrar uma pequena caixa com esta informação. Além disso, em todas as manchetes se definia a todas as vítimas como membros dos “terroristas” Irmandade Muçulmana, deixando claro que também se dissolveu com grande violência protesta de grupos de jovens revolucionários de tendência laica. Após a derrocada de Morsi, um dos líderes do grupo islamista, a cúpula inteira da Irmandade foi encarcerada, e a repressão de seus partidários já resultou na morte, desde julho, de 2.000 pessoas.
Nas capas de domingo, todo o protagonismo era para as milhares de pessoas que ocuparam a praça Tahrir para expressar seu apoio às Forças Armadas, e especialmente a seu líder, o general Abdel Fatha Al-Sisi, em torno de quem está se edificando um autêntico culto. “O povo desafia os terroristas”, era a mensagem mais repetida, junto da petição das massas a Al-Sisi para que se apresente às eleições presidenciais, um movimento que poderia ser iminente, sobretudo depois do anúncio de Mansur.
Apesar de que o novo regime utilize a luta antiterrorista como elemento legitimador e aglutinador, a ameaça do jihadismo é real. A primeira hora de domingo, uma emboscada a um ônibus militar na península do Sinai causou a morte de ao menos quatro soldados. Além disso, o grupo jihadista Ansar Bayt a o-Maqdis assegurou em um comunicado ter abatido no dia anterior um helicóptero militar no Sinai com um míssil terra-ar. Se for verdadeiro, a ação representaria um salto qualitativo na capacidade operativa do grupo terrorista, responsável pelos atentados mais sangrentos dos últimos meses.
Em um comunicado publicado em sua página de Facebook, o Exército aproveitou para criticar a Irmandade, apesar de o movimento islamista negar qualquer relação com os últimos atentados. “Asseguramos ao povo egípcio a determinação [das Forças Armadas] em lutar contra o terrorismo negro e a completa eliminação dos advogados da opressão e os motins e a blasfêmia entre os seguidores da Irmandade Muçulmana".
Por outro lado, o Governo egípcio decidiu retirar todo seu pessoal diplomático da Líbia após o sequestro de cinco de seus diplomatas durante os últimos dias. Os raptos estão vinculados à detenção de Abu Hadia, líder de uma milícia que lutou contra Gadafi, na cidade egípcia de Alexandria. Os sequestradores exigem a libertação de Abu Hadia em troca dos diplomatas egípcios.
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