Blatter protagoniza novo ‘bate e assopra’ da Fifa com o Brasil

Presidente da entidade máxima do futebol mundial faz críticas à organização da Copa no país, mas muda o tom depois de declarações da presidenta Dilma Rousseff

Presidente da Fifa, Joseph Blatter, durante evento na Bahia, em dezembro.NELSON ALMEIDA (AFP)

O Governo brasileiro recorreu nas últimas horas às redes sociais e a comunicados de imprensa para reforçar sua aposta na realização da melhor Copa do Mundo da história, em meio a um novo bate e assopra da Fifa. A expressão, que denota um tratamento ruim para depois se prover carinho como forma de consolo, permeou as novas críticas do presidente da entidade, Joseph Blatter, à organização do evento pelo país, e sobretudo à forma como ele mudou o tom nesta segunda-feira, após as declarações da presidenta Dilma Rousseff e do Ministério do Esporte.

Em entrevista ao jornal suíço 24 Heures publicada no fim de semana, Blatter criticou os atrasos na organização do Mundial no Brasil. Ele disse que o país “é o mais atrasado” desde que ele está na Fifa, e que o Brasil “foi o que teve mais tempo – sete anos – para se preparar”. “O país ficou ciente do que é o evento agora”, acrescentou.

Nesta segunda-feira, a presidenta Rousseff usou sua conta no Twitter para destacar que os brasileiros começam 2014 confiantes de que farão o melhor Mundial da história, e que os turistas poderão conhecer um país “multicultural e batalhador”, sem citar os comentários de Blatter. “Amamos o futebol e por isso recebemos esta Copa com orgulho e faremos dela a #CopadasCopas. A procura por ingressos para os jogos – a maior em todas as Copas – mostra que torcedores do mundo inteiro confiam no Brasil”, afirmou.

“Todos os que vierem ao Brasil serão bem recebidos, porque somos alegres e acolhedores. Esta será a Copa de 12 cidades-sedes, da floresta amazônica (Norte) aos pampas gaúchos (Sul), das montanhas de Minas (Sudeste) às praias cariocas (Sudeste), das dunas (nas areias) do Nordeste à metrópole de São Paulo.”

O Ministério do Esporte também reagiu aos comentários de Blatter. “As informações (...) enviadas pelas autoridades encarregadas de preparar as cidades-sede para a Copa do Mundo e aquelas apuradas pelo próprio ministro, que a cada três meses visita as obras, dão conta de que o país estará pronto a tempo”, afirmou em comunicado.

“O Brasil trabalha na preparação do Mundial desde que foi escolhido para sediar o torneio. A procura por ingressos para os jogos - a maior em todas as copas - mostra que torcedores do mundo inteiro confiam que a Copa de 2014 será a melhor de todas que já foram realizadas”, acrescentou a pasta, mostrando uma afinação com o discurso de Rousseff.

Horas depois do posicionamento público do governo brasileiro, Blatter disse concordar com a presidenta, adotando um tom mais leve em seu discurso. “Concordo com os comentários de @dilmabr sobre a #Copa2014. O mundo todo está esperando a #CopadasCopas. O Brasil será um ótimo anfitrião”, afirmou, também via Twitter. “(Faltam) Apenas 157 dias para a abertura da #Copa2014, em São Paulo. Os preparativos estão a todo vapor nas 12 sedes. (O Mundial) Brasil 2014 será um sucesso”, completou.

O bate e assopra da Fifa já pôde ser sentido em 2012, quando o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, afirmou que os organizadores locais do Mundial precisavam levar “um chute no traseiro”, por conta de uma suposta imobilidade nos preparativos para o torneio no país. Dias depois, ao perceber o enorme mal-estar criado no Brasil, Valcke pediu desculpas e disse ter sido mal interpretado na tradução de suas palavras.

A situação incômoda entre a Fifa e o governo brasileiro na ocasião levou a uma troca de mensagens e telefonemas entre a entidade máxima do futebol mundial e o governo brasileiro. No Congresso Nacional, parlamentares criticaram o linguajar de Valcke e pediram respostas rígidas por parte das autoridades do país. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, acabou aceitando as desculpas da Fifa, mas considerou que episódios como aquele não deveriam se repetir em nome de uma boa preparação para o torneio.

As críticas se referem, sobretudo, aos atrasos em obras de infraestrutura. Em relação aos estádios, por exemplo, o Comitê Organizador Local (COL) trabalhava com o último dia de 2013 como prazo final para a entrega das arenas que sediarão os jogos do Mundial. Em entrevista ao EL PAÍS no fim do ano passado, o diretor-executivo do COL, Ricardo Trade, disse ser imprescindível destacar a importância de ter todos as arenas entregues até 31 de dezembro.

“Assim, teremos tempo para realizar eventos-teste para que a operação durante a Copa do Mundo seja como os torcedores, as delegações e a imprensa merecem”, destacou na ocasião.

Das 12 arenas que sediarão jogos do torneio, no entanto, a metade ainda não foi entregue. São elas a Arena Corinthians (São Paulo), palco de abertura do Mundial; a Arena Amazônia, em Manaus (região Norte); a Arena das Dunas, em Natal (Nordeste); a Arena da Baixada, em Curitiba (Sul); a Arena Pantanal, em Cuiabá (Centro-Oeste); e o estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (Sul).

Acidentes nas obras das arenas, como a morte de dois operários em um mesmo dia no perímetro de construção em Manaus, ou mesmo a queda de um guindaste em São Paulo que matou dois trabalhadores em São Paulo, comprometeram o andamento de algumas delas. A Arena Corinthians deve ser entregue com o maior atraso, em abril.

O saldo de vítimas fatais no total chegou a seis, em uma Copa cujos estádios custaram mais que nos dois últimos Mundiais.

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