O triste Natal de Berlusconi
O ex-primeiro ministro italiano deixa para trás o esbanjamento das festas e se despede no ano em que foi condenado pela Justiça com um bufê self-service de pé
Os ricos também choram. E Silvio Berlusconi também aperta o cinto. Neste ano, o ex-primeiro ministro italiano cortou o orçamento destinado às celebrações das festas com seus deputados. Acabaram-se as joias, as gravatas de assinatura, os iPads e os televisores de última geração que se amontoavam debaixo das árvores de Natal de todos os homens (e mulheres) do presidente. Já não há mais reservas enormes em restaurantes exclusivos de Roma, para se desejar felicidade. O Natal de 2013 será lembrado entre os azuis da Força Itália por sua austeridade. Tiveram que se conformar com um bufê, de pé e self-service, na sede do partido, na praça de San Lorenzo em Lucina. O Il Cavaliere, decepcionado, à espera de saber onde cumprirá o ano de serviços sociais que uma condenação por fraude fiscal lhe impôs, sem documentos para sair do país e sem deputados para derrubar o Governo, se encontra em uma insólita e forçada sobriedade.
Aos 77 anos, Berlusconi chegou à parca celebração com sua namorada Francesca Pascale e seu inseparável poodle, Dudú. O ex-primeiro ministro abriu a noite com um de seus sermões, que alternam o tom sério e lutador do político e o trato cotidiano, sua característica particular. Falou da difícil situação da Itália e das delícias de quem descobre seu amor pelos cães em uma idade avançada: “Nunca tive um cão correndo pela casa”, contou. “Um novo mundo está sendo aberto!”. Não é o único: em agosto, o Supremo o considerou culpado de ter fraudado a Fazenda, e o Parlamento tirou a cadeira de senador e o proibiu de se candidatar às eleições pelos próximos seis anos.
Mas o tom austero deste fim de ano deve-se também ao complicado momento pessoal do empresário que entrou na política há 20 anos. Segundo a imprensa italiana, a repreensão judicial foi um golpe muito duro para Berlusconi, que fundou, a partir do zero, um império industrial, criou a centro-direita após o colapso da Democracia Cristã, liderou três executivos e a oposição, manteve em xeque o governo dos tecnocratas e tentou derrubar o atual governo. A amargura por não ter sido salvado por seus colegas senadores ou através de um indulto do presidente da República se acrescenta ao desequilíbrio pela cisão de sua criatura política. O Povo da Liberdade —que Berlusconi tinha apelidado o partido do amor— se partiu em dois há algumas semanas: uma parte ficou no Governo de amplos acordos, enquanto seus fiéis o seguiram na refundação da Força Itália, agora isolada na oposição.
Ficam bem longe os fatos dos anos passados, quando II Cavaliere surpreendeu os críticos e paroquianos como um ave Fênix. Então, sim, manteve as aparências, que na política são mensagens. Em 2004, na liderança do país, ostentava seu poder convidando toda sua trupe de parlamentares ao Hotel Splendid Royal: presenteou broches às mulheres e relógios Omega aos homens e deleitou aos assistentes cantando junto a seu amigo, o guitarrista napolitano Mariano Apicella.
Em 2008, acabava de ganhar pela terceira vez as eleições e de dizer que a crise era “algo psicológico”, que tinha que “gastar para que a economia girasse”. Alugou o antigo aquário romano, um edifício circular no centro de Roma e encenou a versão moderna dos triunfos imperiais: as colunas de mármore branco iluminavam-se com luzes vermelhas e verdes, enquanto ele se movia como grande anfitrião, as fêmeas recebiam brincos de esmeralda e os varões relógios Locman.
No ano seguinte, presenteou televisores de 23 polegadas a todos e em 2010 optou por uns iPad para eles e anéis tricolores para elas. Neste ano, acaba sem nada. Até agora. Os mínimos gestos se convertem em símbolos diante os focos da atenção pública, de modo que, enquanto não termine no ano, tudo pode acontecer.
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