Desafio da Bolívia será encontrar compradores para gás da Repsol
Especialistas dizem que potenciais clientes, Brasil, Argentina e Chile não terão interesse em gás produzido no campo de Margarita 6
O grande desafio da Repsol na Bolívia será encontrar compradores para os 6 milhões de metros cúbicos diários que serão produzidos pelo campo de Margarita 6, no sul do país. O cenário pintado pelos especialistas consultados pelo EL PAÍS é um dos piores possíveis para quem está comemorando a produção recorde do país.
Hoje, os principais clientes do gás boliviano são Brasil e Argentina. Os dois pagam cerca de 7 dólares por milhão de BTUs.
O problema no caso brasileiro é que já há um contrato comercial mensal com La Paz que prevê o repasse máximo de 30 milhões de metros cúbicos por dia e o mínimo de 19 milhões. Ocorre que a venda máxima só é feita quando as usinas termelétricas estão operando com força total, o que costuma acontecer durante quatro meses do ano. Ou seja, na maior parte do ano, sobra gás.
Outro ponto negativo para esse negócio ser ampliado é que, segundo especialistas estimam, a indústria de todo o Brasil necessite de 28 milhões de metro cúbicos por dia para se manter em pleno funcionamento. Além disso, o país caminha para cada vez mais se tornar autossuficiente em energia e, consequentemente, reduzir o que já compra atualmente da Bolívia.
Já com relação ao governo argentino, o problema é maior. Apesar de pagar 7 dólares pelo gás, a Argentina o vende internamente por até 3 dólares.
“É uma conta que não fecha. São subsídios dados pelo governo que uma hora podem se transformar em um calote”, afirmou o economista e engenheiro Edmilson Moutinho dos Santos, do professor da Universidade de São Paulo (USP).
Outros vizinhos
As outras opções para a Bolívia seriam os vizinhos Chile, Peru e Paraguai. No caso chileno, a diplomacia impede qualquer negócio milionário entre os dois países.
“A Bolívia só vai negociar com o Chile se tiver acesso ao Oceano Pacífico por meio de terras chilenas. Algo que o Chile não está disposto a ceder”, afirmou Santos.
O Peru, assim como a Bolívia também produz gás e é autossuficiente para isso. Já o Paraguai tem uma das mais amplas redes hidrelétricas do mundo, com duas grandes usinas de energia, a de Itaipu (na fronteira com o Brasil e a Argentina) e a de Yaciretá (que divide com a Argentina).
“Negócios com o Paraguai só se fosse para substituir as indústrias movidas a óleo diesel. Mas para isso, seria necessário ter uma rede de logística, com vários dutos, que a Bolívia não tem e, possivelmente, não tem recursos para fazer”, ponderou o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) do Brasil, David Zilberstein.
Outra pedra no sapato da Repsol, e consequentemente do governo boliviano, é a falta de confiança que o mercado mundial tem nesse país. Na década passada, assim que assumiu o governo, o presidente Evo Morales nacionalizou os principais campos de gás do país. Com o tempo parte deles foi devolvida.
“Qual é a credibilidade desse governo. Ele precisará de mais uns 20 anos para recuperar a confiança”, afirmou o professor Santos.
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