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Biden tenta dissipar temores e reafirma em Seul a virada dos EUA para a Ásia

O vice-presidente pede à Coreia do Sul que se aproxime do Japão contra as aspirações chinesas de expansão territorial

O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, em universidade de Seul.
O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, em universidade de Seul.WOOHAE CHO (AFP)

"Quero deixar uma coisa absolutamente clara. A decisão do presidente [Barack] Obama de reequilibrar [as políticas exterior, econômica e militar] para a bacia do Pacífico não está em questão". É a mensagem que emitiu nesta sexta-feira o vice-presidente norte-americano, Joe Biden , da Coreia do Sul, no meio das especulações que afirmam que Obama não respondeu às expectativas que criou quando ao começar o seu mandato assegurou que Ásia-Pacífico era prioridade absoluta para Washington.

A Administração dos EUA se comprometeu em incrementar a influência, os recursos e o alcance diplomático na região e fortalecer a presença militar com o objetivo de que, em 2020, 60% dos barcos de guerra norte-americanos tenham sua base na zona, frente 50% de hoje. Mas durante o segundo mandato, as crises no Irã, Síria e Egito absorveram a atenção de Obama em política exterior, enquanto em temas nacionais ficou focado em problemas de grande alcance político e no confronto com os republicanos pela paralisação da administração, que lhe obrigaram a cancelar sua viagem para a Ásia prevista para outubro passado.

A decisão levou a muitos na região a se perguntarem se a Ásia continuava sendo prioridade para Washington. ”Em cada país no qual fui me fizeram este comentário: Quando acha que o presidente vai fazer alguma coisa? Até agora, foram sobretudo palavras e compromisso diplomático. Querem que vá além de palavras”, assegurava uma semana atrás o congressista republicano Steve Chabot.

A conselheira de segurança nacional, Susan Rice, afirmou recentemente que a Ásia continua sendo prioritária, e disse que Obama visitará a região em abril e que os Estados Unidos seguirão aprofundando seu compromisso com a zona “independentemente dos conflitos que surjam em qualquer outra parte do mundo”.

Obama vê o continente, que está experimentando um rápido crescimento, como vital para os interesses de seu país, e esta é a mensagem que passou Biden aos seus interlocutores durante viagem asiática. "Os Estados Unidos nunca dizem algo que depois não fazem", assinalou em Seul para evitar dúvidas.

Ao discursar em uma universidade de Seul, Biden afirmou que as mudanças pelas quais apssam a  Ásia vão transformar o mundo, e que nos encontramos em um momento de inflexão no qual temos a oportunidade de modificar a história, informou a agência de notícias Associated Press. O mandatário lembrou que o crescimento requer paz, mas advertiu que com ele vêm também novas tensões e ameaças.

A turnê asiática de uma semana do vice-presidente, que chegou ontem à noite a Seul depois de passar por Japão e China, está destinada a reforçar a determinação dos Estados Unidos de ser uma potência na Ásia, mas foi protagonizada pela crise provocada pela recente declaração por parte da China de uma nova “zona de identificação de defesa aérea” (ADIZ em suas siglas em inglês). A área fica sobre ilhas no mar da China Oriental que se disputam Pequim e Tóquio. A medida requer que todos os aviões que a cruzem informem às autoridades chinesas de seus planos de voo e mantenham contato por rádio. Washington e Tóquio se negaram. O conflito se somou a outros latentes, como o programa nuclear norte-coreano, as desavenças históricas do Japão com China e Coreia do Sul e as diferenças territoriais de Pequim com muitos de seus vizinhos.

"Estamos em um momento que a situação no nordeste da Ásia é muito incerta e as tensões na região vão aumentando. Acho que a viagem do vice-presidente para a Coreia do Sul e a região será de muita ajuda para a paz", assegurou a presidenta sul-coreana, Park Geun-hye, segundo informou a agência deste país Yonhap. Biden tem urgido a Seul a que incremente a cooperação e melhore as relações com Tóquio, marcadas pelo passado imperialista do Japão e sua ocupação da península coreana durante a Segunda Guerra Mundial.

A ADIZ chinesa se sobrepõe com a do Japão, mas também com a da Coreia do Sul, que estuda ampliá-la em resposta ao movimento chinês. Seul preparou um rascunho para uma nova zona aérea que inclua as ilhas de Mara e Hong e o Centro de Investigação do Oceano da ilha de Leo, que está construído sobre um recife submarino dentro das zonas econômicas exclusivas que Coreia do Sul e China têm em comum, segundo Yonhap. Washington recusou a zona de defesa chinesa, que, segundo disse, quebra o status quo no Mar da China Oriental, e Biden voltou a lembrar em Seul. disse que “não terá nenhum efeito nas operações americanas”. “Nenhum, zero”. Pode ser que Washington não esteja também com a ampliação que quer executar em Seul.

Nas conversas entre Biden e Park, as negociações para o desmantelamento do programa nuclear norte-coreano, que se encontram estagnadas, ocuparam um local predominante. Coreia do Norte expressou em repetidas ocasiões seu interesse em retomar as conversas a seis bandas —algo que também quer a China— para pôr fim a seu programa atômico. Mas Coreia do Sul e os Estados Unidos exigiram a Pyongyang que dê passos antes de demonstrarem seu compromisso com a o fim de seu programa nuclear. “Que não fique nenhuma dúvida, os Estados Unidos estão comprometidos a fazer o necessário para defender nossos aliados e a nós mesmos contra a agressão norte-coreana. Ponto”, disse Biden em seu discurso na Universidade Yonsei, segundo a France Press. “A comunidade internacional não aceitará nem tolerará uma Coreia do Norte dotada de armas nucleares”. No sábado, Biden visitará a zona desmilitarizada que separa as duas Coreias antes de voltar aos Estados Unidos.

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