_
_
_
_

Soweto chora por Madiba

O gueto onde Mandela viveu depois de recuperar a liberdade em 1990 lhe rende uma emocionada homenagem, "Foi um extraordinário presente para o mundo", lembra o arcebispo Desmond Tutu

"O mundo chora", reza a portada de The '' Star de Soweto.
"O mundo chora", reza a portada de The '' Star de Soweto.ALEXANDER JOE (AFP)

O homem Nelson foi embora, mas seu legado de paz e reconciliação continua vigente e vivo. África do Sul acordou nesta manhã triste pela morte daquele que foi o primeiro presidente negro, mas também, com um certo alívio porque, finalmente, o velho Madiba, de 95 anos, pode descansar depois de toda uma vida dedicada a lutar pelos direitos e as liberdades dos demais.

“Soube quando eu estava no ônibus que Madiba havia morrido”,  lamentava uma mulher a caminho do seu trabalho em um dos distritos localizados ao norte de Johannesburgo. A notícia foi conhecida por volta da meia-noite, uma hora intempestiva para um país que vive e respira ao ritmo da luz solar. Por isso, muitos sul-africanos vão se interando pouco a pouco, quando eêem as edições especiais que os jornais rodaram, que rendem suas homenagens particulares com grandes fotografias. “O mundo chora”, acerta o popular The Star .

Com lágrimas nos olhos Razia Moosagee dizia estar “consternada”. Ela só soube nesta manhã e anima seus compatriotas a “recordar o enorme sacrifício que ele fez pela África do Sul, lembrar da sua contribuição  para o país de liberdade que temos agora” e tê-lo como exemplo “de que com ódio África do Sul irá para atrás”.

Os restos mortais do ex-presidente sul-africano foram trasladados a um hospital militar em Pretoria, segundo informou o canal de notícias News 24. Hoje começa o período de luto que se alongará até os funerais de Estado, previstos para acontecer num prazo aproximado de 10 dias, embora possam ser estendidos para ter todo o protocolo preparado e receber às centenas de personalidades do mundo da política, a cultura ou as associações beneficentes.

A capela se instalará em Pretoria, custodiada pela Guarda de Defesa. Esta cidade, a capital política, acolherá o funeral de estado sem o corpo presente, nos Unions Buildings, a majestosa sede do Governo.

As demonstrações de respeito e de consternação começaram pouco depois de que o presidente, Jacob Zuma, anunciasse à nação a morte de Mandela. Dezenas de pessoas se reuniram na frente da casa de Madiba para render-lhe uma homenagem improvisada.

Durante os próximos dias, as bandeiras de todo o país vão ser hasteadas em meio mastro, e embora não tenha sido decretado nenhum dia feriado, licenças especiais serão facilitadas para que os trabalhadores possam comparecer às cerimônias  em sua memória.

Ainda não é se sabe de que forma decorrerão os atos fúnebres, que serão consensuados entre a família Mandela e o Governo. Há uma possibilidade de um grande ato de despedida ser organizado, possivelmente em Soweto, o township (gueto) onde Mandela viveu nos anos anteriores a seu encarceramento e onde se instalou depois de ser colocado em liberdade em 1990 e se transformar num dos símbolos anti apartheid.

O arcebispo emérito de Cidade do Cabo e amigo de Mandela, Desmond Tutu, organizou esta manhã uma prece em Cidade do Cabo e não pôde evitar as lágrimas ao recordar a figura de seu velho camarada contra o apartheid.

Tutu, como no dia anterior fez Zuma, pediu aos sul-africanos que se mantenham unidos nestes momentos, da forma que Mandela lhes ensinou.

“Madiba foi um extraordinário presente para o mundo todo”, disse Tutu durante o ritual religioso, para acrescentar que apesar da dor, a África do Sul não pode “afundar na dor das lágrimas”. O arcebispo assegurou que o mundo “ama Mandela pela sua coragem, convicções e o cuidado com as pessoas”.

Mas onde, talvez, a sua morte esteja sendo mais sentida é em Soweto. Uma multidão dança ao ritmo de canções tradicionais africanas, diante da que foi a casa de Mandela, na rua Vilakasi, a única do mundo que pode se deduzir que acolheu dois prêmios Nobel da Paz: o próprio Madiba e Tutu.

Como todas as sextas-feiras, hoje a África do Sul comemora a Sexta-feira de Liberdade que anima os sul-africanos a vestir-se com os trajes tradicionais tribais ou exibir as t-shirts das seleções nacionais esportivas. É uma iniciativa que procura criar um sentimento de unidade, de que todos, negros e brancos, se sintam “orgulhosos” de ser cidadãos de um país multirracial e multicultural. Vê-se muito amarelo em Soweto, a cor do time Bafana Bafana, a seleção de futebol, embora confundem-se com as t-shirts do Congresso Nacional Africano, o partido pelo qual Madiba lutou pela liberdade.

A universitária Deidre Mae também não pode esconder sua “profunda tristeza” e assegura que ao longo do dia deixará uma vela acesa nesta rua. A chama do que semeou Mandela não pode ser apagada.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_