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O Governo da Argentina aposta na desvalorização do peso

O Governo de Kirchner acelera a depreciação, sobretudo para os que viajam ao exterior e fazem compras pela internet

Alejandro Rebossio
Crsitina Kirchner acena na Casa Rosada.
Crsitina Kirchner acena na Casa Rosada.

A Argentina sofre uma escassez de divisas e para enfrentá-la decidiu acelerar a desvalorização gradual que o peso vinha sofrendo ao longo deste ano. O dólar subiu 21,5% em relação à moeda argentina, entre janeiro e meados de novembro, mas, a partir de então, a presidenta Cristina Fernández de Kirchner renovou sua equipe de governo, e a apreciação da divisa passou a acumular 25,2%. Além disso, nesta terça-feira, o Executivo dispôs de uma desvalorização adicional do peso para aqueles que viajam ao exterior ou que compram através do comércio eletrônico bens ou serviços vindos de fora do país.

O renovado Governo de Fernández, com Jorge Capitanich como chefe de Gabinete e Axel Kicillof como ministro de Economia, aposta em desvalorizar o peso por várias razões. Desde 2011, as reservas do Banco Central caíram de um máximo histórico de mais de 52.000 milhões de dólares para menos de 32.000 milhões, pese os controles cambiais instaurados há dois anos para impedir que os argentinos seguissem poupando em dólares ou usando a moeda norte-americana para operações imobiliárias, como o tinham feito desde a década de 70. O pagamento da dívida externa pública e privada e a crescente importação de energia, insumos industriais e serviços de turismo no exterior, moeram as reservas, que são chave para evitar uma desvalorização brusca que provoque mais inflação (na atualidade ascende a 25,5% anual) e menos crescimento (3,4%).

Kicillof, autor intelectual da nacionalização da YPF, disse nesta segunda-feira que não quer uma “desvalorização violenta”. Foi isso o que aconteceu no início do ano com a Venezuela, que deixou que o dólar se valorizasse inesperadamente a 46% em relação ao bolívar, fazendo com que inflação saltasse para 49% e o crescimento se contraísse a 1%. O ministro de Economia argentino aposta em um ritmo gradual mas inexorável de depreciação do peso, que, pela primeira vez em seis anos de Governo de Kirchner, atingiu o nível da inflação.

O que o Executivo quer são dois objetivos. De um lado, o fôlego para o investimento estrangeiro, de modo que o rendimento de divisas recomponha as reservas do Banco Central. As multinacionais não estavam dispostas a trocar seus dólares por 5 pesos, como estabelecia a taxa de mudança oficial no início deste ano, enquanto no mercado paralelo chegava a superar os 10. Em troca disso, agora a moeda norte-americana cota a 6,17 no segmento oficial, enquanto em operações legais com bônus e ações, usadas por empresas e investidores sofisticados, se consegue a 8,35 e no mercado ilegal, ao que recorrem pequenos investidores e também fraudadores tributários, a 9,18. Ademais, o jornal Âmbito Financeiro antecipou que o Governo avalia flexibilizar o giro de benefícios de filiais de multinacionais a suas casas matrizes. O segundo objetivo do ritmo de desvalorização, o segundo maior de América Latina em 2013, depois da Venezuela, é encarecer em termos de pesos a importação de bens de consumo e serviços, de modo a desalentar a saída de divisas.

O Governo também tornou esta terça-feira mais caras as viagens ao exterior e o comércio eletrônico internacional. Até a segunda-feira, aqueles que cruzavam as fronteiras podiam comprar com uma cota restringida divisas em numerário com a taxa de mudança oficial e o resto das despesas, incluídos os bilhetes de avião e a estadía de hotel, podiam ser pagos com cartão de crédito com um encargo de impostos de 20%. Esse encargo também estava estabelecido para o comércio eletrônico com o exterior e podia ser recuperado em um ano, depois depois de um complicado trâmite burocrático. Mas agora essa taxa tributária se elevou a 35% e também servirá para a cota de divisas em numerário. Significa que, o argentino que viajar para fora do país no próximo verão austral comprará dólares a 8,30 pesos, em local dos 6,17 da taxa de câmbio oficial ou dos 7,28 que implicava o encargo tributário de 20%.

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