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“Um ciclo de cinco anos é muito difícil”

Sete treinadores, entre eles o técnico da Espanha, Vicente del Bosque, analisam a repercussão para a “Roja” da suposta má fase de Xavi e Iniesta, astros do Barcelona FC

Thiago, Bartra e Isco festejam um gol contra a Itália durante o último Campeonato Europeu Sub-21.
Thiago, Bartra e Isco festejam um gol contra a Itália durante o último Campeonato Europeu Sub-21.ronen zvulun (REUTERS)

Como o estilo tem sido quase o mesmo nos últimos cinco anos, até que ponto a suposta crise do Barça pode afetar a seleção espanhola? Pelas mãos principalmente de Xavi e Iniesta, a Espanha ganhou no último quinquênio três títulos consecutivos (a Copa de 2010 e as Eurocopas de 2008 e 2012), e o Barça colheu 16 troféus: quatro Ligas Espanholas, duas Liga dos Campeões, duas Supercopas da Europa, duas Copas do Rei e quatro Supercopas da Espanha.

Por qualidade e quantidade, a Espanha conta com a maior lista de meio-campistas da sua história, a ponto de ter exportado dois deles para o atual campeão da Europa, o Bayern de Munique (Javi Martínez e Thiago); mas se o Barça espirra, a seleção pega uma gripe. E, se a nata – Xavi e Iniesta – cai de rendimento, acende-se o alarme na Roja. No entanto, o treinador Vicente del Bosque mantém a calma. Importa-lhe mais o estado de ânimo dos seus jogadores do que o físico. E outros seis técnicos – Luis Milla, Javier Irureta, Pichi Alonso, Manu Sarabia, José Luis Mendilibar e Juanma Lillo— acrescentam matizes ao debate.

DEL BOSQUE

“Mais do que físico, é um assunto mental”

“Que não nos arraste o imediatismo. Ainda faltam meses. Devemos ser precavidos. Com outros jogadores jovens [uma queda de desempenho] pode ser atribuída a um fato pontual; em se tratando de Xavi, é quase uma sentença de morte. Isso já aconteceu com todos nós, veteranos. Mais do que físico, é um assunto mental: a emoção, a humildade, o desejo de continuar ganhando, olhar tudo com os olhos do principiante, independentemente da idade. Há jovens que acreditam que sabem tudo, e são nocivos. A idade não é um mérito; é um estado”. Em seguida, o treinador espanhol recorda que o futuro está assegurado, com um mínimo de 14 jogadores de primeira linha: “Thiago, Isco, Illarra, Koke, Javi Martínez, Mata, Jordi Alba, Moreno, Bartra, Deulofeu…”.

LUIS MILLA

“Não tem por que repercutir”

Xavi Hernández celebra um gol com Iniesta ante o Getafe em 2007
Xavi Hernández celebra um gol com Iniesta ante o Getafe em 2007REUTERS

“Antes o Barça era 100% combinativo, e agora é só 60%. O Tata Martino de um jeito de não ser tão previsível, e Xavi e Iniesta perderam protagonismo, porque há transições mais rápidas e o jogo não passa tanto por eles. Mas na seleção vão jogar igual a até agora.” Milla, que foi técnico da seleção espanhola sub-21, campeã europeia em 2011 contra a Suíça (2 x 0), conhece bem a ninhada que vem chegando. “Thiago tem personalidade, ambição e vai crescer, porque Pep Guardiola vai exigir muito dele no Bayern de Munique. Não entendo como esse jogador pôde ter saído do Barcelona. Isco é mais como Iniesta: quando há muito pouco espaço, se desvencilha com um toque de tornozelo. Virá muito a calhar para o Real Madrid quando enfrentar rivais retrancados. A possível entrada do alvirrubro Diego Costa no ataque também não mudará nada. Ele tem muito poderio com espaços, mas também é capaz de tabelar.”

JAVIER IRURETA

“O processo deve ser gradual”

“Em curto prazo, não acho que vá afetar. Mesmo que mudem os jogadores, por um processo natural, o estilo vai se modificando. Há jogadores que não estão em seu melhor momento, ou porque a idade começa a fazer efeito. Xavi está um pouco cinzento, falta-lhe um pouco de fagulha. Iniesta também está discretinho, e o estilo tanto do Barça quanto da seleção são eles que ditam. Seus substitutos já não serão iguais. O mais parecido com Xavi seria Thiago, mas precisa amadurecer. Eu achei que ele estava muito bem recentemente contra o Borussia Dortmund. Xavi não foi o verdadeiro Xavi até completar cinco anos de Barça. E Isco tem semelhanças com Iniesta, mas joga mais perto da área contrária, e Iniesta desce mais. Thiago e Isco precisam ter continuidade nas suas equipes; se não, será impossível exigir qualquer coisa deles. O processo deve ser gradual.”

PICHI ALONSO

“Quem diz que não voltarão ao seu nível?”

“No futebol, um ciclo além de três anos é muito difícil. E [mais ainda] de cinco. Se você se volta contra essas vacas sagradas, quem diz que eles não voltarão a ter o nível que tinham? Xavi e Iniesta têm ditado o estilo do Barça e, se não estiverem afinados, claro que isso pode influir na seleção. Mas, se a Espanha fracassar no Brasil, por exemplo, não deveria romper com esse modelo que lhe trouxe tanto sucesso. Aí estão Cesc, Cazorla, Silva… com perfis diferentes, mas o mesmo estilo. Xavi é irrepetível, embora o Xavi que esteve a um pé de deixar o Barça tenha mudado radicalmente quando o avançaram cinco metros. Pode haver surpresas na evolução dos jogadores. E o estilo deve continuar sendo o mesmo.”

Xavi com Andrés Iniesta, durante o partido da Copa do Rei ante o Saragoça
Xavi com Andrés Iniesta, durante o partido da Copa do Rei ante o SaragoçaREUTERS

MANU SARABIA

“Nem louco substituiria Xavi e Iniesta”

“Parece que há uma hecatombe no Barça e, por conseguinte, na seleção. Depende do nível de exigência, e Xavi e Iniesta nos deleitam há muitíssimos anos. Ao longo de uma carreira, há momentos piores, não se pode estar sempre no nível 10. Pensando na Copa do Brasil, tudo vai depender da administração das partidas de Xavi, que já tem idade [33 anos]. Não tem por que jogar 60 partidas, mas sim 30 boas. Mas não somente ele, como também todos os outros. Há um desgaste muito grande por competir com força total no seu clube e depois na seleção. Xabi Alonso também. E Busquets, por ser mais jovem, algo menos. A Espanha volta a aspirar a ser campeã do mundo. Em uma partida recente da Liga dos Campeões, Xavi foi quem mais tinha corrido. Comentamos isso, e ele disse: “Outro jogo a mais”. Não acredito que ele possa se dosar durante as partidas porque se diverte tanto que precisa participar e ser protagonista. Seja como for, a Espanha tem mais variedade e riqueza de meio-campistas do que nunca. Thiago seria um jogador intermediário entre Xavi e Iniesta. Isco é diferente: excepcional de meia-atacante, mas tem dificuldades como ponta. Por outro lado, Koke tem um caminho imenso na seleção: pode jogar por dentro e por fora [da grande área], com mais ou menos chegada, é muito completo. Mas não penso, nem louco, que seja hora de substituir Xavi e Iniesta. Ainda nos reservam grandes alegrias”.

JOSÉ LUIS MENDILIBAR

“Estamos em dezembro e o Barcelona é o líder”

“É muito cedo para tirar conclusões sobre um assunto que merece uma análise muito profunda. Eu não vejo que o Barcelona esteja tão mal. Só perdeu duas partidas, e o nível de alguns jogadores em uma equipe não tem por que afetar seu rendimento na seleção. É preciso ser pacientes e esperar. Ainda estamos em dezembro, e o Barcelona é o líder do campeonato. Não nos precipitemos”.

JUANMA LILLO

“Afetará, sim, o jogo da seleção”

“Acredito que o jogo do Barça afetará, sim, o jogo da seleção. Da mesma forma que um ambiente harmônico e grato numa equipe superlativa, com uma estrutura em que chegavam a jogar sete atletas que atuam no exterior, condicionou positivamente a seleção [espanhola] na Copa da África do Sul-2010, agora é lógico que possa ocorrer o contrário. De fato, a estrutura tática já não é tão evidente no Barcelona, e isso faz pensar que, por esse caminho, será menos evidente ainda na seleção.”

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