_
_
_
_

O Congresso mexicano prepara o fim do veto à reeleição de políticos

Os três principais partidos desenham uma reforma eleitoral que permite a deputados, senadores e prefeitos optar por um segundo mandato. Os presidentes e governadores continuam excluídos

Luis Pablo Beauregard

Um tabu vigente por oitenta anos. A reeleição de deputados, senadores e prefeitos estará contemplada novamente na Constituição mexicana, um século após a Revolução usar o grito de batalha “voto eficaz, não à reeleição”. Um grupo de senadores discute os últimos detalhes de uma reforma político-eleitoral que poderia ser aprovada até sexta-feira. Este pacote de propostas é a última alfândega da oposição pela qual o Governo deverá passar antes de discutir a reforma energética. Esta última é o ápice do projeto de um ano de iniciativas, impulsado pelo presidente Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).

A inclusão da reeleição no pacote de reformas é importante. “Isto romperia o controle das burocracias partidárias na designação de candidatos. Aqueles que desejem se reeleger terão que estar atentos às questões dos cidadãos de seu território", diz o analista político Sérgio Aguayo. Mas o debate gerou discrepâncias entre os legisladores. Os senadores do partido de direita da Ação Nacional (PAN) desejam que a oportunidade de um segundo mandato comece imediatamente (as próximas eleições de deputados federais serão em 2015). O PRI e o Partido da Revolução Democrática (PRD) consideram a proposta “politicamente incorreta” e preferem que os políticos somente possam ser reeleitos na próxima legislatura.

Os senadores de oposição do PAN e o partido de esquerda PRD se encontram em um cabo de guerra com seus homólogos do PRI, o partido no poder. Eles querem opinar sobre uma série de propostas que mudariam a forma de fazer política no México. "40% dos mexicanos não acredita na 'limpeza' das eleições. Também não acreditamos nos partidos e na democracia. Parte do problema é que nosso sistema político está cheio de lastros e vícios que impedem que a democracia funcione”, afirma Aguayo.

O objetivo dessa reforma tratará de corrigir esses vícios. Os maiores obstáculos que impedem o acordo estão nos detalhes de alguns temas. Um deles é a criação de um Instituto Nacional Eleitoral, um organismo que reduzirá o poder dos institutos estatais encarregados de organizar eleições. “O mínimo que devemos esperar desta reforma é uma autoridade eleitoral imparcial, que não seja controlada pelos partidos políticos nem pelos governadores”, considera Aguayo. Os três principais partidos estão a favor de um organismo deste tipo, mas ainda estão discutindo os detalhes.

Um senador que segue de perto as negociações, reconhece que o PRI, o partido do Governo, vetou um só tema: o segundo turno. Enrique Peña Nieto chegou à presidência com o 38 por cento dos votos nas eleições de 2012. “O segundo turno é recusado por uma razão muito simples”, explica Aguayo, “o PRI ganha do PAN e do PRD separadamente mas, se eles se unem, ganham o PRI”. Para Ignacio Marván, professor do Centro de Investigação e Docência Econômica (CIDE) da capital mexicana, este era um dos pontos mais importantes da reforma. “Será uma má reforma se não contar com isso. É a única garantia para que o menos votado não chegue à presidência”, aponta.

Alguns funcionários foram enviados pela Presidência do México para se reunirem com os senadores do PAN e do PRD, na terça-feira à noite, numa tentativa de destravar as negociações. Desde que houve esse encontro “algumas coisas começaram a fluir”. Esta reforma também abre a possibilidade para que os estados modifiquem sua constituição e permitam a reeleição de congressistas locais e prefeitos.

A reforma conseguiu que os três partidos se pusessem de acordo em outros temas importantes. Uma eleição será anulada caso se constate que a campanha ultrapassou os limites de gastos permitidos por lei. Os candidatos que não respeitem a medida serão penalizados e não poderão voltar a pleitear o cargo. Os candidatos o ficam proibidos de usar meios de propaganda eleitoral que não sejam bandeiras, bonés e camisetas. Também diminui o tempo das campanhas eleitorais. A reforma prevê a criação de um Conselho Anti-corrupção e uma Promotoria Geral. E, um assunto não menos importante, que o Distrito Federal se converteria em um estado e teria sua própria assembleia constituinte.

A lista de modificações é longa. “O PAN quer tirar tudo o que puder do PRI. É uma pechincha óbvia e evidente”, aponta Aguayo. A reforma energética, a mais importante para o Governo, poderia começar a ser discutida na semana próxima, caso estas modificações de viés político chegam a bom porto.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_