_
_
_
_

Maduro ocupa outra empresa para evitar o desabastecimento

A rede de eletrodomésticos Daka sofre intervenção e será administrada por tempo indeterminado por um militar

Cidadãos de Caracas compram eletrodomésticos há duas semanas.
Cidadãos de Caracas compram eletrodomésticos há duas semanas.EFE

A rede de eletrodomésticos Daka, que marcou o início da ofensiva econômica do presidente Nicolás Maduro no combate à inflação, foi ocupada temporariamente pelo Governo por meio do Indepabis, o órgão estatal de defesa do consumidor. São cinco filiais localizadas em pontos-chave do país que, de agora em diante e por tempo indeterminado, serão administradas por um militar, o coronel Hermes Carreño, para garantir a reposição do estoque.

À medida que se aprofundam o confisco e o leilão de mercadorias de todos os bens oferecidos pela empresa privada, os seus estoques também baixaram significativamente. Na sexta-feira passada, em uma das filiais da Daka, já não havia aparelhos de TV, máquinas de lavar e geladeiras e os encarregados da administração da loja não sabiam quando haveria reposição.

A essa escassez se soma a preocupação do Governo de não provocar com suas decisões o fechamento de um negócio de capital privado, muito menos antes das eleições regionais cruciais que serão realizadas no próximo dia 8, e que serão um teste para medir a força da liderança de Maduro. Dois dados ilustram esta inquietude não admitida. Nos últimos treze anos foram fechadas 107.000 empresas na Venezuela. E o número de indústrias caiu 36% desde 1998, segundo números do Instituto Nacional de Estatística venezuelano.

O Governo, apesar disso, conseguiu dissimular os dados de desemprego incluindo os trabalhadores temporários no cálculo da taxa e os que estão somados à burocracia do Estado sob a figura das Missões, os programas sociais criados com a assessoria castrista desde 2003. Em outubro, esse número manteve sua média –a taxa de desemprego foi de 7,6%- mas não são poucos os analistas que antecipam que esse indicador subirá caso seja cumprida a previsão de fechamento feita pelos sindicatos patronais após a radicalização dos controles.

De agora em diante os empresários estarão inseridos na Lei Orgânica para o Controle de Custos, Preços e Lucros e a Proteção da Família Venezuelana, que estabelece tetos aos benefícios que um negócio pode proporcionar a seus donos. “Nós jamais poderíamos pedir ao empresário para que venda com prejuízo”, disse o vice-presidente Jorge Arreaza em resposta às críticas que preveem que as decisões do Governo golpearão o setor privado.

Essa simples possibilidade, no entanto, fez com que o Executivo começasse a agir para manter as lojas abastecidas. O general Hebert García Plaza, chefe do Órgão Superior para a Economia, assegurou em discurso transmitido pela TV estatal Venezuelana que na sexta-feira a rede voltaria a abrir com oferta suficiente para que os venezuelanos possam comprar eletrodomésticos “a preços justos”.

“Temos que garantir a continuidade trabalhista e o trabalho de três cooperativas associadas a essa empresa. Tenham a segurança de que haverá produtos. A partir do próximo fim de semana haverá venda para todo o povo venezuelano”, completou. O vice-ministro do Trabalho também esteve presente em uma loja Daka e garantiu que os trabalhadores cobrarão seu salário de novembro e a diferença de bônus, que não incluíam no cálculo inicial o pagamento de comissões sobre o salário. Tudo faz parte de um lema que as autoridades costumam repetir cada vez que uma empresa privada é expropriada: “A estabilidade dos trabalhadores está garantida”.

Nos últimos treze anos foram fechadas 107.000 empresas na Venezuela. E o número de indústrias caiu 36% desde 1998

Isso ocorre em um momento em que prosseguem as inspeções para obrigar o comércio a reduzir os preços. Nesta quarta-feira, o braço implacável do Governo chegou até uma conhecida loja de instrumentos musicais em Caracas, chamada La Piña Musical (O Abacaxi Musical), onde o ministro da Cultura, Fidel Barbarito, compareceu para denunciar o sobrepreço dos instrumentos e acessórios. “Os homens das artes têm direito a preços justos em suas ferramentas de trabalho”, explicou, antes de anunciar uma multa ao estabelecimento. Mais tarde, um grupo de visitantes da loja protestou contra a medida. Outros esperavam a liquidação nos preços para gastar seu dinheiro.

Há um antecedente nada animador para se compreender a eficácia das ocupações temporárias. Em 21 de setembro, o Governo se instalou na Manpa, uma empresa fabricante de papel higiênico, com a esperança de regularizar o fornecimento desse insumo. Até o fim desse mês, 79 em cada 100 estabelecimentos comerciais de Caracas não conseguiam esse produto, enquanto em dezembro de 2012, o número de locais desabastecidos estava situado em 17, segundo o índice de escassez divulgado pelo Banco Central da Venezuela. Dois meses após a decisão ainda custa encontrar o produto e, quando os clientes conseguem, levam o máximo de pacotes permitidos. Na Venezuela, as pessoas começam a armazenar comida e bens de uso pessoal prevendo que os próximos meses serão complexos e difíceis devido aos estoques baixos.

Para que essa sensação de mal-estar aumente, basta ouvir os sindicatos patronais e grêmios empresariais. “Os estoques caíram um pouco mais de 30% nas unidades durante o terceiro trimestre de 2013 em comparação com o mesmo período do ano anterior”, informou o presidente do Conselho Nacional de Comércio (Consecomercio), Mauricio Tancredi, em um evento que celebrava o Dia Nacional do Comércio e dos Serviços, em Caracas. Enquanto os empresários seguem fazendo contas para avaliar a viabilidade de seu negócio com as novas regulamentações, o Governo empreende ações em novos setores da economia. Agora se tornou um importador de eletrodomésticos. A qualquer preço quer evitar que o fim dos estoques arruíne a promessa dos preços justos.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_