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Ir ao banheiro é um luxo para 120 milhões de latino-americanos

A região está cada vez mais rica, mas é mais fácil ter um celular que um lavabo

Membros da etnia brasileira Javaé-Itya, em Cuiabá (MT)
Membros da etnia brasileira Javaé-Itya, em Cuiabá (MT)PAULO WHITAKER (REUTERS)

Na América Latina, mais gente tem acesso a um celular que a um banheiro. É isso mesmo. No Dia Mundial dos Banheiros, celebrado na última terça-feira, e criado pela ONU, a região enfrenta um dado que contrasta com os avanços sociais e econômicos dos últimos anos: cerca de 120 milhões de latino-americanos carecem de acesso a um banheiro ou um de  local com condições de higiene e segurança para realizar suas necessidades fisiológicas.

Mais de 4.000 crianças morrem diariamente no mundo por falta de acesso adequado a água e saneamento básico, um problema que afeta a 2.500 milhões de pessoas, quase um terço da população mundial.

Fora das cidades, o problema é ainda mais grave. Um terço dos moradores de áreas rurais na América Latina estão potencialmente expostos ao contato com suas próprias fezes, já que carecem de um sistema de separação de suas necessidades, como uma rede de esgoto. Nas cidades latino-americanas, 13% dos habitantes sofrem dessa exposição.

“Nas áreas urbanas, temos uma abrangência similar à de outros países em desenvolvimento, mas nas áreas rurais, a situação é comparável à dos países mais pobres do mundo”, afirma Ivo Imparato, diretor do Programa de Água e Saneamento para a América Latina e Caribe do Banco Mundial.

Tudo isso ocorre em uma região onde, pela primeira vez na história, o número de pessoas de classe média superou o número de pobres. Ao longo da última década, mais de 70 milhões de pessoas deixaram a pobreza e 50 milhões somaram-se à classe média, em virtude de um crescimento econômico sustentado pela solidez das políticas públicas.

Nos Objetivos do Milênio, criado pelo Banco Mundial, a região compromete-se a oferecer acesso ao saneamento básico a mais de 90% dos latino-americanos até 2015. A realidade é que, em 2011, esse percentual mal tinha chegado a 82% e especialistas acham que será difícil cumprir a meta.

Além de contribuir com o aumento da pobreza extrema e da desnutrição e mortalidade infantil, a falta de um saneamento adequado também gera altos custos econômicos.

Por exemplo, na Nicarágua, onde a metade da população carece de um local adequado para suas necessidades fisiológicas, se perdem cerca de 95 milhões de dólares ao ano por falta de saneamento. Com esse montante se poderia custear a educação de 470.000 estudantes, segundo um estudo do Banco Mundial. Trata-se de um gritante desperdício de recursos, se levado em conta que a cada dólar investido em água potável e saneamento, podem ser poupados até 34 dólares em custos de saúde e educação, entre outros.

Na opinião de especialistas, nesses investimentos reside a chave do próximo grande salto econômico qualitativo da região.

“Experimentamos, apesar da crise mundial, dez anos de crescimento extraordinário, mas sem esses investimentos em saneamento e sem conseguir os benefícios de saúde, não há como impulsionar esse salto”, afirma Ede Ijjász Vázquez, diretor regional de Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial.

Yehude Simon, Comunicador do Banco Mundial

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