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Cerco político ao Facebook nos EUA e na Europa após massivo vazamento de dados

Comissão Federal de Comércio dos EUA inicia uma investigação. Parlamento Europeu convoca o executivo-chefe da rede para depor

O diretor-executivo de Facebook, Mark Zuckerberg, em uma foto de arquivo de março de 2015 em San Francisco.
O diretor-executivo de Facebook, Mark Zuckerberg, em uma foto de arquivo de março de 2015 em San Francisco.JOSH EDELSON (AFP)
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As autoridades europeias e norte-americanas exigem explicações do Facebook sobre a utilização dos dados de 50 milhões de usuários pela consultoria Cambridge Analytica, que assessorou a campanha presidencial de Donald Trump em 2016. Os Parlamentos britânico e europeu convocaram o executivo-chefe da rede social, Mark Zuckerberg, para que preste esclarecimentos, enquanto a Comissão Federal de Comércio dos EUA anunciou a abertura de um inquérito sobre o caso, segundo o próprio Facebook. A tempestade política fez com que as ações da maior rede social do mundo voltassem a desabar.

O vazamento maciço dos dados de 50 milhões de usuários do Facebook, supostamente obtidos de forma indevida pela Cambridge Analytica para influenciar a campanha eleitoral norte-americana em favor de Donald Trump, está provocando um terremoto político nos dois lados do Atlântico.

No Reino Unido, onde a Comissão Eleitoral britânica mantém uma investigação sobre o possível papel da Cambridge Analytica no resultado do referendo sobre o Brexit, o presidente do comitê de assuntos digitais da Câmara dos Comuns, deputado Damian Collins, convocou nesta terça-feira Zuckerberg para prestar esclarecimentos. Na intimação enviada por carta ao fundador e executivo-chefe do Facebook, Collins lhe pede que compareça à comissão para fornecer “provas orais”. “É hora de escutar um alto diretor do Facebook com autoridade suficiente para oferecer uma explicação detalhada sobre esta catastrófica falha de procedimento”, diz o parlamentar, insistindo para que o próprio Zuckerberg preste esse depoimento, “dado seu compromisso, assumido no começo deste ano, de ‘consertar’ o Facebook”. No texto, Collins acusa a rede social de ter “subestimado os riscos” e oferecido “respostas enganosas” à comissão parlamentar quando questionada anteriormente sobre a obtenção, conservação e utilização de dados de seus usuários. A carta estabelece o dia 26 de março como prazo para uma resposta à convocação.

Pouco depois, soube-se que também o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, havia convidado o bilionário empresário do Vale do Silício para dar explicações em plenário. “O Facebook deve esclarecer aos representantes de 500 milhões de europeus que sua informação pessoal não está sendo empregada para manipular a democracia”, disse Tajani em sua conta do Twitter.

Nos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), órgão regulador encarregado da proteção aos consumidores, anunciou nesta terça-feira que enviará ainda nesta semana uma carta à empresa com perguntas sobre o caso Cambridge Analytica.

Rob Sherman, diretor-adjunto do departamento de Privacidade do Facebook, declarou que a companhia “mantém um forte compromisso quanto à proteção dos dados dos usuários”. “Apreciamos a oportunidade de responder às perguntas que a FTC possa ter”, acrescentou. Zuckerberg, fundador da rede social, e Sheryl Sandberg, sua principal subordinada, guardam silêncio. Não obstante, a companhia convocou uma reunião de “emergência” com seus funcionários para analisar a situação.

O Facebook descobriu o desvio de dados há três anos, mas só na sexta-feira passada suspendeu as contas da Cambridge Analytica e de Kogan e se comprometeu a não permitir que a empresa continue mantendo as informações pessoais que acumulou, como identidades, localizações e as curtidas dos usuários. Essa consultoria foi fundada nos EUA por figuras relevantes da campanha de Trump, como Steve Bannon e o mecenas Robert Mercer, mas sua matriz fica no Reino Unido, onde ela é investigada pela suposta interferência da espionagem russa na campanha em prol da saída do país da UE.

O escândalo eclodiu no sábado, nas páginas dos jornais The New York Times e The Observer. Segundo as reportagens, os dados dos 50 milhões de usuários foram compilados a partir do consentimento de 270.000 pessoas que aceitaram compartilhar suas informações como parte de um programa acadêmico. Essa autorização permitiu o acesso aos dados de todos os perfis vinculados com os que deram sua autorização.

Na noite de segunda-feira, novos dados vieram à tona graças a uma reportagem feita com câmera oculta pela emissora britânica Channel 4. Numa série de encontros com altos funcionários de Cambridge Analytica, ocorridos em Londres entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, um dos jornalistas do canal se fez passar por um cliente potencial, um “agilizador” que supostamente queria que a consultoria o ajudasse a posicionar seus candidatos numa eleição no Sri Lanka.

Na gravação, ouve-se o presidente da consultoria, o britânico Alexander Nix, falar de métodos para desacreditar rivais que incluíam o suborno (“Oferecer a eles um tratamento bom demais para ser verdade, e garantir que isso é gravado em vídeo”) e a prostituição (“Mandar garotas para a casa do candidato [rival], acho que isso funciona muito bem”). Um representante da Cambridge Analytica disse que os diálogos foram tirados de contexto e que conversas desse tipo são mantidas com potenciais clientes “para tentar perceber qualquer intenção pouco ética ou ilegal”. Logo depois da exibição da reportagem, ainda na noite de segunda-feira, a Cambridge Analytica anunciou que Nix será afastado do seu cargo até que o escândalo seja esclarecido.

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