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Helicóptero roubado da polícia ataca a tiros o Supremo Tribunal da Venezuela

A aeronave ostentava o cartaz “350 Liberdade”, em alusão ao artigo da Constituição que permite aos venezuelanos ignorar um regime que contrarie as garantias democráticas e os direitos humanos

O helicóptero, durante o ataque ao Supremo.
O helicóptero, durante o ataque ao Supremo.TWITTER/NTN24 VENEZUELA (EFE)

Um helicóptero da Polícia Científica da Venezuela, aparentemente roubado por um ativista da oposição, sobrevoou nesta terça-feira a sede do Tribunal Supremo de Justiça, em Caracas, efetuou disparos e atirou quatro granadas. A Guarda Nacional Bolivariana repeliu o ataque à principal Corte venezuelana, que terminou sem feridos.

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O EL PAÍS confirmou com dois moradores dos arredores que o temerário sobrevoo da aeronave, inédito em 18 anos de era chavista, ocorreu pouco antes das 18h (19h em Brasília) e provocou o pânico entre transeuntes que voltavam para casa àquela hora. A área foi imediatamente isolada, e vários veículos militares rodearam o Palácio de Miraflores, sede da Presidência, no que parece ser um plano para defender o Governo em caso de instabilidade.

O presidente Nicolás Maduro condenou o ataque "terrorista" e prometeu prender os responsáveis “mais cedo do que tarde”. O chefe de Estado relatou que uma das granadas atiradas não chegou a explodir. “Este é o tipo de escalada armada que eu vinha denunciando. Acionei a Força Armada Nacional para defender o direito à tranquilidade. Condeno o ataque e exijo à Mesa da Unidade Democrática [coalizão opositora] que faça o mesmo”, acrescentou, durante um evento no Miraflores.

Mais tarde, o ministro da Comunicação e Informação, Ernesto Villegas, ofereceu mais detalhes sobre o incidente, que ele descreveu como parte de “uma escalada golpista”. Antes de atirar as granadas, o helicóptero, supostamente roubado da base aérea Francisco de Miranda, no coração de Caracas, sobrevoou a sede do Ministério do Interior e Justiça e, sempre segundo a versão do regime, disparou 15 vezes contra a cobertura, onde um grupo de jornalistas comemorava o seu dia – na Venezuela, essa categoria profissional é homenageada anualmente em 27 de junho. Mais tarde, por volta das 18h15 (hora local), a aeronave aterrissou no teto de um edifício residencial no bairro La Trinidad, na zona sudeste da capital. “Esteve 15 minutos na cobertura do condomínio Ríos de Venezuela antes de levantar voo novamente”, contou Yagnai Fernández, moradora desse bairro, à jornalista Marisela Castillo Apitz.

O helicóptero era pilotado pelo inspetor Oscar Pérez e ostentava um cartaz que dizia “350 Liberdade”, em alusão ao artigo da Constituição que permite aos venezuelanos ignorar um regime que contrarie as garantias democráticas e menospreze os direitos humanos. Pérez publicou vários vídeos no Instagram nos quais diz ser parte “de uma coalizão de funcionários militares, policiais e civis contra este Governo transitório e criminoso”.

Pérez foi indicado pelo regime como sendo o piloto do ex-ministro do Interior Miguel Rodríguez Torres, que, como opositor frontal de Maduro, integra uma tendência do chavismo que rejeita a iminente instalação de uma Assembleia Constituinte. O ex-funcionário rejeitou as acusações do Governo no Twitter. “Lamento desmenti-lo novamente, senhor presidente. Sempre voei com helicópteros do Sebin [polícia política] a mando do comissário Pedro Pérez”.

Pérez se define, em seu perfil, como instrutor de voo e investigador da polícia científica. Até o fechamento deste texto, as forças de segurança ainda tentavam localizá-lo, sem sucesso. Antes de desaparecer com rumo desconhecido a bordo do helicóptero, ele deixou como recordação a seus vizinhos o cartaz com o qual desafiou o regime debaixo de suas próprias barbas. Liberdade, 350.

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