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O buraco que engoliu Chris Cornell

Viúva acredita que uso inadequado de remédios contra a ansiedade o levaram ao suicídio

Chris Cornell, em um show em 009 em Landgraaf (Holanda).
Chris Cornell, em um show em 009 em Landgraaf (Holanda).VALERIE KUYPERS (EFE)

Em pleno impacto pela morte do músico Chris Cornell, vocalista dos grupos Soundgarden e Audioslave, que se enforcou no banheiro de um quarto de hotel após um show em Detroit (EUA), na última quarta-feira, sua viúva, Vicky Cornell, publicou um comunicado em que descreveu o suicídio dele como “inexplicável”. “Eu sei que ele amava os nossos filhos e que nunca tiraria a própria vida conscientemente, pelo mal que lhes causaria”, disse. Vicky Cornell suspeita que seu marido perdeu o juízo ao se exceder na medicação que usava contra a ansiedade.

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“Quando falamos depois do show, notei que ele balbuciava. Estava diferente. Disse que talvez tivesse tomado um Ativan ou dois a mais”, contou. Vicky, segunda esposa do músico e mãe de dois de seus três filhos, ficou preocupada e, depois de terminar a ligação, pediu que alguém confirmasse que ele estava bem. O autor da bem-sucedida canção Black Hole Sun (“buraco negro solar”), de 52 anos, uma das principais figuras da geração grunge – a resposta niilista dos anos noventa à tendência comercial do rock –, foi achado morto, com uma cinta ao redor do pescoço.

Kirk Pasich, advogado da família Cornell, queixou-se de que a imprensa está dando como certo que o cantor decidiu se matar, e reiterou que a família tem a convicção de que o artista “não sabia o que estava fazendo”. Chris Cornell havia superado há uma década seu vício em drogas, o mesmo problema que acabou com vários contemporâneos seus do grunge – o mais famoso deles foi Kurt Cobain, que se matou como um tiro em 1994. O vocalista do Soundgarden, que no passado esteve “sempre lutando contra a depressão e o isolamento”, tomava o medicamento Ativan, que serve contra a ansiedade e a insônia, mas que, segundo Pasich, pode ter como efeitos secundários “pensamentos paranoicos ou suicidas, balbucio e alteração do julgamento”. Segundo a agência Reuters, o laboratório Pfizer, fabricante do remédio, não quis fazer comentários a respeito.

Vicky Cornell não mencionou nenhuma anormalidade no comportamento de seu marido nos dias anteriores à sua morte. No domingo, ele viajou de avião para casa a fim e passar o Dia das Mães em família, e na quarta-feira, depois de passar um tempo com os filhos, saiu para Detroit, onde se apresentou pela última vez. Antes do show, falou por telefone com sua mulher sobre seus planos de tirar férias no fim do mês. “Sua morte é uma perda para a qual não encontro palavras (…). Era o meu melhor amigo”, escreveu ela no comunicado. O advogado disse que a família Cornell permanece à espera dos resultados do exame toxicológico.

Espectadores do último show de Chris Cornell vêm descrevendo na imprensa as impressões que o vocalista lhes deixou. As análises acabam sendo confusas. No USA Today, por exemplo, afirma-se que “era óbvio que algo ia mal”, pois o vocalista esquecia as letras e parecia “fraco”, “como se o seu corpo estivesse esvaziado de energia”; já a People o descreve como “mais alegre” de que o habitual. Ambos os relatos, entretanto, apontam um detalhe de mau agouro num comentário de Cornell, que, após elogiar a cultura roqueira de Detroit, disse “ter pena da próxima cidade” no calendário da turnê.

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