_
_
_
_
_

Suspeito do ataque contra o Borussia Dortmund agiu por motivos econômicos

Suposto autor, que foi preso, especulava com uma queda do preço da ação do clube, de acordo com a Promotoria

Ganância. Esse foi supostamente o motivo do ataque contra o ônibus em que viajavam os jogadores do Borussia Dortmund (BVB), cuja investigação deu uma guinada tão inesperada como macabra. Dez dias depois da tripla explosão que feriu Marc Bartra e um policial, a promotoria federal alemã informou que existe um novo preso. É um homem de 28 anos russo-alemão, que sonhava em se tornar milionário mandando pelos ares os jogadores da equipe alemã e derrubando a cotação do clube na bolsa. As novas revelações descartam a motivação terrorista, como consideraram os investigadores no começo.

Ônibus do Dortmund após o ataque em 11 de abril.
Ônibus do Dortmund após o ataque em 11 de abril.Martin Meissner (AP)
Mais informações
Suspeito é detido pelo atentado contra o ônibus do Borussia Dortmund
Justiça alemã diz que radical islâmico detido não tem ligação com o atentado em Dortmund
Sorteio da Champions League: os jogos de Real Madrid, Atlético, Juventus e Monaco

O acusado se hospedou no hotel dos jogadores no mesmo dia em que eles o fizeram, ocupando um quarto no andar de cima. De lá especulou com as ações do clube e jantou com assombrosa frieza, pouco depois dos artefatos explodirem, de acordo com o relato reconstruído pela Promotoria e a imprensa alemã.

Forças especiais da polícia entraram na manhã desta sexta-feira em uma casa em Rottenburg am Neckar, sudoeste da Alemanha. Lá prenderam Sergej W.,o eletricista acusado de tentativa de assassinato, por cometer atentado com explosivos e de causar lesões graves.

A Promotoria detalha em um comunicado que no dia do ataque, 11 de abril, o preso comprou 15.000 direitos de venda de ações do Borussia e planejava especular com sofisticados instrumentos financeiros, os chamados derivados, aproveitando-se de uma previsível queda do preço das ações do clube após o atentado. Sergej W. acreditava que possuía informação privilegiada.

O suspeito comprou três direitos de venda, o pacote mais importante através da direção de IP do hotel L’Arrivée, o mesmo em que se hospedaram os jogadores e do qual saíram minutos antes das explosões. O relato da Promotoria indica que Sergej W. teria contraído um crédito em 3 de abril com o qual financiou a compra do direito de venda a um preço determinado e em um prazo máximo fixado para 17 de junho. O crédito contraído chegava a 40.000 euros (135.000 reais), segundo a revista Der Spiegel, que detalha também que a polícia vigiava o suspeito, que recebeu treinamento militar no passado, há uma semana. O suspeito pensou que após o ataque o valor do clube cairia e ele enriqueceria após ter assegurado a venda de seus títulos a um preço fixado anteriormente. Quanto mais caíssem as ações do Borussia, mais dinheiro o criminoso ganharia, que havia assegurado de antemão um certo preço de venda. De acordo com os cálculos do jornal Bild, Sergej W. poderia vir a ganhar 3,9 milhões de euros (13 milhões de reais).

A imprensa alemã detalha que o suspeito, que é funcionário de uma central de energia, realizou a transação através do banco Comdirect, que alertou a polícia sobre movimentos suspeitos em uma conta. Contatado pelo EL PAÍS, o banco alemão explicou que por razões legais não pode confirmar o alerta, mas afirma que avisam a polícia quando têm suspeitas sobre um caso de lavagem de dinheiro e de terrorismo. As suspeitas podem se dar, por exemplo, caso ocorra uma transação muito elevada.

Um filé

A frieza com que agiu o suposto autor do ataque é assustadora. O suspeito havia reservado em março um quarto no hotel dos jogadores para dois períodos. Um, de 9 a 13 de abril, e outro, de 16 a 20 de abril, já que no momento da reserva não estava clara a data da realização da partida da Champions entre o Monaco e o Borussia, e que acabou sendo adiada por 24 horas depois do ataque. No hotel, ele tinha insistido em obter um quarto com vista para o local do atentado, segundo publica o Bild. O mesmo jornal afirma que o suspeito chamou a atenção dos empregados do hotel depois da explosão. Enquanto os demais hóspedes corriam assustados, Sergei W entrou no restaurante e pediu um filé.

O comunicado da Procuradoria detalha também que os três explosivos foram colocados ao longo de 12 metros na estrada pela qual passou o ônibus. O segundo artefato, porém, ficou um metro acima dos outros e essa elevação evitou que estilhaços de metal impactassem o ônibus em cheio. Ainda não se sabe o tipo de explosivo utilizado. Por ora, não há indícios de que o acusado tenha tido cúmplices no ataque, segundo indicou Frauke Koehler, porta-voz da Procuradoria.

O ataque contra o Borussia deu margem a numerosas especulações sobre a possível autoria nos últimos dias. No lugar das explosões os agentes encontraram três cartas idênticas com uma suposta reivindicação islamista. Os especialistas em terrorismo islâmico logo duvidaram da autenticidade delas. Ainda assim, a pista islâmica foi a que ganhou força durante os primeiros dias, durante os quais foi detido um jovem iraquiano, ex-membro do Estado Islâmico e morador de Wuppertal, localidade próxima de Dortmund. Os investigadores avaliaram ainda a possibilidade de que se tratasse de um hooligan ou um neonazista. “As cartas foram analisadas por peritos islamistas. Existem dúvidas consideráveis sobre uma origem islamista”, indica o comunicado da Procuradoria.

O atentado contra o Borussia de Dortmund, que na Alemanha é quase uma religião, mais que um clube, ocorre em um momento de crescente sentimento de vulnerabilidade entre a população ante possíveis ataques terroristas. Em dezembro, um motorista suicida atropelou e matou 12 pessoas em uma feira natalina em Berlim. Além disso, a segurança se tornou um dos temas da pré-campanha das próximas eleições alemãs, previstas para o final de setembro. É também uma das preocupações que pairam sobre as eleições regionais de maio na Renânia do Norte-Westfália, o Estado onde fica Dortmund.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_