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Argentina tem primeira grande manifestação de apoio ao Governo Macri

Macrismo também vai às ruas como resposta à ofensiva peronista contra o presidente

Manifestação em apoio ao Governo Macri no sábado, em Buenos Aires.
Manifestação em apoio ao Governo Macri no sábado, em Buenos Aires.MARTIN ACOSTA (REUTERS)
Carlos E. Cué

O entorno de Mauricio Macri andava muito preocupado nas últimas semanas porque o presidente havia “perdido as ruas”, um termo que na Argentina indica que as coisas começam a ficar complicadas para o Executivo. Grupos de fiéis ao Governo convocaram através das redes sociais uma manifestação “pela democracia” e a favor do Executivo no sábado e os principais dirigentes do macrismo se desvincularam pela possibilidade de que fosse um fracasso. Mas contra todos os prognósticos foi um enorme sucesso, e em várias cidades argentinas ocorreu a primeira grande mobilização a favor de Macri.

As espetaculares imagens da Praça de Maio e outros lugares importantes do país tomados por pessoas que pedem que se deixe Macri governar significam um apoio inesperado ao presidente a poucos dias da primeira greve geral que seu mandato enfrentará, convocada para quinta-feira 6 de abril.

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Macri e seu Governo insistiram durante os últimos dias que eles não convocaram as manifestações, quiseram se descolar, mas o sucesso sem dúvida será aproveitado para acalmar uma parte importante de seus eleitores, inquietos diante da possibilidade de que o Governo perca as próximas eleições de outubro especialmente porque a economia está demorando mais do que o previsto para se recuperar.

O mês de março foi muito duro para o Governo, com mobilizações e protestos quase diários, mas abril começa de uma forma completamente diferente. Os peronistas, cada vez mais entusiasmados pelo sucesso das últimas manifestações convocadas contra o Governo, em especial a de apoio à greve de professores, já estavam preparados para ridicularizar a marcha macrista.

Os analistas argentinos dão por certo que as ruas são dos peronistas e que Macri se move em outras esferas, em outros setores menos dispostos a saírem para protestar. Alguns dirigentes kirchneristas começaram a enviar fotos de um suposto fracasso poucos minutos após os protestos começarem. Mas as ruas começaram rapidamente a encher muito acima de qualquer previsão. Não foram as maiores marchas vistas por esses lugares, acostumados a mobilizações espetaculares, mas como se esperava um fiasco o sucesso foi muito maior, pelo inesperado.

“Não voltam mais”, gritavam as pessoas em referência a Cristina Kirchner, que recebeu pesados insultos. “Sim é possível”, cantavam, o lema macrista por excelência. “Democracia para todos”, era possível ler em alguns cartazes. “Argentina livre e democrática de pé”, em outros. “Viva a democracia, deixem governar”, gritavam outros. A questão fundamental é essa última mensagem. Muitos macristas acreditam que a queda do presidente está sendo preparada a partir dos protestos das ruas. E saíram para protegê-lo.

Para os argentinos, acostumados que a política seja realizada nas ruas com marchas peronistas que marcam a agenda, foi um protesto um tanto quanto estranho. Nem um pouco parecido com os protestos da oposição. Sem bandeiras, sem os enormes cartazes dos grupos de diversos sindicatos e fações em que está dividido o movimento peronista, sem um palco, sem líderes, sem manifesto, sem cabeceira. Sem começo e sem fim.

Não havia um só político conhecido na marcha, com a clara intenção de mostrar que era uma mobilização autoconvocada. Além de pequenos cartazes feitos à mão, só existiam bandeiras argentinas. As pessoas simplesmente se concentraram nas ruas, cantaram o hino argentino, lançaram gritos contra Cristina Kirchner, a favor da democracia e de apoio ao macrismo. E também lançaram uma mensagem ao Governo para que tome uma posição mais dura contra a oposição e se atreva a entrar no choque político.

Nas ruas de Buenos Aires o protesto foi dominado pela classe média urbana, responsável pela vitória de Macri em 2015, quando conseguiu de forma inesperada derrotar o peronismo graças sobretudo ao desejo de mudança da sociedade após treze anos de kirchnerismo. As pesquisas detectam que o presidente está perdendo apoio, especialmente pela situação econômica ruim e alguns erros e escândalos importantes que afetam sua própria família, mas ainda conserva um respaldo próximo aos 50%, que o transforma em um dos líderes com mais apoio da América Latina.

Muitos pensavam que a chegada de Macri ao poder acabaria com a tradição da política argentina de ser feita nas ruas, de ambos os lados, mas as pessoas romperam essa ideia e demonstraram que no país, há 70 anos acostumado a grandes mobilizações e com um nível de politização inédito no mundo, quase tudo continua sendo resolvido com milhares de pessoas concentradas na Praça de Maio, esse lugar emblemático onde foi escrita toda a história recente argentina, onde está a Casa Rosada, sede do Governo.

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