_
_
_
_

VX, o agente nervoso com o qual Kim Jong-nam foi assassinado

Uma pequena quantidade deste líquido pode causar a morte em questão de minutos

Macarena Vidal Liy
Sul-coreanos veem notícias sobre a morte de Kim Jong-nam.
Sul-coreanos veem notícias sobre a morte de Kim Jong-nam.REUTERS

É um líquido viscoso, semelhante ao óleo de motor, de uma leve cor âmbar, mas sem cheiro nem gosto, por isso suas vítimas podem morrer sem suspeitar que entraram em contato com ele. O VX, um composto com o nome químico de etil-S-2-diisopropilaminoetilmetilfosfonotiolato, é considerado pela ONU uma arma de destruição em massa e sua fabricação está proibida pela Convenção de Armas Químicas, exceto para uso em pesquisa, médico ou farmacêutico. Ele foi encontrado no rosto de Kim Jong-nam, irmão do ditador norte-coreano Kim Jong-un morto na Malásia.

Mais informações
Irmão do líder norte-coreano foi assassinado com arma química de destruição em massa
20 anos na Coreia do Norte: novas armas nucleares, mesmos abusos dos direitos humanos
Emissora de TV divulga vídeo do que pode ter sido o ataque a Kim Jong-nam
Kim Jong-nam, vida e morte cinematográficas

Trata-se, afirma Tong Zhao, analista do Programa de Política Nuclear do Centro Carnegie-Tsinghua, em Pequim, de “um dos agentes nervosos mais tóxicos do mundo”. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, é uma substância mais potente que o gás sarin, o agente empregado pela seita Aum Shinriko em um ataque contra o metrô de Tóquio em 1995 que matou doze pessoas. A Aum Shirinko usou VX contra um funcionário de um escritório em Osaka (norte do Japão) e tentou atacar outras duas pessoas em 1994. O regime sírio possui essa arma química, segundo um relatório dos serviços secretos franceses, vazado em 2013.

Inventado nos anos 50 no Reino Unido e possivelmente empregado durante a guerra Irã-Iraque, nos anos 80, o VX pode matar em questão de minutos, até mesmo em quantidades muito pequenas, inalado, ingerido ou absorvido pela pele. Atua sobre o sistema nervoso de tal maneira que obriga as glândulas e os músculos a trabalhar excessivamente, causando convulsões e dificultando a respiração.

Entre seus sintomas está a visão borrada, alteração da pressão sanguínea, suor excessivo, confusão, dor de cabeça e náusea. Uma intoxicação grave causa convulsões, perda da consciência, paralisia e insuficiência respiratória. “Suas vítimas morrem por asfixia”, explica Zhao. As imagens de um vídeo transmitido pela rede japonesa Fuji TV e que parecem captar o momento do ataque mostram como Kim Jong-nam esfrega os olhos e precisa de ajuda para chegar, cambaleando, à clínica do aeroporto. Ao informar o que tinha acontecido, segundo a polícia, ele mencionou uma forte dor de cabeça e enjoo.

O VX não evapora com facilidade e, uma vez espargido, pode permanecer durante um longo tempo na superfície com a qual entrou em contato. Os assassinos que planejaram a morte de Kim Jong-nam no aeroporto de Kuala Lumpur “demonstraram sua irresponsabilidade”, na opinião de Zhao. “Seria muito possível afetar os viajantes ao redor dele, incluindo os médicos que atenderam Kim”, afirma o especialista.

É uma opinião compartilhada pelo ministro malasiano do Meio Ambiente, Wan Junaidi Tuanku Jaafar, que em declarações divulgadas pela France Press expôs sua indignação pelo fato de os assassinos terem usado um material tão perigoso em espaço público: “Podiam ter causado danos em grande escala a muita gente, ou até a morte.” Esse agente nervoso não é uma substância simples de fabricar. “Requer um certo nível de capacidade científica, não só para produzir o material e manipulá-lo sem ser afetado, mas também para armazená-lo e transportá-lo sem perigo para si próprio”, explica Zhao.

No entanto, embora os Estados sejam os principais agentes com capacidade e conhecimentos para produção desta substância, “não se descarta que outros atores que não sejam Estados” possam contar com o material, afirma o especialista, ao recordar o atentado de Tóquio.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_