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Trump cumpre promessa de campanha e inicia cruzada protecionista

EUA deixam o tratado comercial com o Pacífico e tratado com México e Canadá será renegociado

O presidente Donald Trump iniciou sua primeira semana na Casa Branca com um gesto dirigido aos eleitores da classe operária que o ajudaram a ganhar em novembro e que se sentem prejudicados pela globalização. Trump cumpriu nesta segunda-feira uma de suas promessas, firmando um decreto para retirar os Estados Unidos do TPP, um acordo com onze países da bacia do Pacífico, que exclui a China. Também prevê renegociar o tratado de livre comércio com o México e o Canadá (TLCAN ou NAFTA, na sigla em inglês).

Donald Trump, nesta segunda-feira na Casa Branca.
Donald Trump, nesta segunda-feira na Casa Branca.P. M. MONSIVAIS (AP)

"O que acabamos de fazer é uma grande coisa para os trabalhadores americanos”, disse o presidente enquanto assinava o documento sobre a saída do TPP, ou Associação TransPacífico, no salão oval da Casa Branca.

Na mesma sessão, assinou outra ordem que congela as novas contratações na administração federal, exceto nas forças armadas, e corta ajudas a organizações não-governamentais que promovem ou financiam a informação ou o acesso a abortos no exterior. As ordens executivas são uma maneira para o presidente de marcar a agenda sem a necessidade de passar pelo Congresso.

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A limitação de fundos para as ongs no exterior, a chamada Política de Cidade do México, é uma decisão que desde os anos oitenta adotam todos os novos presidentes republicanos, e depois revogam os democratas. No caso de Trump, que no passado se pronunciou a favor do direito ao aborto, é um sinal aos setores mais conservadores de seu partido.

A primeira ronda de decretos — na sexta-feira assinou outro decreto para facilitar o desmantelamento da lei de saúde — não inclui a renegociação do NAFTA. "Começaremos a renegociar NAFTA, a imigração e a segurança na fronteira", disse Trump no domingo. Em 31 de janeiro, tem previsto se reunir com o presidente mexicano, Enrique Peña Neto.

O protecionismo comercial foi um dos eixos da campanha eleitoral de Trump. O outro foi a mensagem contra os imigrantes mexicanos e muçulmanos. O discurso inaugural, na sexta-feira, teve como leitmotiv America first (América primeiro), um slogan nacionalista e protecionista, contrário à globalização ou ao globalismo, a palavra que, no vocabulário dos ideólogos do trumpismo, define o cosmopolitanismo e o liberalismo que o presidente quer combater.

Tanto a renegociação do NAFTA como a saída do TPP são promessas eleitorais de Trump. Sua rival democrata nas eleições de 8 de novembro, Hillary Clinton, também prometeu em campanha a saída do TPP.

O NAFTA, que une México, Estados Unidos e Canadá em uma área comercial única, foi aprovado em 1994 com o democrata Bill Clinton na Casa Branca. Trump não se retirará do acordo, por ora, mas quer renegociá-lo. O TPP, negociado pelo governo que antecedeu Trump, o do democrata Barack Obama, enfrentava uma dura oposição no Congresso, que teria de ratificá-lo. Obama via o TPP como uma peça central em sua estratégia asiática em relação à China.

As primeiras decisões de Trump marcam uma ruptura com a política de Washington nas últimas décadas. Os EUA promoveram a abertura dos mercados mundiais desde o final da Segunda Guerra Mundial e foram um dos maiores beneficiados dessa política.

Trump rompe com um dos dogmas de seu partido, o republicano, que durante décadas ergueu o estandarte da economia de livre mercado e do livre comércio. Que comece a presidência com a assinatura desses decretos é um sinal de que uma nova etapa se inicia, e nada mais será igual. O novo presidente, um magnata nova-iorquino alheio à política até pouco tempo atrás, transformou o partido de Lincoln e Reagan.

A globalização causou danos, também nos EUA, com o fechamento e transferência de empresas a países de mão de obra mais barata, como México e China. O livre comércio não foi o único responsável, nem certamente o principal. A robotização explica em grande parte a perda de empregos industriais.

As regiões mais afetadas por este fenômeno, no Meio Oeste, foram cruciais na vitória de Trump. O candidato republicano se conectou com um setor do eleitorado, a classe operária branca, que não se sentia protegida pelos dois grandes partidos. Os democratas, historicamente protecionistas e aliados dos sindicatos e da classe operária, se transformaram nos anos noventa, com a assinatura do NAFTA, em defensores do livre comércio.

Além da assinatura de três decretos, Trump dedicou sua primeira jornada presidencial, em dia útil da semana, a se reunir com executivos de empresas e líderes do Congresso.

Pela manhã tomou café da manhã na Casa Branca com os dirigentes de grandes empresas, como Ford, Dell Technologies, Whirlpool, Johnson & Johnson, Lockheed Martin, Dow Chemical, U.S. Steel e SpaceX, entre outras.

Para a tarde estava prevista uma reunião com “trabalhadores americanos”, segundo a agenda oficial. Uma versão anterior da agenda, posteriormente alterada, incluía neste encontro “líderes sindicais”.

Trump também falou por telefone com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. No domingo ele conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

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