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Trump ridiculariza manifestações massivas contra ele e, em seguida, diz respeitá-las

“Por que essas pessoas não votaram?”, escreveu no Twitter, sua plataforma favorita para lançar ataques

FOTO: Trump, no sábado, na sede da CIA. / VÍDEO: A Marcha das Mulheres, em Washington.Vídeo: CARLOS BARRIA (EFE) / EL PAÍS VÍDEO

Donald Trump demonstrou no domingo que, como presidente norte-americano, não vai sossegar. O republicano usou a tática da vara e da cenoura em sua primeira avaliação pública das marchas massivas contra ele em Washington e em outras cidades. O presidente ridicularizou os manifestantes de sábado. Depois, disse respeitar o direito de protestar. Ele o fez em sua conta pessoal no Twitter, que permanece sendo, depois da posse, sua plataforma favorita para lançar ataques e eletrizar seus fiéis.

Se alguém acreditava que, depois de assumir a presidência da primeira potência mundial, Trump deixaria para trás sua retórica insolente e desqualificadora, às 7h47 da manhã de domingo na Costa Leste dos EUA (10h47 de Brasília) ficou claro que esse desejo de moderação se desvaneceu. Também ficou claro que o republicano não renunciará a usar sua conta pessoal no Twitter para intimidar seus detratores.

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Naquele momento, publicou uma mensagem na rede social minimizando as manifestações contrárias a ele: “Vi os protestos ontem, mas tive a impressão de que acabamos de ter uma eleição! Por que essas pessoas não votaram? As celebridades prejudicaram muito a causa”.

Trump não entrou em detalhes, mas insinuou que provavelmente a maioria destes manifestantes votou na democrata Hillary Clinton, sua rival nas eleições presidenciais de 8 de novembro. Um dos cartazes que mais se viu na Marcha das Mulheres, em Washington, foi: “Estou com ela”, um dos slogans eleitorais de Clinton. O republicano chegou à presidência ao vencer no Colégio Eleitoral – a tradução do voto de cada Estado de acordo com sua população – mas a democrata obteve cerca de três milhões de votos a mais do que ele na contagem do voto popular.

Algumas celebridades próximas do Partido Democrata, como Scarlett Johanson ou Madonna, participaram da manifestação em Washington, que lotou a esplanada do National Mall com um número de pessoas semelhante ou superior ao da posse de Trump. É frequente que o republicano arremeta contra essas personalidades, como fez com a atriz Meryl Streep depois desta ter repudiado o magnata na cerimônia dos Globos de Ouro. O republicano mal conseguiu que alguma estrela participasse de sua cerimônia de posse na sexta-feira e do concerto celebração da véspera.

Uma hora e meia depois dessa mensagem no Twitter, o novo presidente publicou outra mais conciliadora: “Os protestos pacíficos são uma marca registrada da nossa democracia. Inclusive se eu nem sempre estou de acordo, reconheço o direito das pessoas de expressar suas opiniões”.

Esse tom conciliador está mais próximo da ortodoxia política, do manual clássico de comunicação para um presidente que enfrenta, em seus primeiros dias no cargo, uma sociedade polarizada por sua eleição. Lembrou o Trump dos dias posteriores às eleições de novembro, quando estendeu a mão aos manifestantes que protestavam contra sua vitória: “Não tenham medo. Vamos recuperar o nosso país”, disse na ocasião. Mas essa aproximação foi efêmera. O bilionário nova-iorquino, cuja falta de correção política deslumbra seus seguidores, manteve o tom de confronto durante boa parte da transição presidencial.

No domingo, Trump evitou entrar no debate sobre se a manifestação de Washington teve mais participantes do que sua cerimônia de posse. No sábado, acusou falsamente e sem fornecer provas os meios de comunicação de querer minimizar o número de pessoas presentes à sua posse. Mas neste domingo salientou, em outra mensagem no Twitter, que mais pessoas acompanharam pela televisão sua posse do que a de Barack Obama em 2013. “Wow, 31 milhões de pessoas assistiram à posse, 11 milhões a mais do que os dados muito bons de quatro anos atrás”, escreveu.

Trump, um ex-showman de televisão obcecado pela imagem pública, recusou-se a revelar que a audiência de sua posse foi inferior à da posse de Obama em 2009. Também à posse de Jimmy Carter (1977), à segunda de Richard Nixon (1973) e à primeira de Ronald Reagan (1981), que tem o recorde histórico, com 41,8 milhões de telespectadores.

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