_
_
_
_
_

Uma boneca inflável para reativar as finanças chilenas

Presente dado ao ministro da Economia no jantar anual de uma associação de empresários levanta o debate sobre o machismo

Rocío Montes
Roberto Fantuzzi, presidente da Asexma, e o ministro da Economia, Luis Felipe Céspedes, com a boneca inflável.
Roberto Fantuzzi, presidente da Asexma, e o ministro da Economia, Luis Felipe Céspedes, com a boneca inflável.EFE

Sete autoridades chilenas, entre elas dois candidatos à Presidência e o ministro da Economia de Michelle Bachelet, posando para fotos alegremente no jantar anual de um grupo de empresários com uma boneca inflável, nua e com um cartaz tampando a boca que diz: “Para estimular a economia”. A imagem da noite de terça-feira na reunião da Associação de Exportadores de Manufaturas (Asexma) gerou um intenso debate no Chile sobre o alcance do machismo e obrigou os protagonistas da foto a pedir desculpas públicas pelo ocorrido, provocando repúdio dos principais representantes do país.

Mais informações
Chile não consegue conter feminicídios
Forçadas a ser mães no Chile
O Chile avança na sua lei de aborto

“A luta pelo respeito à mulher tem sido um princípio essencial em meus Governos. O que aconteceu no jantar da Asexma não pode ser tolerado”, afirmou a presidenta Bachelet no Twitter. A ministra para a Mulher e Equidade de Gênero, Claudia Pascual, também se manifestou na rede social: “Lamentamos esse presente. É preciso estimular a economia, mas não se deve continuar usando mulheres como objeto sexual para piadas machistas.”

Os empresário da Asexma costumam dar presentes curiosos aos convidados do jantar anual. Segundo o presidente da associação, Roberto Fantuzzi, todo ano um comitê de homens e mulheres decide quais objetos serão dados às autoridades que comparecem à cerimônia. Pensando em fazer uma brincadeira, disse Fantuzzi, neste ano ficou determinado que o ministro da Economia, Luis Felipe Céspedes, receberia um brinquedo sexual, aludindo à necessidade de estimular as finanças chilenas num período marcado pela desaceleração. O ministro reagiu alegremente, como mostra a foto.

“Pedimos perdão: tenho esposa, filhas e netas, e a intenção jamais foi gerar violência contra a mulher”, escreveu Fantuzzi no Twitter, onde o escândalo explodiu. O dirigente dos empresários, no entanto, afirmou depois em coletiva: “O fato é grave, mas não para tanto.” Num país onde o aborto ainda é proibido em todas as circunstâncias, onde só agora tramita no Congresso uma lei que prevê punição para assédio nas ruas e onde ocorreram 51 femicídios em 2016, Céspedes teve que se desculpar. “Apesar de ser surpreendido pelo presente da Asexma, peço desculpas. O que ocorreu não condiz com o respeito pela dignidade das mulheres”, disse o ministro da Economia.

Nas fotos, aparecem dois candidatos da centro-esquerda à Presidência: os ex-secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e o senador Alejandro Guillier, o favorito do setor para chegar ao Palácio da Moeda, de acordo com as pesquisas. Ambos festejaram o presente na noite de terça, mas tiveram que reagir e se retratar. “Minha postura contra o machismo e a violência de gênero é antiga e conhecida. Lamento e rejeito o que ocorreu ontem no jantar da Asexma”, afirmou Insulza. Guillier condenou “todo tipo de discriminação e violência de gênero, inclusive a simbólica.”

O brinquedo sexual no jantar anual da Asexma provocou um intenso debate nas redes sociais, onde a maioria dos usuários condenou o presente e a atitude dos protagonistas das imagens. Na quarta, a polêmica ocupou as manchetes de todos os sites dos meios de comunicação locais e de um jornal vespertino. A notícia fez com que organizações feministas e outros candidatos à Presidência do Chile, como os ex-mandatários Ricardo Lagos e Sebastián Piñera, reprovassem a brincadeira. Outra das principais associações de empresários do país, a Confederação da Produção e do Comércio (CPC), adotou uma postura similar: “Ficamos indignados e envergonhados com o que ocorreu na Asexma. Isso não representa de modo algum o pensamento do empresariado”, afirmou seu presidente, Alberto Salas. 

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_