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Trump chama Fidel de “ditador brutal” e enterra a política de Obama

“A história julgará essa figura singular”, diz o presidente Obama, promotor do degelo

Amanda Mars
O presidente eleito Donald Trump
O presidente eleito Donald TrumpEvan Vucci (AP)

A morte de Fidel Castro –na sexta-feira, aos 90 anos– ratificou o fim da era Obama nas relações exteriores. O presidente dos Estados Unidos reagiu com um calculado exercício de equilíbrio: nem críticas nem elogios ao ditador, mas a mão estendida ao povo cubano. Menos de uma hora depois, seu sucessor, o presidente eleito Donald Trump, qualificou o cubano de “ditador brutal” e enterrou a política de seu predecessor nesse velho conflito. O degelo promovido por Obama e Raúl Castro entre o país comunista e seu inimigo yanqui acaba de ser colocado em pedaços. Se isso é definitivo ou não, é difícil de saber com uma criatura tão imprevisível como Trump.

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“Hoje o mundo destaca a morte de um ditador brutal que oprimiu seu próprio povo durante quase seis décadas. O legado de Fidel Castro é caracterizado pelos pelotões de fuzilamento, pelo roubo, pelo sofrimento inimaginável, pela pobreza e pela negação dos direitos humanos fundamentais”, disse no sábado. O texto, muito contundente, prossegue assim: “Cuba continua a ser uma ilha totalitária, espero que o dia de hoje seja um passo para se afastar dos horrores que suportaram durante muito tempo e que avancem na direção de um futuro no qual o maravilhoso povo cubano finalmente viva com a liberdade que tanto merece”.

Seu manifesto depois da notícia, que por caprichos do destino pegou Trump em sua mansão na anticastrista Flórida, aponta claramente para uma mudança radical na atitude da administração norte-americana. Mas essas mudanças e pontos de inflexão na política trumpiana muitas vezes se tornam reversíveis e essa possibilidade deve ser levada em conta agora também.

É necessário perguntar, na prática, no que essas palavras se traduzirão. Voltará a proibir os voos comerciais entre os EUA e Cuba? Endurecerá as restrições às atividades empresariais? Seria mais uma contradição num homem de negócios que nos anos 90 confessou o sonho de construir um dos seus luxuosos hotéis da capital caribenha. “Os cubanos são as melhores pessoas do mundo. Adoraria ajudar a reconstruir o país e devolvê-lo ao seu antigo esplendor. Quando as leis mudarem, estarei disposto a levantar o Taj Mahal em Havana”, disse o Trump empresário nos anos 90, quando o presidente Bill Clinton mudou alguma medida de abertura.

O tipo de anticastrismo de Trump é algo muito recente. Durante as primárias, o então pré-candidato republicano julgou “positivo” a retomada das relações diplomáticas entre os dois países, mas considerou que o acordo não era suficientemente benéfico para os EUA e deveria ser renegociado, ideia que enverniza muitas das posições trumpistas. Mas na reta final da campanha, a posição do atual presidente eleito mudou em busca do voto anticastrista da Flórida e ele disse que iria reverter o decreto presidencial de Obama sobre o país, a menos que o regime de Castro aceitasse novas exigências norte-americanas.

Obama quis deixar em seu legado como presidente dos EUA o degelo nas relações com Cuba e seu comunicado deste sábado reflete essa vontade. “No momento da morte de Fidel Castro, estendemos nossa mão de amizade ao povo cubano. Sabemos que estes momentos paralisam os cubanos –os de Cuba e aqueles que estão aqui– com emoções muito fortes, lembrando as inúmeras maneiras pelas quais Castro alterou o curso de suas vidas, de suas famílias e da nação cubana. A história guardará e julgará o enorme impacto dessa figura singular nas pessoas e no mundo”, disse numa mensagem totalmente calculada.

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