Coalizão dos EUA é acusada de matar dezenas de soldados sírios em um ataque contra o EI
Washington admite que lançou um bombardeio, mas evita confirmar se atingiu o Exército de Damasco
Mais de 60 soldados sírios morreram neste sábado em um bombardeio atribuído à coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra o grupo Estado Islâmico (EI), afirmaram tanto as autoridades russas como as do regime de Damasco. Depois dessa acusação, o Exército norte-americano confirmou que a aviação da coalizão lançou neste sábado um bombardeio nos arredores de Deir Ezzor e considerou possível que alcançasse tropas sírias, mas evitou confirmar oficialmente.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos confirmou o ataque e elevou a 80 a cifra de mortos, embora sem identificar aos aviões que o lançaram. O bombardeio ocorreu perto do aeroporto de Deir Ezzor, no leste da Síria, em uma zona onde as tropas governamentais estão cercadas pelas milícias do EI.
“As forças da coalizão acreditaram que estavam atacando uma posição de combate do EI que vinham seguindo durante um tempo significativo antes do bombardeio. O ataque aéreo da coalizão foi suspenso imediatamente quando funcionários da coalizão foram informados por funcionários russos de que era possível que o pessoal e os veículos atingidos fizessem parte do Exército sírio”, assinalou o Comando Central do Exército norte-americano em um comunicado.
Paralelamente, um funcionário militar norte-americano disse à agência Reuters estar “bastante seguro” de que o ataque atingiu forças sírias. A Rússia, que acusou os EUA de ajudar o EI, e a Síria pediram a realização de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
O objetivo da campanha aérea liderada pelos EUA na Síria, iniciada há dois anos, é atacar posições do EI, não do Exército sírio. Desde o início da campanha, é a primeira vez, pelo menos conhecida, que os EUA atacam forças do Governo sírio. No campo diplomático, Washington continua pedindo a saída do presidente Bachar el Assad para pôr fim a mais de cinco anos de sangrenta guerra civil nesse país.
O Comando Central dos EUA, encarregado da campanha contra o EI, afirmou que a zona do ataque já tinha sido bombardeada pela coalizão no passado e assinalou que a coalizão havia informado à Rússia que lançaria o bombardeio deste sábado, o que pode indicar que Washington responsabiliza, em parte, Moscou pelo possível erro de atingir soldados sírios.
O comando militar explicou que “não é incomum” que os EUA comuniquem à Rússia seus alvos, embora não tenham obrigação de fazer isso segundo o acordo para evitar incidentes entre as forças de ambos. E justificou o possível erro citando a volatilidade do barril de pólvora sírio, no qual há guerras entrecruzadas entre rivais que têm o EI como inimigo em comum.
“A Síria é uma situação complexa, com várias forças militares e milícias perto umas das outras, mas as forças da coalizão não atacariam intencionalmente uma unidade conhecida síria”, assinala a nota. “A coalizão examinará este ataque e as circunstâncias que o cercaram para ver se é possível aprender lições.”
Cinco dias depois da entrada em vigor do cessar-fogo na Síria, os incidentes armados entre as partes em conflito e as divergências entre os Estados Unidos e Rússia, que concluíram há uma semana o acordo, ameaçam a viabilidade da segunda trégua no país árabe desde o início do ano. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, conversaram este sábado por telefone para tentar prolongar a vigência da trégua. Seus respectivos embaixadores se mostraram incapazes de chegar a acordo sobre uma resolução do Conselho de Segurança da ONU na madrugada anterior.
Moscou acusa Washington de não estar cumprindo seu compromisso de conter seus aliados das milícias da oposição síria. Segundo dados do Kremlin, desde que o cessar-fogo entrou em vigor, os rebeldes já lançaram 200 ataques, 55 deles nas últimas 24 horas, matando 12 civis e ferindo outros 40. Os Estados Unidos, por sua vez, responsabilizam as forças russas e as do regime de Damasco pelo bloqueio da ajuda humanitária − que continua retida na fronteira da Turquia − para mais de 250.000 pessoas que permanecem assediadas nos bairros do leste de Alepo controlados pelos insurgentes.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos constatou que ocorreram bombardeios aéreos contra zonas rebeldes nas províncias de Idlib (noroeste) e Deraa (sul) e nas cidades ocidentais do Homs e Hama. Também houve combates no estratégico distrito de Ramusa, em Alepo, e na Duma Oriental, na periferia de Damasco.
O presidente russo, Vladimir Putin, advertiu que os rebeldes estão aproveitando a trégua para se rearmar e reagrupar suas forças. Em um discurso televisionado durante um vista oficial ao Quirguistão, citado neste sábado pela BBC, Putin disse que os Estados Unidos parecem estar mais interessados em apoiar as milícias da oposição do que em cumprir o objetivo pactuado de separá-las dos grupos jihadistas ao lado com quem combatem em conjunto.
Além das forças do Estado Islâmico, as brigadas da Al Qaeda também estão excluídas do cessar-fogo e podem ser legitimamente atacadas. A chamada Frente da Conquista (que abandonou em julho seu nome anterior, Frente al Nusra, e disse renunciar à sua aliança com a Al Qaeda) teve um papel determinante nas batalhas travadas nas últimas semanas em Alepo, juntamente com outras milícias islamistas.
Apesar da oposição de Washington, Moscou insiste em que sejam divulgados publicamente os documentos do cessar-fogo acertado em Genebra, e em que o Governo norte-americano envie tropas para fiscalizar seu cumprimento. “Caso contrário, os EUA serão responsáveis pelo fracasso do plano”, advertiu um porta-voz do comando central russo em declarações à France Presse. As violações desse acordo e o distanciamento entre Rússia e EUA estão pondo em perigo também o pacto assinado pelas duas potências para realizar operações aéreas coordenadas contra os jihadistas a partir do entardecer desta segunda-feira, quando se completará a primeira semana da trégua.
Por outro lado, o escudo israelense contra mísseis interceptou neste sábado, pela primeira vez, dois projéteis lançados por milícias de oposição sírias contra as Colinas do Golan, território sírio ocupado e anexado por Israel depois da guerra de 1967. As baterias e radares do sistema contra foguetes de curto alcance Cúpula de Ferro costumam se ativar quando os ataques ameaçam zonas habitadas. Uma porta-voz das Forças Armadas disse que os projéteis, que presumivelmente se desviaram de sua trajetória, foram destruídos no ar sem que chegassem a causar danos.
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