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Sarkozy duvida da mudança climática em plena campanha

O Governo socialista tacha de retrógrado o ex-presidente e adverte para o perigo de votar nele

Gabriela Cañas

O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy não só endureceu seu discurso contra a imigração e o terrorismo. Em plena campanha para as primárias de seu partido, o Republicano posicionou-se, desta vez mais claramente, no campo do ceticismo climático. “O homem não é o único responsável por essa mudança climática”, disse na tarde de quarta-feira, dia 14, no Instituto de Empresa. “O sr. acha que sabe mais do que a comunidade científica?”, respondeu Barbara Pompili, secretária de Estado da Biodiversidade, que tachou seu discurso de retrógrado. A ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, o comparou ao candidato republicano norte-americano Donald Trump.

Nicolas Sarkozy durante um discurso, na segunda-feira, dia 12, em Provins
Nicolas Sarkozy durante um discurso, na segunda-feira, dia 12, em ProvinsTHOMAS SAMSON (AFP)

Sarkozy ocupa atualmente todos os espaços midiáticos em sua intensa corrida para conseguir ser o candidato da direita à presidência da República. “Organizou-se uma conferência sobre o clima”, disse para os empresários na quarta-feira, referindo-se ao Encontro mundial realizado em Paris no fim do ano passado. “Fala-se muito da mudança climática e é muito interessante”, continuou, “mas faz 4,5 bilhões de anos que o clima muda. O homem não é o único responsável”... “Prefiro que se fale de um tema mais importante: a bomba demográfica. A França deve organizar uma conferência sobre demografia. Nunca a Terra conheceu uma bomba demográfica como a que vai conhecer agora, porque seremos 11 bilhões em poucos anos. Aí sim, o homem é diretamente responsável. E ninguém fala disso.”

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A resposta do Governo socialista foi contundente. “É alucinante”, declarou a ministra Cosse, ex-diretora do Partido Verde. “Sarkozy nos remete a 15 anos. É como Donald Trump. Negar os efeitos do aquecimento global é obscurantismo". Pompili, outra ecologista do Executivo de Hollande, mostrou-se escandalizada nesta quinta-feira com as afirmações de Sarkozy. “Como pode saber mais do que toda a comunidade científica, que hoje está de acordo sobre o fato de que o homem tem uma influência nefasta sobre o aquecimento global? Seu discurso é muito ultrapassado, muito retrógrado, e vai nos fazer perder décadas de avanços.” “É um grave erro”, disse o porta-voz do Governo Stéphane Le Foll.

A centro-direita realiza suas primárias em fim de novembro próximo. Um total de oito candidatos conseguiu apresentar a tempo suas candidaturas ao partido Republicano e Sarkozy está bem posicionado, apesar de o favorito continuar sendo, no momento, o ex-primeiro ministro Alain Juppé, atual prefeito de Bordeaux. A esquerda anunciou suas próprias primárias em janeiro, mas a batalha já começou em todos os níveis. Pompili atribui a isso às declarações de Sarkozy. “Ele tem eleições a ganhar.” Cosse foi além: “Votar em Sarkozy é colocar em perigo a saúde dos franceses e o futuro das novas gerações”.

Segundo os jornalistas da revista Marianne, que assistiram o comício de Sarkozy, este assegurou que o Saara é um deserto há milhares de anos e que isso não é culpa da indústria, uma afirmação que a equipe de campanha do ex-presidente não confirmou.

O Encontro do Clima de Paris foi um sucesso que pode ser creditado ao Governo socialista de Hollande. Os 195 países conseguiram uma acordo histórico que os dois principais contaminadores do planeta, Estados Unidos e China, ratificaram recentemente. “Ninguém queria organizá-lo em função dos fracassos anteriores”, lembrou na quarta-feira outro ex-ecologista do Executivo socialista, Jean-Vincent Placé, agora secretario de Estado da Reforma Administrativa.

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