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Atentado em casamento na Turquia deixa 50 mortos e quase cem feridos

Muitas vítimas eram membros de um partido pró-curdo; suspeitas recaem no Estado Islâmico

Uma das vítimas do atentado.Vídeo: Stringer Turkey Reuters / EFE
Andrés Mourenza

Um novo atentado suicida perpetrado no sábado na Turquia deixou pelo menos 50 mortos e quase uma centena de feridos em uma festa pré-nupcial na cidade de Gaziantep (no sudeste do país). O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apontou o Estado Islâmico como "provável autor" do massacre, que comparou com os recentes atentados do grupo armado curdo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) -que esta semana promoveu mais de meia dúzia de ataques contra diversos alvos-, e com o fracassado golpe militar de 15 de julho. Pouco depois, Erdogan afirmou que o autor do ataque suicida foi um menino, que tinha entre 12 e 14 anos. O atentado na noite de sábado foi o mais letal deste ano -o ataque no aeroporto de Istambul em julho deixou 45 mortos- e um dos mais mortíferos na história da Turquia.

O ataque ocorreu por volta das 22h40 (horário local), em meio a uma "noite da henna" -uma cerimônia tradicional em homenagem à noiva antes do casamento- que estava sendo realizada em plena rua no bairro de Akdere. Essa parte de Gaziantep -um centro nevrálgico do sudeste da Turquia, muito perto da fronteira síria- é conhecida por ter acolhido numerosos deslocados pelo conflito entre o PKK e as forças de segurança turcas desde a década de 1990.

Segundo testemunhas citadas pela rede CNN-Turk, o suposto autor da matança foi até a festa com dois homens de cerca de 25 anos, que teriam fugido depois de o suicida detonar a carga explosiva que carregava. "Muitos cidadãos, incluindo mulheres e crianças, perderam a vida, e muitos outros ficaram feridos", afirmou o Partido da Democracia dos Povos (HDP), que informou que os anfitriões da cerimônia eram membros dessa legenda, a principal curda da Turquia e a terceira em número de cadeiras no Parlamento nacional. "Condenamos quem lançou este ataque e as forças e ideologias por trás de suas ações", acrescentou em um comunicado, no qual explica que os líderes do partido e uma comissão de investigação se deslocarão neste domingo até Gaziantep para recolher provas do ocorrido.

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O governador Ali Yerlikaya havia confirmado pouco depois que se tratava de um atentado terrorista e na manhã deste domingo atualizou o número de vítimas. E Mehmet Erdogan, deputado do partido governamental AKP pela província de Gaziantep, foi um dos primeiros a afirmar que se tratava de uma ação suicida e em apontar o Estado Islâmico como suposto autor, em declarações à agência oficial AA.

"Este jogo canalha que tentam em Gaziantep não vai funcionar. É preciso decifrar as intenções verdadeiras por trás destas provocações à nossa nação. Não vamos comprometer a unidade, a convivência e a fraternidade", disse o presidente Erdogan em um comunicado de condenação. Vários dirigentes do partido islâmico governista fizeram um chamado à população para que "não caia em provocações", pois a convivência em diversas regiões da Turquia tem sido prejudicada por causa da vizinha guerra na Síria e a violenta retomada do conflito curdo, depois do fracasso do processo de paz entre o PKK e Ancara, no ano passado. Desde então, mais de 1.700 pessoas foram mortas nos combates e diversos atentados dos insurgentes curdos, e bairros inteiros de localidades curdas que se haviam rebelado, com armas, em apoio ao PKK, foram arrasados pelo Exército.

Gaziantep é precisamente uma dessas cidades-chave para a convivência, pois nela habitam turcos, curdos e árabes, aos quais se somou um grande número de refugiados sírios chegados durante a guerra civil no país vizinho. Numerosas organizações de oposição síria, incluindo grupos armados islâmicos radicais, têm presença na cidade. O Estado Islâmico também mantém células ativas no local, como demonstram os vários assassinatos de ativistas sírios cometidos nesta e em outras cidades próximas.

Depois do atentado de Gaziantep, vários canais locais informaram que havia escassez de sangue nos hospitais para atender aos feridos, por isso dezenas de pessoas foram até as unidades médicas. Entre a polícia e a multidão reunida nos hospitais - formada por doadores e parentes que pediam notícias sobre as vítimas -houve momentos de tensão e empurrões. Vários agentes deram tiros de advertência para o ar, para dispersar as pessoas.

A Autoridade de Rádio e Televisão Turca (RTUK) impôs uma proibição temporária à mídia, vetando todo tipo de informação "sobre o momento ou as circunstâncias da explosão, o trabalho dos funcionários públicos e os feridos e mortos" com a finalidade de "não criar obstáculos ao esclarecimento do ocorrido e à detenção de suspeitos". Dessa proibição a exceção são "as declarações das autoridades competentes", afirma o órgão em um comunicado divulgado em seu site.

Dezenas de graves atentados nos últimos cinco anos

Andrés Mourenza

20 de setembro de 2011. Ancara: Um carro-bomba explode na avenida Kumrular, no centro da cidade, e mata cinco pessoas e fere 40. O grupo armado curdo TAK se atribui o atentado.

29 de outubro de 2011. Bingöl. Um suicida do grupo armado curdo PKK detona sua carga explosiva no centro desta cidade. Mata duas pessoas e causa ferimentos em 20.

25 de maio de 2012. Pinarbasi. Três militantes do PKK curdo se explodem em um veículo com explosivos nesta localidade da província de Kayseri. Morre também um policial e outras 16 pessoas ficam feridas.

20 de agosto de 2012. Gaziantep. Um veículo-bomba explode diante de uma delegacia no centro da cidade, matando 10 pessoas (na maioria, civis) e ferindo 69. A suspeita recai no grupo curdo TAK.

1 de fevereiro de 2013. Ancara. Um membro do grupo de extrema esquerda DHKP-C se explode no controle de segurança do consulado dos EUA na capital turca, matando outra pessoa e ferindo três.

11 de fevereiro de 2013. Cilvegözu. Um carro-bomba explode nesta passagem fronteiriça entre a Turquia e a Síria, matando 17 pessoas e ferindo 33. Suspeita-se de grupos armados sírios, mas o Governo turco acusa os serviços secretos do regime de Bashar al Assad.

11 de maio de 2013. Reyhanli. Dois carros-bomba explodem matando 52 pessoas e ferindo 146 nesta localidade fronteiriça com a Síria. A suspeita recai no Estado Islâmico e na Frente Al Nusra, mas o Governo turco acusa grupos vinculados ao regime de Damasco.

6 de janeiro de 2015. Istambul. Uma militante do Estado Islâmico se explode na delegacia de polícia turística de Sultanahmet, matando uma agente de polícia e ferindo outra.

5 de maio de 2015. Diyarbakir. Duas bombas em um comício eleitoral do partido pró-curdo HDP acabam com a vida de quatro pessoas. Há mais de uma centena de feridos. Um militante vinculado ao Estado Islâmico é preso.

20 de julho de 2015. Suruç. Um suicida vinculado ao Estado Islâmico se explode em um ato esquerdista pró-curdo e provoca a morte de 34 pessoas e ferimentos em 104.

2 de agosto de 2015. Karabulak. Um militante do PKK curdo entra com um trator carregado com duas toneladas de explosivos em um quartel da gendarmaria da cidade, na província de Agri. O autor do ataque e dois gendarmes morreram. O atentado deixou 24 pessoas feridas.

10 de agosto de 2015. Istambul. Um militante do grupo de extrema-esquerda HS-B se suicida ao volante de um carro-bomba perto de uma delegacia no bairro de Sultanbeyli, explosão que é seguida de um ataque horas depois com armas de fogo. Os três agressores morreram e 10 pessoas ficaram feridas. No mesmo dia, dois militantes do DHKP-C abriram fogo contra o consulado dos EUA em Istambul.

10 de outubro de 2015. Ancara. Dois suicidas ligados ao Estado Islâmico detonam explosivos em uma manifestação pacifista convocada pela oposição de esquerda e pró-curda. O atentado matou 102 pessoas, deixando 400 feridos. Foi o ataque com mais vítimas na história do país.

11 de janeiro de 2016. Istambul. Um militante suicida do EI detona explosivos na praça de Sultanahmet, em Istambul, matando 10 turistas alemães e ferindo outras 15 pessoas.

14 de janeiro de 2016. Çinar. Um caminhão carregado com explosivos é detonado perto de um quartel da polícia da cidade, na província de Diyarbakir, matando seis pessoas — quase todas civis — e ferindo 40. O PKK curdo reconhece a autoria do ataque.

17 de fevereiro de 2016. Ancara. Um militante explode o veículo no qual viajava próximo a vários ônibus de transporte de oficiais e militares. O ataque matou 30 pessoas e 61 ficam feridas. O grupo curdo TAK reivindicou a autoria do atentado.

13 de março de 2016. Ancara. Um homem-bomba se suicidou ao volante de um veículo carregado de explosivos no centro da capital turca. O atentado matou 37 pessoas e feriu outras 125. O grupo curdo TAK reivindicou a autoria do ataque.

19 de março de 2016. Istambul. Um militante do EI se suicida com explosivos na avenida Istiklal, em Istambul, matando quatro turistas e ferindo 36.

7 de junho de 2016. Istambul. Ao menos 11 pessoas morreram quando um carro-bomba explodiu na passagem de um ônibus da polícia próximo ao centro histórico de Istambul. A autoria é reivindicada por um grupo armado curdo.

8 de junho de 2016. Midyat. Cinco mortos em um ataque perto da sede local de segurança de Midyat, no sudeste da Turquia. O atentado foi atribuído ao PKK.

28 de junho de 2016. Istambul. Um ataque liderado por três homens-bomba no aeroporto Atatürk de Istambul deixa 45 mortos e 239 feridos.

1o de agosto de 2016. Bingöl. Cinco policiais foram mortos em um ataque com um carro-bomba contra um veículo policial em uma estrada perto da cidade de Bingöl, sudeste da Turquia.

17 e 18 de agosto de 2016. Várias cidades. Ao menos 12 pessoas foram mortas e mais de 250 ficaram feridas em vários ataques coordenados contra diferentes alvos policiais e militares em diversas cidades do leste e sudeste da Turquia.

20 de agosto de 2016. Gaziantep. Um atentado suicida atribuído ao EI deixa ao menos 50 mortos e quase uma centena de feridos em uma festa de casamento.

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