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Ministro britânico da Economia pede calma em meio ao caos nos mercados

Osborne posterga todos os cortes para o outono, enquanto a libra despenca

O ministro da Economia britânico, George Osborne, na segunda-feira, 27 de junho, em Londres.
O ministro da Economia britânico, George Osborne, na segunda-feira, 27 de junho, em Londres.Stefan Rousseau (AP)

O ministro britânico da Economia, George Osborne, que desapareceu durante o fim de semana mais convulso politicamente da história recente do Reino Unido, reapareceu na primeira hora da manhã de segunda-feira, dia 27, para tentar transmitir calma e confiança aos mercados, depois que o voto por abandonar a UE na quinta-feira passada submeteu o país à incerteza e ao caos político. Boris Johnson também reapareceu pedindo calma em sua coluna no Telegraph. A libra chegou a mínimos históricos e a crise na oposição trabalhista se agrava a limites nunca vistos.

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Os mercados europeus abriram hoje em baixa, influenciados pela ressaca do Brexit. A libra esterlina continua em trajetória de baixa e no meio da manhã sofria uma queda histórica de 3,5% em relação ao dólar, voltando a sua cotação mais baixa em 30 anos: 1,3194 dólares. A Bolsa de Londres operava com uma queda de 1,98% nesta manhã, enquanto que a de Frankfurt e de Paris caíam 2,5%. O índice Nikkei japonês, no entanto, fechou em alta de 2,7%, depois de cair 7,5% na sexta-feira.

O ministro britânico reconheceu que, como alertou durante a campanha, as finanças públicas devem sofrer as consequências do resultado do referendo, no qual os britânicos decidiram, por 51,9% dos votos, que o Reino Unido abandone a União Europeia.“É inevitável que a economia britânica terá de se ajustar à nova situação em que nos encontramos”, disse.

Osborne afirmou que não se retrata das previsões que formulou na campanha e que o Brexit pode levar o país à recessão e custar centenas de milhares de empregos. Mas insistiu que “os fundamentos da economia britânica” são fortes.

No entanto, destacou que adiará o ajuste de 30 bilhões de libras (mais de 150 bilhões de reais) que tinha afirmado que aplicaria de imediato no caso de uma vitória da saída do Reino Unido da UE, por meio de Orçamentos de emergência que submeteria ao Parlamento. Agora diz que esperará até o próximo outono no hemisfério norte (a partir de setembro) —quando um novo primeiro ministro substituir David Cameron depois de sua renúncia na sexta-feira passada— para subir drasticamente os impostos e cortar os gastos públicos em áreas como saúde e educação. Sua ameaça de ajuste de orçamentos depois do Brexit, formulada nos últimos dias da campanha, foi fortemente criticada entre os agora vitoriosos partidários do abandono da UE.

Osborne afirmou que o Reino Unido está em posição “forte” para enfrentar os desafios que a saída representa. Em uma declaração antes da abertura das bolsas, o ministro britânico reiterou que só o Reino Unido tem autoridade para invocar o artigo 50 do Tratado de Lisboa que suporia o início do processo de dois anos —exceto se os parceiros europeus decidissem ampliá-lo— de ruptura com Bruxelas. Como fez o próprio Cameron, Osborne insistiu em que tal artigo não deveria ser invocado até outubro, quando um novo primeiro-ministro assumir o cargo.

Na sexta-feira passada, depois que foram conhecidos os resultados do referendo, os mercados financeiros de renda variável reagiram com quedas generalizadas em todo o mundo. Depois de que se soube da notícia, a libra despencou. Caiu 12% assim que os mercados abriram, um dos maiores tropeços de sua história até chegar aos níveis de 1985. Apesar disso, conforme avançou a sessão, a queda ficou em cerca de 9%. O índice espanhol, Ibex-35, foi um dos mais sensíveis ao Brexit e registrou a maior queda de sua história, a 12,35%.

O ex-prefeito de Londres e líder da campanha pelo Brexit, Boris Johnson, afirmou que “continuará havendo livre comércio e acesso ao mercado comum”, em sua coluna semanal publicada no jornal Daily Telegraph. Johnson, favorito à sucessão de David Cameron depois que anunciou sua demissão em outubro, acrescentou que as mudanças e as reformas devem ser concluídas “sem pressa”. Johnson também respondeu às declarações da primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, ao afirmar que a Escócia se pronunciou recentemente em um referendo sobre sua independência e que não detecta “nenhuma vontade real de que outro seja realizado proximamente”. Sturgeon não só tinha afirmado que será necessário realizar um segundo referendo de independência, como chegou a ameaçar vetar a saída do Reino Unido da UE a partir do parlamento escocês.

Johnson defendeu que a economia britânica está em boas mãos ao afirmar que “a maioria das pessoas sensíveis pode ver que o diretor do Banco da Inglaterra, Mark Carney, fez um trabalho magnífico e agora estará em condições de continuá-lo sem estar na linha de fogo política”. O ex-prefeito de Londres se gabou ao ponderar que o Brexit obteve mais de 17 milhões de votos, acima de que qualquer outra proposta política na história da democracia britânica. O controverso político acrescentou, no fim de sua coluna, que “os cidadãos da UE que vivem neste país terão seus direitos plenamente protegidos, e o mesmo vale para os cidadãos britânicos que vivem na UE”.

Na oposição trabalhista, a manhã de segunda-feira não fez senão aprofundar a crise a limites inéditos e muito difíceis para seu criticado líder, Jeremy Corbyn. A lista de demissões de seu Governo na sombra —a equipe que reproduz os cargos ministeriais na oposição— continua impossível de ser detida.

Corbyn, considerado responsável pelo resultado do referendo pelos membros de seu partido, anunciou esta manhã a remodelação de sua equipe com novas nomeações. O líder trabalhista deve receber uma moção de confiança apresentada por seu partido. Doze membros, em cargos de vários escalões, apresentaram sua demissão esta manhã, seguindo os 12 que o abandonaram ontem. Em um dia e meio, Corbyn perdeu mais da metade dos membros de sua equipe direta.

O próprio Tom Watson, vice-presidente do partido e figura-chave em seu desgastado equilíbrio interno, afirmou que Corbyn perdeu a autoridade sobre o grupo parlamentar, sem pedir expressamente sua demissão. Corbyn não cedeu ao desafio, negando-se a “trair a confiança” dos militantes trabalhistas que votaram nele na contenda pela liderança em setembro. O líder anunciou que, depois das demissões, nomeará uma nova equipe de oposição. “Aqueles que quiserem mudar a liderança trabalhista terão de se submeter a uma eleição democrática na qual eu serei candidato”, disse no domingo, e seus fiéis repetiram durante a manhã. Uma nova batalha pela liderança da oposição, que se somaria à do próprio Governo, parece cada vez mais inevitável.

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