Juiz britânico vê ligação entre Vladimir Putin e a morte do espião Litvinenko
Reino Unido abriu inquérito público no ano passado para investigar envenenamento com polônio-210
Um juiz britânico nomeou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na investigação da morte de um espião russo Alexander Litvinenko em Londres, em 2006. O relatório final, divulgado nesta quinta-feira, defende que Putin “provavelmente” aprovou a morte do espião, que morreu envenenado por polônio-210, um material radioativo, ingerido em uma xícara de chá.
Antes mesmo do início da investigação, no ano passado, o juiz Robert Owen já havia declarado que acreditava haver provas “à primeira vista, da culpabilidade do Estado russo”. Já a Rússia, que é peça fundamental nas negociações sobre a Síria, criticou o inquérito por considerá-lo “politizado” e tendencioso. O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou: “Este assunto não está na categoria daqueles que nos interessam”.
Uma trama da Guerra Fria
O ex-espião da KGB Alexander Litvinenko vivia exilado em Londres desde 2000. O Reino Unido lhe garantiu asilo político depois que ele chegou ao país com sua família – após uma fuga que “não faria feio nas páginas de um thriller”, segundo o advogado da acusação. Litvinenko cumpriu quase um ano de prisão na Rússia por ter denunciado publicamente, em 1998, um suposto esquema de corrupção no Serviço Federal de Segurança russo (SFS, sucessor da KGB). No Reino Unido, ele continuou sua campanha contra Putin e trabalhou para o serviço de inteligência britânico MI6. Segundo o advogado da viúva de Litvinenko, Marina, ele também trabalhou para o CNI espanhol, vigiando as máfias russas que operam na Espanha.
Litvinenko morreu em 23 de novembro de 2006, aos 43 anos, na cama de um hospital em Londres. De seu leito de morte, ele acusou o Kremlin, segundo sua viúva. A Rússia sempre negou sua participação na trama. Três semanas antes de morrer, o ex-espião tomou um chá no hotel Millennium, no centro de Londres, com dois antigos colegas, Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun. A polícia britânica aponta os dois cidadãos russos como suspeitos pelo assassinato. Pouco após a divulgação do relatório, Lugovoi classificou as acusações como "absurdas".
A viúva de Litvinenko conduziu uma longa campanha para que houvesse uma investigação. Em uma entrevista à agência de notícias AFP, no ano passado, ela disse que isso era “a última coisa” que ela pode “fazer por ele”. “Minha luta consistiu em divulgar os fatos. Para mim, o importante é que, no fim, haja uma explicação oficial”.
Para que serve o processo
A investigação pública dirigida pelo juiz aposentado Sir Robert Owen é um exercício indagatório para reunir os fatos em torno do caso. Não é, portanto, um método para encontrar um culpado, como seria em um processo criminoso. Em uma investigação destas características não há partes, sentença, ministério público, defesa ou julgamento. Simplesmente há um um esforço por estabelecer os fatos.
Este tipo de processos, dirigido por um juiz de instrução, com ou sem júri, pretende em linhas gerais obter respostas fiáveis a quatro perguntas fundamentais: a identidade da vítima, como morreu e o local e momento de seu falecimento.
Como indica a página site desta investigação pública, as três primeiras questões não são difíceis de responder. A quarta, o como morreu a vítima, é a que centra as investigações e o processo.
O juiz instrutor de um processo desta natureza, neste caso Sir Robert Owen, é um magistrado independente que tem como objetivo pesquisar as causas de mortes violentas, não naturais ou repentinas das que se desconhecem as circunstâncias. Embora a a maior parte de participantes nestas investigações são advogados, também podem ser chamados a trabalhar médicos por sua vertente forense.
Aqueles que tenham um interesse pessoal, profissional ou econômico na morte pesquisada poderão solicitar sua participação no processo. Com a autorização do juiz instrutor poderão até mesmo interrogar a testemunhas e manifestar sua visão dos fatos.
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