Primeiro-ministro da Romênia renuncia após incêndio em boate
Protestos contra a corrupção e seus escândalos fizeram com que Ponta deixasse o cargo
O primeiro-ministro da Romênia, Victor Ponta, anunciou sua renúncia nesta quarta-feira, após um incêndio numa boate em Bucareste que deixou 32 mortos. Nesta terça, milhares de pessoas saíram às ruas da capital romena exigindo responsabilidades pelo ocorrido num caso repleto de irregularidades. O social-democrata Ponta, que perdeu as eleições presidenciais em novembro para o conservador Klaus Iohannis, já estava numa situação muito delicada dentro de seu partido. Acusado em um sério caso de corrupção, anterior à sua função política, ele já havia abandonado a secretaria do Partido Social-Democrata (PSD) em julho.
“Apresento minha renúncia como primeiro-ministro”, declarou Ponta em discurso exibido pela TV. “Espero que a renúncia do Governo satisfaça as pessoas que estavam nas ruas”, disse, em referência às múltiplas manifestações contra a corrupção e contra o Governo realizadas desde a tragédia na boate Colectiv de Bucareste. Os cidadãos exigem responsabilidades por parte das instituições após o incêndio, num processo marcado por irregularidades e que atrai suspeitas de corrupção. A boate, onde cerca de 500 pessoas assistiam à um show de rock, não tinha autorização para grandes eventos, não contava com as saídas necessárias e usava materiais de construção e isolamento inadequados.
A renúncia de Ponta –que significa a queda de todo o Governo– pode dar lugar a um rearranjo político na Romênia, onde uma coalizão de três partidos de esquerda forma a maioria no Parlamento. O presidente Iohannis deve abrir agora uma etapa de consultas com os partidos para propor um candidato ao cargo, que formará o seu próprio Executivo. No entanto, espera-se que os outros dois partidos apoiem um novo Governo formado em torno dos sociais-democratas.
Ponta, de 43 anos, é acusado de lavagem de dinheiro, cumplicidade em evasão fiscal “de forma continuada” e 17 infrações por falsificação de documentos. Os casos são anteriores à sua época como primeiro-ministro e teriam ocorrido entre 2007 e 2011, quando trabalhava como advogado em seu próprio escritório.
A oposição e membros de seu próprio partido pediram diversas vezes que Ponta abandonasse o cargo, mas este antigo advogado e promotor tinha se aferrado ao posto e prometido que cumpriria o mandato até o final de 2016. Afirmava que as acusações de corrupção faziam parte de uma campanha para derrubá-lo e prejudicar o PSD. “Posso enfrentar qualquer tipo de batalha política, mas não posso lutar contra o povo”, disse hoje Ponta, que previsivelmente continuará no cargo até que o presidente designe um substituto.
“Alguém tinha que assumir a responsabilidade pelo que ocorreu. Este é um assunto muito sério e prometemos uma solução rápida”, declarou o secretário-geral do PSD, Liviu Dragea, após a renúncia de Ponta.
Numa sociedade onde é pouco frequente sair às ruas para se manifestar, a tragédia da Colectiv desencadeou a indignação contra um sistema e instituições repletos de corrupção. A Romênia realiza eleições locais em julho de 2016 e legislativas em novembro, e o PSD teme que a imagem cada vez mais abalada de Ponta e outros escândalos de corrupção de membros importantes prejudiquem o partido, como já ocorreu em novembro, nas eleições presidenciais.
Por ironia, a renúncia de Ponta de certo modo prejudica o dia de glória de seu rival político, Klaus Iohannis, anfitrião nesta quarta-feira em Bucareste de uma pequena cúpula de países do Leste Europeu membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), para fazer frente a Rússia.
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