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Passos apela para a estabilidade de Portugal contra o avanço da esquerda

Bloco de Esquerda oferece apoio ao socialista António Costa se excluir cortes sociais

O socialista António Costa, durante a campanha eleitoral, em Lisboa.
O socialista António Costa, durante a campanha eleitoral, em Lisboa.Armando Franca (AP)

Ou eu ou o caos. A três dias da eleição, o primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho falou pela primeira vez sobre a possibilidade de uma maioria de deputados da esquerda e, também, de que isso seria “a instabilidade”. O alerta na reunião da dupla Passos Coelho (PSD)-Pablo Portas (CDS) chega quando as pesquisas mais recentes mostram um crescimento do Bloco de Esquerda (BE), que até chegaria a empatar com o Partido Comunista.

Embora as pesquisas devam ser vistas com cuidado, é perceptível na rua a boa campanha da líder do Bloco, Catarina Martins. “A alternativa à austeridade não é a ‘austeridade moderada’ do Partido Socialista [PS]”, diz ex-atriz, que fez seu discurso mais calmo e concreto.

O Bloco de Esquerda é a surpresa do cenário político português. Não é Podemos, porque já existia muito antes, mas tem o apoio do partido de Pablo Iglesias. Depois de conseguir 16 deputados em 2009, dois anos depois perdeu a metade para o Partido Comunista. Sempre houve comunicação entre os dois, pois era difícil perceber suas diferenças ideológicas. Os dois contra tudo e com o PS como o pior dos males. Nesta campanha, no entanto, o Bloco se diferenciou dos comunistas: não quer sair do euro e não é avesso a um pacto com os socialistas.

Desafiadora e simpática, Martins provocou o socialista António Costa na frente das câmeras de TV: “Se excluir os 1,6 bilhões de cortes na área social e o projeto de demissão amigável, podemos fazer um pacto”. Costa não respondeu.

Sem resposta

O líder socialista não responde, mas também não ataca os partidos à sua esquerda, sabendo que pode precisar deles para governar. Lança um ramo de oliveira e pede que o critiquem menos, e se voltem ais contra a dupla de centro-direita Passos e Porta, que governaram em coalizão nesses quatro anos de austeridade.

A dança das urnas

A pesquisa estática da Marktest dá a vitória à coalizão governante PSD-CDS, com 41% dos votos; seguido pelo PS, com 28,6%; PC-Verdes, com 9,3%; Bloco de Esquerda, com 8,7%. Foi realizada no início da campanha.

De acordo com a pesquisa do jornal Intercampus/b TVI/Público, a vitória também é do PSD-CDS, 38,4%; seguido pelo PS, 32,1%; PC-Verdes, 8,4%; Bloco, 7,9%.

Na pesquisa diária da Universidade Católica/RTP ganha o PSD-CDS, 39%; seguido por PS. 34%; PC-Verdes, 10%; Bloco de Esquerda, 8%.

Pelo o nível de indecisos nessas duas últimas pesquisas, considera-se um empate técnico se a diferença for igual a ou inferior a 6,2 pontos.

“Não há dúvida alguma de que o BE está aqui para derrotar a austeridade”, respondeu Martins. “Para encontrar novas soluções com quem quiser novas soluções”, acrescentou.

Socialistas, mais o Bloco e o PC poderiam ter maioria absoluta no Parlamento, mas o comunista Jerónimo de Sousa não adere: “Os dois lados querem maiorias absolutas para perpetuar a mesma política de sempre. Para [Aníbal] Cavaco Silva [presidente da República] o importante é salvaguardar a política de direita, independente do ator que estiver no governo.”

Para o veterano líder comunista, os socialistas são “os que desencadearam o ataque contra os trabalhadores”. Lembra que foi Mário Soares que em 1976 aprovou os contratos de trabalho temporários. “Querem que aceitemos os ataques contra os trabalhadores e a Segurança Social”, discursou para sua audiência no cinturão industrial de Oeiras. “Querem que respeitemos a submissão à União Europeia, e vivamos a serviço da dívida? Não contem conosco, temos uma única cara e uma única palavra.” E se isso não bastasse, está o slogan eleitoral deles: “Pessoas sérias”.

As diferenças entre PS, comunistas e Bloco parecem intransponíveis a três dias das eleições. É possível que no domingo haja mais votos e mais deputados de esquerda, mas que isso não se concretize em um governo de esquerda. De todas as formas, Costa respondeu a Passos Coelho: “Comigo não haverá caos”.

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