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Poucas mulheres para falar de mulheres na Assembleia Geral da ONU

Líderes debatem compromissos sobre igualdade de gênero 20 anos depois de Pequim

Silvia Ayuso
Merkel, uma das poucas líderes mundiais mulheres.
Merkel, uma das poucas líderes mundiais mulheres. Seth Wenig (AP)

A primeira Reunião de Líderes Globais sobre Igualdade de Gênero e Empoderamento da Mulher, realizada na sede da ONU no domingo, dia 27 de setembro, durou seis horas. Comprovar quão distante ainda está a paridade, porém, exigia apenas um instante. Cerca de 80 líderes proclamaram seu compromisso firme com uma maior equidade para a metade da população mundial, mas havia apenas uma mulher entre os cinco presidentes do encontro.

A reunião foi realizada depois de 20 anos da histórica IV Conferência Mundial das Mulheres em Pequim, em 1995. Com exceção da diretora executiva da ONU-Mulheres e anfitriã do evento, Phumzile Mlambo-Ngcuka, o restante – desde o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, até os governantes dos países que acolheram as quatro conferências mundiais da mulher realizadas até hoje (México, Dinamarca, Quênia e China) – eram homens, assim como seus antecessores no cargo. Também não eram muitos os rostos femininos na plateia, porque a maioria dos dirigentes são homens.

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A imagem está muito distante da paridade total proclamada como meta para 2030 dentro da nova agenda de Desenvolvimento Sustentável para os próximos 15 anos aprovadas na sexta-feira pela ONU.

Houve avanços desde que em Pequim foi estabelecida uma agenda em favor da plena igualdade de gênero, com mais presença feminina em postos de poder e diretrizes sobre educação, saúde ou conflitos armados mas, como reconheceu o presidente chinês Xi Jinping, “resta muito a caminhar e temos de trabalhar sem descanso em prol da igualdade da mulher”.

Xi anunciou uma doação de dez milhões de dólares para que a ONU-Mulheres continue implementando a Plataforma de Ação de Pequim e programas de capacitação de mulheres em países em desenvolvimento. Mas não fez referência alguma às numerosas feministas chineses caladas mediante repressão e cárcere em seu país.

“Há muitos motivos para a esperança, com os avanços dos últimos 20 anos, mas muitos governos continuam reprimindo os direitos básicos das mulheres”, resumiu a embaixadora norte-americana para a ONU, Samantha Power, que lançou este mês uma campanha para chamar a atenção para 20 mulheres presas em todo o mundo, três delas na China, por seu ativismo. Tampouco os EUA são um exemplo na hora de implementar políticas que garantam uma plena igualdade de gênero, como a licença maternidade remunerada. O presidente Barack Obama não participou do encontro.

“Os direitos das mulheres são também direitos humanos. Não é uma desgraça para a humanidade que tenhamos que continuar afirmando isso?”, perguntou-se a chanceler alemã Angela Merkel, uma das poucas dirigentes mulheres.

“Vinte anos depois, observamos algumas mudanças, mas não chegamos ao nosso destino. Em Pequim se iniciou uma revolução que não chegou ao fim ainda”, afirmou Gertrud Mongella, que dirigiu o histórico encontro na China. E, em meio a uma chuva de promessas pela equidade por parte dos dirigentes, protestou: “Estamos cansadas de ser discriminadas por sermos mulheres”.

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