Al-Sisi indulta os três jornalistas da Al Jazeera condenados no Egito
A anistia, às vésperas de viajar para a ONU, beneficia mais de uma centena de presos
Mais de 600 dias depois de sua prisão no Cairo, o calvário de Baher Mohamed e Mohamed Fahmy, jornalistas da rede em inglês da emissora Al Jazeera, parece ter chegado ao fim. O presidente egípcio, o marechal Abdel Fattah al-Sisi, os indultou por ocasião das celebrações do Eid al Adha, uma das principais festas anuais da religião muçulmana. Al-Sisi concedeu o perdão presidencial a um total de 100 pessoas que cumpriam pena de prisão, entre as quais vários jovens revolucionários sentenciados por violar a rígida lei de manifestações.
Mohamed e Fahmy foram condenados em agosto, com o australiano Peter Greste, a penas de três anos de prisão pela “difusão de notícias falsas”. O julgamento era o segundo ao qual os repórteres eram submetidos depois que um tribunal de apelação anulou no ano passado a primeira sentença, que era ainda mais dura, pois incluía a acusação de “colaboração com um grupo terrorista”. Greste foi deportado para a Austrália em fevereiro, antes do início do segundo julgamento. No meio da tarde, seus dois companheiros radiantes, posaram para uma foto na saída da prisão do bairro cairota de Maady.
Peter Greste declarou sentir-se “encantado” com a notícia. “Mais do que qualquer outra coisa, estávamos preocupados por sua segurança, seu bem-estar... O presidente Al-Sisi deu um passo importante para restabelecer a confiança no sistema. Mas é só um passo parcial”, afirmou o repórter à TV Al Jazeera, ao receber a notícia de seu indulto, na Austrália.
Depois do golpe de Estado de meados de 2013, as autoridades egípcias foram aumentando o assédio aos meios de comunicação que não se limitam a apresentar a versão oficial. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, há uma vintena de repórteres entre as grades no Egito. Entre eles se encontra Mahmud Abu Zeid, um fotojornalista detido em agosto de 2013 enquanto cobria uma manifestação da oposição. Seus advogados denunciaram que deveria ter sido posto em liberdade, pois superou os dois anos de prisão preventiva, o máximo estabelecido pela lei egípcia.
A notícia dos indultos foi já foi publicada na conta do Facebook da presidência egípcia e confirmada pela agência oficial MENA. Entre os presos indultados figuram vários célebres ativistas laicos, como Sana Seif, e a advogada de direitos humanos Yara Salam. Ambas foram condenadas a três anos de prisão por se manifestarem diante do palácio presidencial em junho de 2014 sem permissão do Ministério do Interior, tal como determina uma restritiva lei aprovada depois da ação tumultuada para sufocar os protestos. Serão postos também em liberdade diversos ativistas da cidade de Alexandria condenados pela mesma razão, como Ibrahim Omar Hadeq.
No entanto, não receberão o tradicional perdão presidencial do Eid al Adha outros conhecidos ativistas aprisionados por violar a lei de manifestações. Por exemplo, continuarão atrás das grades a ativista Mahinur al Masry, Alaa Abdel Fattah e Ahmed Maher, fundador do grupo juvenil 6 de Abril. Todos eles são considerados ícones da revolução de 2011, que conseguiu destronar o ditador Hosni Mubarak depois de três décadas de um Governo com mão de ferro.
“Esperaremos para celebrar [a notícia] quando tiver chegado em casa”, escreveu em sua conta de Twitter a escritora Ahda Sueif, tia de Sana Seif, uma das ativistas indultadas. Em suas mensagens, porém, não se esqueceu de Alaa Abdel Fattah, o irmão de Sana, ainda na prisão. “Quando saírem para a rua, celebrem durante uma hora, e logo comecem uma campanha pelos demais”, diz outro de seus tuítes.
O indulto presidencial chegou em um momento muito oportuno para o marechal Al-Sisi: às vésperas de sua viagem à Nova York para participar da sessão anual dos chefes de Estado da ONU. O presidente, que tem governado sem nenhum contrapeso, terá em breve que começar a habituar-se a colaborar com o Parlamento, pois daqui a um mês serão realizadas eleições legislativas no Egito. Não obstante, boa parte da oposição, incluindo a Irmandade Muçulmana, não poderá participar, pois foi posta na ilegalidade.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.