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Os bastidores das fotos de mulheres sírias se libertando do nicabe

Um fotojornalista compartilha no Twitter a chegada de refugiados a um território curdo

Ana Marcos
A imagem que o jornalista Jack Shahine publicou em seu Twitter, reproduzida do vídeo de Shervan Derwish
A imagem que o jornalista Jack Shahine publicou em seu Twitter, reproduzida do vídeo de Shervan Derwish

Vários carros com refugiados sírios alcançam o Curdistão ocidental, a região de maioria curda no nordeste do país, controlada pelo Partido para a União Democrática (PYD). No momento em que cruzam essa simbólica fronteira, começam a sorrir. As mulheres não só mostram sua felicidade rindo e gritando, mas também finalmente tirando as burcas e nicabes que o Estado Islâmico as obrigada a vestir. Essas imagens de alívio e liberdade foram captadas pelo jornalista sírio Jack Shahine e publicadas em sua conta no Twitter desde 2 de junho, onde foram compartilhadas por milhares de usuários.

“No momento que eles chegam a essa região, nos aproximamos, lhes damos água e lhes dizemos que estão a salvo”, conta ao EL PAÍS o fotojornalista sírio. As imagens que têm sido compartilhadas são tiradas do vídeo gravado por Shervan Derwish, um operador de câmera e porta-voz da Operação Vulcão Eufrates, conduzida pelo PYD e pelo Exército de Libertação Síria. Os dois jornalistas fazem parte de uma equipe de freelancers que cobre essa região desde que começou a libertação da cidade de Kobani, outro bastião curdo.

Em um vídeo publicado na edição digital do jornal britânico Daily Mail, as mulheres se levantam na parte de trás das picapes e começam a se livrar das roupas pretas que tiveram que vestir até aquele momento. Debaixo do luto forçado aparecem vestidos estampados e de cores vivas. Seus próprios acompanhantes as ajudam a se soltarem desses trajes que parecem se despedir para sempre voando pela estrada. “Para mim, esses são os momentos que marcam o início da libertação de Tel Abyad”, opina o fotógrafo.

Shahine conta que presencia cenas como essas diariamente, com a diferença de que agora decidiu publicá-las na Internet. “Foi uma grande satisfação comprovar que nosso trabalho está sendo apreciado”, afirma. “Esses homens, mulheres e crianças estão fugindo de Gire Sipi, Tel Abyad e do leste de Kobani, regiões controladas pelo ISIS”, relata.

Na Síria vivem cerca de 2 milhões de curdos, que representam aproximadamente 10% da população e são a principal minoria étnica do país. Durante anos, foram discriminados pelo regime de Bashar al-Assad —e, antes dele, por seu pai, Hafez— que não davam aos curdos os mesmos direitos garantidos à população árabe. Segundo o jornalista, o destino dessas famílias que fogem da guerra civil da Síria que começou em março de 2011 e que se unem aos quase 4 milhões de refugiados contabilizados pela ONU são os países vizinhos, como a Turquia. Ou começar uma nova vida nas casas de familiares nas áreas dominadas pelos curdos.

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