_
_
_
_

Papa Francisco decide abrir os arquivos sobre a ditadura argentina

Francisco trabalha em uma fórmula para divulgar a informação do Vaticano A Igreja foi fundamental porque recebia as denúncias

Carlos E. Cué
O Papa recebeu ontem ao presidente equatoriano Correa.
O Papa recebeu ontem ao presidente equatoriano Correa.REUTERS

O papa Francisco está muito atento à Argentina, recebe semanalmente pessoas relevantes desse país e tem um papel destacado na política nacional, ainda que à sombra. Agora, Francisco decidiu assumir um forte protagonismo no assunto mais delicado, o dos desaparecidos da última ditadura militar (1976-83). O colaborador mais estreito do Papa, Guillermo Karcher, o homem que o Pontífice costuma usar para enviar suas mensagens à Argentina, confirmou em entrevista à Rádio América que Francisco está disposto a abrir os arquivos da Igreja sobre a ditadura argentina e que já está sendo preparada uma fórmula para fazer isso de maneira generalizada. A Igreja foi crucial porque era a ela que chegavam as denúncias das mães e demais familiares de desaparecidos, e é provável que também se conservem as gestões que os religiosos fizeram perante o regime militar.

Mais informações
A sombra do papa Francisco paira sobre a política argentina
A diplomacia americana do Papa, por Carlos Pagni
A voz de Francisco
América Latina apoia Francisco, mas se divide na doutrina
Os ‘lobos’ retornam ao Vaticano
O Papa aposta na periferia

Na semana passada, Ángela Boitano, presidenta do Agrupamento de Familiares de Detidos e Desaparecidos por razões políticas, foi recebida pelo Papa e anunciou que Francisco lhe garantira que os arquivos serão abertos. Mas o Vaticano não quis confirmar nem desmentir. Agora, chega a confirmação oficial, por intermédio de Karcher, formalmente responsável pelo setor de Protocolo e, na realidade, o homem mais próximo de Francisco. “O desejo do Papa é esse, que se faça algo, e para isso encarregou a Secretaria de Estado e começou-se a trabalhar no tema da quebra de sigilo dos arquivos do Vaticano relacionados à ditadura argentina”, disse Karcher à Radio América, de Buenos Aires

Mas essa associação acha que, além disso, o Papa Francisco vai mais longe e colaborará para que a Igreja argentina faça uma autêntica autocrítica de seu papel na ditadura, na qual muitos religiosos colaboraram ativamente com o regime, cujos dirigentes se declaravam profundamente católicos. O Papa, assim que foi nomeado, recebeu críticas de coletivos de direitos humanos por sua atitude em 1976 em relação a dois religiosos de sua congregação que foram sequestrados e depois liberados. Ele sempre defendeu que fez todo o possível para ajudá-los. “A vontade política do Papa é clara, vai abrir os arquivos e vai impulsionar a autocrítica”, assegura Graciela Lois, uma das fundadoras do grupo que pede a abertura dos arquivos ao Pontífice.

“Boa parte da Igreja, não exatamente Bergoglio, foi cúmplice da ditadura. A autocrítica é uma necessidade. Achamos que vai ser feita. E confiamos que a abertura de arquivos será útil para conhecer a verdade. Já se abriram algumas coisa e se houver uma petição de um juiz, eles estão dispostos, mas o importante é que agora vai ser feita de maneira generalizada. Disseram que estão trabalhando nisso”, afirma Lois.

Além disso, neste marco de revisar a história trágica de seu país, o Papa promove a beatificação de alguns sacerdotes assassinados pela ditadura. Karcher assegurou que a abertura de arquivos é um “trabalho muito sério, o de colocar em ordem tudo que é do arquivo do Vaticano para que se faça uma busca e isso possa ajudar muitas pessoas”. “Vai levar tempo”, admitiu Karcher que destacou “como é linda a vontade positiva do Papa de jogar luz sobre muitas situações que ficaram sem explicação”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_