Milhares de estudantes de Hong Kong desafiam Pequim com uma greve
Protesto se soma ao movimento contra restrições ao direito de voto
Milhares de estudantes de Hong Kong iniciaram neste domingo uma greve contra a reforma eleitoral proposta por Pequim para o território. Sob o lema “Desobediência civil: nosso destino em nossas mãos”, 13.000 pessoas, membros de 20 associações universitárias, segundo os organizadores, se reuniram na praça central da Universidade Chinesa de Hong Kong para dar início ao protesto.
Cerca de 400 docentes e funcionários apoiam a greve estudantil. Durante os protestos serão realizadas quase 80 aulas públicas sobre temas como “Gandhi: desobediência civil e democracia participativa”, “O setor financeiro e a desigualdade econômica em Hong Kong” e “Relação entre espaço público e política”.
“Não é simplesmente faltar à aula”, disse Alex Chow, secretário-geral da Federação de Estudantes de Hong Kong. “Aprenderemos fora das salas de aula ao mesmo tempo em que chamaremos a atenção da sociedade para que encare a dura realidade.”
A greve foi convocada em resposta ao anúncio de Pequim, em 31 de agosto, de uma reforma eleitoral para as eleições locais de 2017 em Hong Kong, que impedirá a livre apresentação de candidatos a chefe de Governo. Pequim quer que os aspirantes sejam designados por um colégio eleitoral de 1.200 membros, provenientes de grupos empresariais e profissionais. Um referendo não vinculante realizado em junho, do qual participaram 800.000 dos sete milhões de habitantes da ex-colônia britânica – regida desde 1997 pelo princípio de 'um país, dois sistemas' –, resultou em um contundente apoio à livre indicação de candidatos.
Por que não somos nós, os sete milhões de cidadãos de Hong Kong, que decidimos? Alex Chow
Em um emotivo discurso que abriu a greve, Chow criticou o sistema político: “Por que 170 pessoas nomeadas por Pequim na Assembleia Nacional podem decidir o destino de Hong Kong? Por que não somos nós, os sete milhões de cidadãos de Hong Kong, que decidimos?”.
Chow enfatizou que os universitários reagiram por não verem esperança de obter eleições livres. Embora a batalha se prenuncie árdua e longa, afirmou, o legado do movimento de desobediência civil será importante, com ou sem frutos imediatos, porque do contrário se perpetuará um sistema oligárquico. “Hoje os estudantes assumem a dianteira com uma greve, o prelúdio da desobediência civil, um chamado à sociedade”, disse Chow, associando a iniciativa estudantil ao movimento Occupy Central, que pretende convocar uma ação de protesto em Hong Kong, e cuja reivindicação de sufrágio universal e livre indicação de candidatos coincide com a pauta dos estudantes.
Ao mesmo tempo em que a greve começava, uma delegação de líderes empresariais de Hong Kong se reunia em Pequim com o presidente chinês, Xi Jinping. O grupo liderado por Tung Chee-hwa, ex-chefe do Executivo de Hong Kong e atual vice-presidente da Conferência Consultiva Política da China, está composto por 60 representantes dos setores imobiliário, bancário e industrial. É amplamente entendido que, além de trocar opiniões sobre a economia e os negócios, os empresários também têm dialogado com o presidente Xi sobre a situação política.
Grandes empresários visitam o presidente Xi para debater a crise política
Esse grupo de empresários não só representa uma força econômica dominante em Hong Kong, com importantes interesses dentro da China, como também conta com representação no colégio eleitoral que se encarregaria de designar os candidatos a chefe de Governo local. Trata-se da maior delegação de empresários de Hong Kong recebida em Pequim desde 2003, quando um protesto de meio milhão de pessoas contra uma lei antissubversão provocou a renúncia de Tung Chee-hwa, então chefe do Executivo, e o adiamento indefinido dessa legislação. Pequim considera o setor empresarial como um importante fator estabilizador em Hong Kong, uma cidade não acostumada a protestos políticos.
Enquanto isso, o movimento Occupy Central mergulhou na incerteza depois do revés que o anúncio feito em 31 de agosto por Pequim significou. O empurrão dado pela greve estudantil pode levar seus militantes a finalmente convocarem a ocupação das ruas, uma ação ameaçada há mais de um ano, coincidindo com o 65º aniversário da fundação da República Popular da China, em 1º de outubro.
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