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Um vídeo derruba a cúpula da direita na Câmara de deputados do México

O coordenador e o vice-coordenador do PAN são destituídos depois da divulgação de uma gravação de uma festa

Luis Pablo Beauregard
Imagem capturada do vídeo que mostra um deputado do PAN dançando.
Imagem capturada do vídeo que mostra um deputado do PAN dançando.

Um vídeo conseguiu o que meses de acusações de corrupção não haviam conseguido. Luis Alberto Villarreal, o polêmico coordenador dos deputados da bancada do Partido Ação Nacional (PAN, de direita) na Câmara, foi destituído do cargo pelo dirigente do partido dois dias depois da divulgação de uma gravação de uma festa. Seu auxiliar, o vice-coordenador da bancada, Jorge Villalobos, também foi deposto. Desde novembro de 2013, meios de comunicação mexicanos haviam acusado esses políticos de formar parte de uma trama que cobrava propinas em troca de assinar projetos de orçamentos de obras públicas no Congresso.

Nesta segunda-feira, o jornal Reporte Índigo divulgou um vídeo gravado em janeiro deste ano em uma mansão do balneário de Puerto Vallarta, em Jalisco (no oeste do México) no qual deputados e ex-senadores do PAN estão dançando e bebendo em uma festa com mulheres. Os legisladores estavam na cidade para realizar uma reunião plenária do grupo parlamentar, onde definiriam sua estratégia legislativa diante da agenda de reformas que a direita impulsionou com o Governo de Enrique Peña Nieto. O Reporte Índigo afirma que as mulheres que foram à festa são acompanhantes que trabalham de strippers na cidade turística.

Em uma carta enviada ao diário, o deputado Villarreal destacou que foi como convidado a um “evento privado” que não esteve relacionado com a reunião plenária e negou o “uso de recursos públicos” na festa. “Ofereço minhas desculpas àqueles que tenham lamentado minha participação neste evento”, afirma o deputado. Villalobos, em sua conta no Twitter, apresentou “uma sincera desculpa” a seus amigos e familiares por seu comportamento.

Gustavo Madero, o presidente nacional do PAN, anunciou nesta quarta-feira sua decisão de “renovar” a coordenação e vice-coordenação do PAN. O líder da direita mexicana, que foi reeleito em maio, sofreu um duro golpe ao destituir dois de seus assessores mais próximos. Durante meses, Madero havia se recusado a punir Villarreal e Villalobos apesar do véu de suspeita que os cobria, desde que o jornal Reforma os envolveu em um escândalo de subornos que atingiu o PRI (o partido no poder) e o PAN.

Os jornais Reforma e AM de León, em Guanajuato (o estado natal de Villarreal), publicaram que os prefeitos haviam denunciado que um grupo de parlamentares, entre eles Villarreal, Villalobos e Manlio Fabio Beltrones (o líder do PRI na Câmara de Deputados), lhes ofereceram dinheiro para obras públicas em troca de uma “comissão” e da escolha das construtoras. Madero defendia seus partidários dizendo que “não havia nenhuma prova” e que a informação da imprensa era baseada em “denúncias”.

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O deputado Villalobos, nascido em Chihuahua, foi secretário particular de Madero. Muitos no PAN o consideram um operador do líder do partido. Não é a primeira vez que ele se vê envolvido em um escândalo de gravações (em espanhol). Em maio de 2013, foram divulgados áudios de conversas telefônicas que indicavam suas influências políticas.

Luis Alberto Villarreal é natural de Guanajuato, um estado conservador e celeiro de votos para a direita. Mas o ex-senador e até hoje líder do PAN na Câmara de Deputados não é nem um pouco discreto. Gosta de festas até altas horas da noite em seu apartamento, segundo denunciaram seus vizinhos em uma elegante zona residencial da Cidade do México.

Este episódio aprofunda ainda mais a crise do PAN, um partido fundado em 1939 e que em suas origens foi identificado como uma organização católica. Um de seus principais ideólogos, Manuel Gómez Morín, escrevia nos textos de formação do partido sua intenção de criar uma organização que levasse à política pessoas limpas, que não houvessem sido manchadas pela corrupção.

O que vejo é um processo de degradação e decomposição moral, de corrupção
Felipe Calderón, ex-presidente do México (2006-2012)

Nesta segunda-feira, o ex-presidente do México, Felipe Calderón, do PAN, reapareceu no país para apresentar um livro sobre seu governo (2006-2012). Em uma entrevista na rádio ao jornalista Joaquín López Dóriga, o ex-mandatário dedicou algumas breves palavras à crise atravessada por seu partido. “Me dá tristeza e pena. O que vejo é um processo de degradação e decomposição moral, de corrupção”, destacou.

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