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Messi, a dois passos de Maradona

Argentina vence uma Bélgica sem forças com um gol de Higuaín e volta à semifinal 24 anos depois

José Sámano
Rio de Janeiro -
Di María, Higuaín e Messi comemoram a classificação.
Di María, Higuaín e Messi comemoram a classificação.PETER POWELL (EFE)

Um dia é uma gota de Lionel Messi. No outro, o turbo de Di María. E se surgir a oportunidade, Higuaín acerta um rebote triunfal. Com seus poucos, porém produtivos recursos, a Argentina está aonde não chegava desde Maradona: 24 anos depois está na semifinal. Messi, ainda que vendado, a caminho do divino, com um objetivo marcado a fogo em suas entranhas e na de toda sua nação, não interrompe sua movimentação coreografada nem mesmo se o que acontece em campo esteja um tédio. Diante de uma Bélgica sem forças e tão rudimentar que conseguiu apenas jogar as bolas na área albiceleste, a Argentina ativou Messi, no primeiro tempo, e logo tratou de se defender das bolas aéreas com seus zagueiros. Leo, alheio durante o segundo tempo, foi uma penumbra e não despertou sequer em um duelo com Courtois, já nos últimos instantes, quando a Bélgica intensificava a sua tática. Contra o gigantesco goleiro belga, a Pulga apagou, sem mais nem menos, no estádio de Garrincha. Este é o Messi do Brasil: brilha de vez em quando. Os coadjuvantes se encarregam do resto, como o chute genial de Pipa.

Chegadas as quartas de final, o jogo foi espantado. As equipes estão cansadas, como se o Mundial em solo brasileiro fosse a última página de outra temporada extenuante. A Argentina, que havia perdido Kun Agüero por lesão, ficou sem Di María, que machucou a perna em um chute aos 30 minutos. À Bélgica, faltou vigor, como à França no dia anterior, e até mesmo a Alemanha pareceu mais disposta ao grosso que ao fino.

A Argentina baixou a cortina sobre o que fez Messi desligar. Ele começou ativo e elétrico, passando pelos rivais e com a precisão de um cirurgião na hora de passar a bola. Como no lance que acabou aos pés de Di María, na jogada em que ele se machucou sozinho. A Albiceleste sentiu a ausência de Fideo, que se converteu no jogador mais ardente da Argentina no torneio. A sorte é que Higuaín já havia marcado. Messi conectou Di María, cujo passe bateu em Vertonghen e mudou de direção. Há quem defenda que no futebol o casual é a lógica, e por esse raciocínio, a bola foi na direção de Higuaín, que colocou a bola nas redes de forma maravilhosa, superando Courtois. Um alívio para o Pipa, que ainda não havia marcado. Um atacante sem gols é um pessimista crônico. Mas assim que marca, converte-se no homem mais fiel do mundo.

Antes e depois do gol, a Bélgica, com sua melhor geração de jogadores em 30 anos, esteve tímida, como se a partida já estivesse perdida. O ágil e criativo Hazard escondeu o seu talento. De Bruyne espiava e ia embora. A equipe de Wilmots não pressionava. É um mau presságio quando Fellaini aparece demais, esse jogador com uma selva na cabeça que, se o futebol fosse handebol, só cabecearia. Então, até a próxima. Romero, o goleiro argentino, viveu uma tarde de paz. Como Demichelis, mais firme que Fernández, e Biglia, melhor que o disperso Gago. Com as substituições em relação aos jogos anteriores - Basanta no lugar de Rojo foi por causa de suspensão -, o grupo sul-americano esteve melhor. Inclusive quando a Argentina gastou sua última bala, em grande jogada de Higuaín, que acertou o travessão. Aliás, esse lance quase derrubou o treinador Alejandro Sabella, que esteve a ponto de desmaiar. Exceto por Pipa, até o erro de Messi no mano a mano com o goleiro belga, a única notícia da Argentina era o seu pelotão defensivo.

Chegados os quartos de final, o jogo espantou-se. Às equipes vê-se-lhes fundidos

Wilmots, o treinador dos europeus, disse no fim que seu adversário pareceu uma equipe "média e normal". No futebol, é fácil não ter vergonha. O treinador belga encontrou uma única alternativa, com vários pivôs à frente de Romero, e cruzamento para cá, cruzamento para lá. Hazard, a lâmpada mais brilhante da equipe, assistiu ao bombardeio do banco de reservas. O assunto era especialidade de Lukaku, Fellaini e do zagueiro Van Buyten, postados no muro albiceleste. Muito barulho e nada de proveitoso, exceto por uma chance no fim na qual Lukaku poderia ter complicado a vida de Messi, porque segundos antes não havia sido Messi diante de Courtois, em seu único chute a gol na partida. Soma sete em cinco jogos. Leo não encontra Messi, ou vice-versa, porque com ele nunca se sabe. O fato é que, com umas migalhas próprias e de um ou outro, a Pulga e seus companheiros estão a dois passos de Maradona e sua turma de 1986. Reproduziu os gols de Pelusa quase à risca, com a arrancada contra o Getafe e com a mão diante do Espanyol. Não era uma Copa do Mundo, mas talvez Messi tenha se antecipado. Agora, sem James e Neymar, e a Copa de Maradona a duas partidas de distância, o caminho que Leo tem pela frente está mais livre do que nunca.

Uma lesão muscular separa Di María do resto do torneio

Ele recebeu um passe excepcional de Messi, desses que deixam um estádio boquiaberto. Recortou e armou a perna para o disparo ao mesmo tempo que Vincent Kompany cruzou seu caminho para destruir a oportunidade. Em seguida, Ángel Di María caiu no chão, com as mãos na cara primeiro; no músculo direito depois. Enquanto recebeu a ajuda de Messi, que se aproximou para perguntar por seu estado, a única coisa que pareceu sufocar sua dor foi o saco de gelo colocado assim que ele sentou no banco, já substituído.

A lesão muscular no adutor direito o afastará do Mundial, pois necessitará de ao menos duas semanas de repouso, de acordo com informações dos principais veículos de imprensa argentinos ao acabar o jogo. “Estas lesões são muito caras e vamos ver como está porque Ángel é um jogador importantísimo para nosso grupo”, resolveu Alejandro Sabella, técnico do conjunto argentino depois de finalizar a partida.

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